777 Partners: um perigo para a Premier League?

Ricardo LopesOutubro 2, 20238min0

777 Partners: um perigo para a Premier League?

Ricardo LopesOutubro 2, 20238min0
Ricardo Lopes olha para o perigo que os 777 Partners representam para o futuro da Premier League nesta análise sucinta à situação

Hoje em dia, todos os clubes da Premier League pertencem a uma pessoa ou a um aglomerado. Ao contrário do que acontece em Portugal, onde a maioria das SAD’s pertencem à instituição, em Inglaterra este é um movimento plenamente comum. Apesar disso, não escapa à crítica dos adeptos, no caso de más temporadas.

Já abordámos no Fair Play o caso do Everton FC, liderado por Farhad Moshiri, o testa de ferro de Alisher Usmanov, e que vive uma crise sem precedentes. A solução encontrada foi a venda de 94% das ações que o irano-britânico tem do emblema de Liverpool. A 777 Partners interessou-se praticamente de imediato em executar a compra, algo que fez Moshiri respirar de alívio. Porém, uma transação desta envergadura (550 milhões de libras), não se faz do dia para a noite, além de que tem de ser avaliada por várias autoridades.

Apesar de o Everton ter confirmado o negócio com a 777 Partners, este está sujeito à aprovação de duas entidades: Associação de Futebol da Inglaterra (FA) e da Autoridade de Conduta Financeira (FCA), que estão a “torcer o nariz” com esta movimentação. E possivelmente têm razão em investigar a fundo.

Não vale a pena aprofundar-nos sobre a estrutura da 777 Partners, como nasceu e seus associados, já que entraríamos num labirinto de empresas, que servem de apoio a outras empresas, algo bem explicado pela Josimar Football, neste mês de setembro (https://josimarfootball.com/2023/07/03/the-777-football-mystery/). Foquemo-nos somente na parte ligada ao desporto-rei. Como brinde, podemos contar que Josh Wander, a grande cara da 777 (e co-fundador), foi condenado por tráfico de cocaína, em 2004. O então estudante da Universidade da Flórida, de somente 21 anos foi detido porque a polícia apreendeu um pacote de 31 gramas de cocaína, que estava em seu nome. Em sua defesa, assumiu que era para consumo próprio, dele e de um amigo. Algo estranho para a quantidade absurda da droga.

No futebol, a 777 Partners tem uma série de investimentos em clubes, com diferentes percentagens de ações em cada instituição:

  • Sevilla FC- 12%
  • Hertha BSC- 64,7%
  • Genoa CFC- 99,9%
  • Red Star FC- 100%
  • Standard de Liège- 99,7%
  • CR Vasco da Gama- 70%
  • Melbourne Victory- 70%

A empresa conseguiu construir uma teia com presença em vários continentes, com muitos clubes históricos em suas mãos. Porém, qual é o sucesso destas equipas, na atualidade? Pouco ou nenhum.

Os casos mais conhecidos são os do Genoa e do Hertha. A gestão exercida no Genoa teve a proeza de os descer à Serie B, o clube mais antigo de Itália (entretanto regressados ao principal escalão). Já o Hertha vive dias negativos, despromovido à Bundesliga 2 e ocupando o nono posto da respetiva tabela classificativa (à data da produção deste artigo).

A mais recente aquisição para o seu grupo foi o Vasco da Gama, grande histórico do Rio de Janeiro, com a promessa de assumir os 700 milhões de reais de dívidas e de investir o mesmo valor, até ao ano de 2026.

De facto, o “gigante da colina” recebeu uma série de novos jogadores, como Lucas Piton, Leo Pelé, Dimitri Payet, entre muitos outros. O único problema (além de não estarem bem classificados no Brasileirão) é que ainda não os pagou, ou pelo menos anda a falhar os prazos de pagamento de certos atletas. Club Atlético Tucumán e Club Nacional de Football já apresentaram queixa na FIFA. A direção do clube ainda conseguiu renegociar os prazos com o São Paulo FC devido à falta de pagamento por Leo Pelé, mas é uma situação recorrente e que se verifica em mais equipas do grupo.

Ainda na temporada de 2022/23, o Genoa perdeu um ponto no campeonato porque não saldou uma dívida (imposto de renda), sendo que a Federação Italiana de Futebol (FIGC) afirmou que o histórico tinha capital para a pagar.

Com uma breve pesquisa, verificamos que a maioria das notícias que dizem respeito à 777 Partners não são positivas, que os adeptos não gostam da sua presença (é só ver as tarjas que os adeptos do Red Star colocam no estádio) e que é um grupo do qual se deve desconfiar.

O jornalista Stuart Hodge, após a investigação da Josimar Football, fez uma publicação sobre a presença do grupo na Liga Britânica de Basquetebol, já que os London Lions pertencem ao lote de equipas da teia da 777 Partners, alertando que existe algum risco:

«A comunidade da Liga Britânica de Basquetebol está repleta de crianças e jovens, por vezes vulneráveis. É fundamental que se sintam seguros e a investigação da BBL sobre a propriedade da 777 nos Lions é um passo necessário para garantir essa segurança. As alegações que vieram a lume são extremamente preocupantes e temos de ter a certeza de que os clubes da liga estão a ser geridos por indivíduos e grupos que compreendem a sua responsabilidade para com essas comunidades e que asseguram as salvaguardas necessárias».

É natural que a Premier League não aprove esta transação. Se Moshiri já representa um perigo para o Everton, com todo o histórico que tem por trás, além de estar a afundar a instituição, que passou a ser um membro do grupo que luta pela manutenção, a 777 Partners não representa algo melhor para o futebol do país.

É importante que exista uma entidade reguladora, com capacidade de investigar certos investimentos, em todos os países. O próprio clube, deveria estudar quem o quer adquirir, de modo a não ter surpresas negativas. Moshiri (ou Usmanov) quer somente “livrar-se” do Everton, por isso não lhe importa quais as polémicas em que a 777 Partners está envolvida. Quantos clubes, até mesmo em Portugal, vimos desaparecer devido a empresários polémicos? Nem todos os investidores são como a Red Bull e a City Group (por muitos defeitos que tenham), que geralmente chegam com um plano com vários prazos e tencionam cumpri-lo.

É inevitável a construção de grandes conjuntos de instituições, mas tudo tem que ser estudado. Caso o futuro das equipas fiquem em risco, quem sofre são os adeptos. A Premier League está a tentar evitar isso, será que os outros países terão capacidade para tal?


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