Racismo no desporto: é altura de colocar um ponto final

Francisco IsaacOutubro 13, 20244min0

Racismo no desporto: é altura de colocar um ponto final

Francisco IsaacOutubro 13, 20244min0
Francisco Isaac toca no tema do racismo no desporto e como estas acções têm invadido os estádios todos os dias

12 de Outubro de 2024. Wanda Metropolitano. O Atlético Madrid convidou um grupo de Youtubers para a 2ª edição do “El Partidazo” um jogo que junta jogadores profissionais, Youtubers, influencers e E-Gamers, servindo para angariar fundos para certas causas. Ao minuto 50, o jogo é interrompido porque um adepto decidiu fazer um acto de racismo, levando a que Brawns, SDM e outros influencers decidissem abandonar temporariamente o encontro até que o criminoso fosse removido do estádio.

Novamente. Um jogo amigável, de apoio a certas comunidades e com o objectivo de juntar dois mundos que se complementam cada vez mais, foi quase cancelado porque indivíduos racistas continuam a invadir e a tentar destruir a ampla comunidade construída nos últimos séculos. Inadmissível, inaceitável e de uma vergonha que deveria forçar medidas drásticas por parte das autoridades. O problema é que uma parte dos altos dirigentes e políticos (99% da falange de direita) não atribuem importância a estes actos e optam por desconsiderá-los, dando mais força a quem pratica tais acções. Mas qual a razão para que ainda haja tanta conivência das autoridades e instituições? Porque é um problema das minorias e não da maioria. O problema racial advém desse pequeno enorme pormenor, de que a maioria branca que domina largamente o mundo do desporto e económico achar que essas lutas sociais/humanas são meras distrações ou de que já não são sequer problema nos dias de hoje.

Veja-se o caso de Vinícius, atleta brasileiro do Real Madrid. Goste-se ou não da personalidade e atitude do extremo, a verdade é que os últimos anos têm-se visto inúmeros actos racistas contra o brasileiro, tendo já alguns jogos sofrido suspensões temporárias até que a ordem fosse resposta. Contudo, o que se ouve é que Vinícius provoca as massas adeptas e que isso viabiliza a resposta por parte desses sujeitos, com os actos a não serem motivados pela raça, mas por ser uma simples forma de tentar tirá-lo da sua zona de conforto. Quem vocaliza tais afirmações e ideias, está simplesmente a investir nos racista e a incentivar que esses adeptos tenham o direito de se manifestar da forma que desejarem, sem consequências. Noção é necessária, e uma dose grande diga-se. Vários atletas com origem africana têm vindo a público falar de como em certos estádios é contínuo este tratamento, existindo clubes que têm dado carta branca aos seus adeptos para se manifestarem sem limites.

Viu-se com Javier Tebas a abanar os ombros, mas também já se viu como Gianni Infantino permitiu que o Catar ganhasse uma candidatura a organizar um Mundial. É que depois ouvem-se também frases do género “ah e isto é só cancelar pessoas como se quer e bem entende”. Caros, os sujeitos que se dizem cancelados são aqueles que se ouvem mais, com os racistas a poderem sair hoje à rua livremente e a irem para a televisão discursas como se fossem a novidade predilecta da maioria da imprensa. Quem está preocupado com as consequências que um potencial agente nocivo à sociedade pode sofrer, é alguém que no seu âmago também aloja algumas ideias similares, estando já preocupado com o dia em que possa ser exposto.

O problema vai mais fundo e até é visível quando alguém, num acesso de fúria porque um dado jogador fez um erro ou cometeu uma falta, atira um insulto racista ligado à cor de pele. Isto é repetido em todos os estádios e a larga maioria simplesmente encolhe os ombros e permite que este tipo de cuspidelas gramaticais ganhem corpo e forma. O desporto e a vida social contemporânea não podem continuar a permitir que estes sujeitos saiam impunes, sob o espectro de recuarmos décadas de desenvolvimento e progressão social significativas. Exige-se que quem dirige o desporto tenha essa noção e ponha fim ao racismo, xenofobia, homofobia, misoginia que vão tentando ganhar forma pelo mundo fora, mesmo que isso signifique fazer uma purga a certos tipos de adeptos que não merecem sequer estar sentados dentro do estádio enquanto não conseguirem fazer uma introspeção e evoluir.

Todos merecemos mais e melhor, e lá porque uns quantos sentem (erradamente) que estão a ser substituídos, não significa que a maioria tenha de aceitar tais ideias ou acções. O desporto é hoje em dia uma forma de educar a sociedade e pede-se que os seus principais agentes hajam da forma correcta de forma a colocar um ponto final neste capítulo negro da história da humanidade.


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