Racismo no desporto: é altura de colocar um ponto final
12 de Outubro de 2024. Wanda Metropolitano. O Atlético Madrid convidou um grupo de Youtubers para a 2ª edição do “El Partidazo” um jogo que junta jogadores profissionais, Youtubers, influencers e E-Gamers, servindo para angariar fundos para certas causas. Ao minuto 50, o jogo é interrompido porque um adepto decidiu fazer um acto de racismo, levando a que Brawns, SDM e outros influencers decidissem abandonar temporariamente o encontro até que o criminoso fosse removido do estádio.
Novamente. Um jogo amigável, de apoio a certas comunidades e com o objectivo de juntar dois mundos que se complementam cada vez mais, foi quase cancelado porque indivíduos racistas continuam a invadir e a tentar destruir a ampla comunidade construída nos últimos séculos. Inadmissível, inaceitável e de uma vergonha que deveria forçar medidas drásticas por parte das autoridades. O problema é que uma parte dos altos dirigentes e políticos (99% da falange de direita) não atribuem importância a estes actos e optam por desconsiderá-los, dando mais força a quem pratica tais acções. Mas qual a razão para que ainda haja tanta conivência das autoridades e instituições? Porque é um problema das minorias e não da maioria. O problema racial advém desse pequeno enorme pormenor, de que a maioria branca que domina largamente o mundo do desporto e económico achar que essas lutas sociais/humanas são meras distrações ou de que já não são sequer problema nos dias de hoje.
Veja-se o caso de Vinícius, atleta brasileiro do Real Madrid. Goste-se ou não da personalidade e atitude do extremo, a verdade é que os últimos anos têm-se visto inúmeros actos racistas contra o brasileiro, tendo já alguns jogos sofrido suspensões temporárias até que a ordem fosse resposta. Contudo, o que se ouve é que Vinícius provoca as massas adeptas e que isso viabiliza a resposta por parte desses sujeitos, com os actos a não serem motivados pela raça, mas por ser uma simples forma de tentar tirá-lo da sua zona de conforto. Quem vocaliza tais afirmações e ideias, está simplesmente a investir nos racista e a incentivar que esses adeptos tenham o direito de se manifestar da forma que desejarem, sem consequências. Noção é necessária, e uma dose grande diga-se. Vários atletas com origem africana têm vindo a público falar de como em certos estádios é contínuo este tratamento, existindo clubes que têm dado carta branca aos seus adeptos para se manifestarem sem limites.
Vinicius Jr says racism is "normal" in La Liga after crowd chants during Real Madrid's match in Valencia 🇪🇸 pic.twitter.com/WrptDZ4Els
— Sky Sports News (@SkySportsNews) May 21, 2023
Viu-se com Javier Tebas a abanar os ombros, mas também já se viu como Gianni Infantino permitiu que o Catar ganhasse uma candidatura a organizar um Mundial. É que depois ouvem-se também frases do género “ah e isto é só cancelar pessoas como se quer e bem entende”. Caros, os sujeitos que se dizem cancelados são aqueles que se ouvem mais, com os racistas a poderem sair hoje à rua livremente e a irem para a televisão discursas como se fossem a novidade predilecta da maioria da imprensa. Quem está preocupado com as consequências que um potencial agente nocivo à sociedade pode sofrer, é alguém que no seu âmago também aloja algumas ideias similares, estando já preocupado com o dia em que possa ser exposto.
O problema vai mais fundo e até é visível quando alguém, num acesso de fúria porque um dado jogador fez um erro ou cometeu uma falta, atira um insulto racista ligado à cor de pele. Isto é repetido em todos os estádios e a larga maioria simplesmente encolhe os ombros e permite que este tipo de cuspidelas gramaticais ganhem corpo e forma. O desporto e a vida social contemporânea não podem continuar a permitir que estes sujeitos saiam impunes, sob o espectro de recuarmos décadas de desenvolvimento e progressão social significativas. Exige-se que quem dirige o desporto tenha essa noção e ponha fim ao racismo, xenofobia, homofobia, misoginia que vão tentando ganhar forma pelo mundo fora, mesmo que isso signifique fazer uma purga a certos tipos de adeptos que não merecem sequer estar sentados dentro do estádio enquanto não conseguirem fazer uma introspeção e evoluir.
Todos merecemos mais e melhor, e lá porque uns quantos sentem (erradamente) que estão a ser substituídos, não significa que a maioria tenha de aceitar tais ideias ou acções. O desporto é hoje em dia uma forma de educar a sociedade e pede-se que os seus principais agentes hajam da forma correcta de forma a colocar um ponto final neste capítulo negro da história da humanidade.