Puro Lucho!
Luis Óscar González. Um nome que para muitos pode não ser familiar. Porém se trocarmos o Luis Óscar por Lucho, sua alcunha, o caso muda de figura.
Lucho foi e ainda é um dos nomes mais sonantes do universo portista e do Futebol Portugues. Pode despertar diferentes sentimentos aos rivais do FC Porto, mas o seu talento nunca foi contestado nem desvalorizado. Pelo menos não que eu tenha conhecimento.
Além das suas qualidades futebolísticas, Lucho tinha um visual à la Che Guevara que admito, invejava. Mas deixemos os gostos capilares de lado e vamos lá falar um pouco deste astro argentino que encantou até Deschamps quando foi seu treinador no Marselha, comparando-o a Zidane.
Foi formado no Huracán, onde estreou aos 19 anos, porém logo veio um amargo de boca. Nesse ano sua equipa desceu de divisão. Certamente este acontecimento fortaleceu o seu espírito de luta, pois no ano seguinte, ajudou o clube a subir ao máximo escalão argentino. E como sabemos, jogadores com requinte técnico e perfume de craque, acabam sempre a jogar no Monumental. Em 2002 veio a mudança para o River e com isso o reconhecimento continental e vários títulos, claro!
Nos Milionários ganhou dois Clausura (2003 e 2004), sendo uma das grandes figuras deste River e partilhando o relvado com jogadores como Mascherano, Gallardo, Marcelo Salas e um outro nome conhecido dos portistas, Ernesto Farias.
Figura central desta equipa, logo foi chamado pelo “loco” Bielsa para a seleção principal da Argentina. E com a classe e maestria que conhecemos, Lucho vai à Copa América de 2004, chega à final, mas perde com o Brasil apenas nas grandes penalidades, num jogo épico, 2-2 no tempo regulamentar. Recomendo aos leitores que revivam esse jogo maravilhoso!
Apesar de ter sido convocado para o mundial de 2006 na Alemanha, o seu único troféu e ponto mais alto pela Argentina, segundo o próprio, foi nas Olimpíadas de 2004 em Atenas, onde venceu a medalha de ouro, jogando os 90 minutos de todos os jogos desta competição.
Depois disso, a Europa era o seu destino. E quiseram os “deuses” do futebol que fosse o FC Porto a sua porta de entrada.
Quando chegou à cidade invicta no verão de 2005, muito prontamente percebemos a joia que tínhamos buscado ao River Plate. Para terem uma noção, Lucho não precisou de tempo de adaptação. Foi chegar, ver e vencer. Literalmente!
Algo pouco habitual nos sul-americanos. Vejamos um caso contrário e no próprio FC Porto: Diego Ribas demorou a se afirmar, se é que se afirmou verdadeiramente no Porto. E não me interpretem mal, tinha qualidade, mas por força das circunstâncias e das escolhas táticas dos treinadores da época, não se adaptou como o astro argentino.
Na sua época de estreia em Portugal, Lucho disputou um total de 40 jogos em todas as competições, com 12 golos marcados, também em todas as competições. Números assombrosos para um médio construtor. Tinha uma visão de jogo fora do normal e simplificava o jogo como ninguém. Mesmo nos momentos mais aflitivos, dava sempre a bola de forma perfeita. Era dono de um passe extraordinário, seja curto ou longo. Farias, Lisandro, Falcão ou Gignac que o digam. Além disso, tinha golo. Quem não se lembra do incrível golo que marcou ao Hamburgo na Champions de 2006/2007?
Apesar de não ser um 10 de maneira tradicional, era um médio mais completo. Equilibrava a equipa nos momentos chaves, sendo também o homem responsável pela construção de jogo.
No FC Porto foi Tetracampeão (2005/2006, 2006/2007, 2007/2008 e 2008/2009) e ganhou por duas vezes a taça de Portugal (2006 e 2009). Tornou-se assim um ícone por direito. E mais do que isso, é um dos poucos estrangeiros a conseguir envergar a braçadeira de capitão. É daqueles jogadores “à Porto” que tanto gostamos.
Mesmo depois de ter saído do Porto em 2009 para matar um jejum de títulos em Marselha, que durava desde 1993 com a conquista da Taça dos Campeões Europeus, Lucho encantava a França mas a França não o encantou assim tanto, e após 2 anos, quis voos mais altos.
Algo que não veio a se realizar, por detalhes, já que teve uma proposta do Arsenal de Wenger e de um Málaga que estava a crescer na altura por um forte investimento à época.
Dada as circunstâncias, porque não voltar para um lugar onde foi muito feliz???
Assim feito, voltou à equipa portista no mercado de inverno de 2012 para ajudar o FC Porto a ser campeão novamente. Algo que sempre soube fazer. Com uma disposição física inferior ao que já tínhamos visto em Portugal, Lucho acrescentou experiência a uma equipa do FC Porto muito debilitada em termos de liderança.
Nesta segunda passagem conseguiu conquistar mais dois títulos (2011/2012 e 2012/2013).
Na última época completa pelos dragões, Lucho fez 44 jogos com 10 golos em todas as competições. A meio da época 2013/2014, despediu-se para ir para o Catar representar o Al- Rayyan. Dando assim o último adeus como jogador em Portugal.
Contudo os títulos, esses não paravam de chegar.
Após a sua experiência pelas Arábias, volta ao seu River para ser campeão da Libertadores em 2015 com o seu antigo colega de equipa como treinador, Marcelo Gallardo.
Ainda com sede por mais, vai experimentar o campeonato brasileiro, através do Athletico Paranaense e é campeão da Sudamericana em 2018. Em 2019, repete a dose ganhando a Copa do Brasil.
Em 2021, “El Comandante” encerrou a carreira de jogador aos 40 anos com uma certeza. Foi feliz por onde passou e nos fez felizes também.
Símbolo de títulos e conquistas. Dono de uma visão de jogo excepcional. Golos memoráveis.
Puro “Lucho” de quem o viu jogar!