Os valores e principios aprendidos por Paulo Meneses com Del Bosque
Na Agrupación Deportiva de Alcorcón e no Escuela Deportiva Moratalaz.
Seguindo um pouco, a linha do Diário anterior, onde falamos dos Princípios e Valores no Desporto, no Futebol, Valores e Princípios esses por influência (também) de um dos Treinadores Adjuntos de Vicente Del Bosque – Javier Miñano.
Tinha-o referido no Diário anterior, e não é demais repetir.
O que realmente foi MAIS importante para mim – durante a minha estadia em Espanha – foram os Princípios e Valores que me fizeram crescer como Ser Humano e que creio, fizeram de mim melhor pessoa, nomeadamente os que aprendi, que confirmei, que desenvolvi durante todos estes anos com a relação profissional e de amizade com Javier.
Repito também, há, para mim, Valores e Principios (características) imprescindíveis e deverão ser os pilares de um Treinador de Futebol, tais como a humildade, a autenticidade, a pureza, a honestidade, a frontalidade, o FAIR PLAY, o respeito pelo outro e pela humanidade e o saber estar, entre outras…
Inicio este Diário referindo os Princípios e Valores, porque foram as bases de tudo o que consegui em Espanha.
Quando eu ia à Ciudad de Fútbol da Real Federación Española em Las Rozas – Madrid para realizar os trabalhos referentes a alguns projectos em que estive envolvido (Estudos sobre Seleções Jovens e Seleção “A”; Preparação e Planificação da Taça de Confederações Brasil 2013; Campeonato do Mundo Brasil 2014 e Campeonato Europeu França 2016), estes sempre foram as bases da minha postura.
Quando estava na bancada a observar o treino, quando estava no escritório do staff do Vicente Del Bosque, ou mesmo quando estava no mesmo espaço que os jogadores internacionais da Seleção Espanhola.
O “saber estar”, sempre me deu vantagens em tudo o que fui vivendo.
O “saber estar” abarca e implica, o “saber escutar”, “saber o que falar” e “quando falar”.
O mesmo “saber estar”, assim como também os Valores e Princípios que referi atrás, como sendo os pilares de qualquer Treinador, abriram-me portas também no AD Alcorcón e ED Moratalaz.
Agrupación Deportiva de Alcorcón
No que diz respeito ao AD Alcorcón, foi uma experiência fantástica. Em termos de clube, era a 1ª experiência fora de Portugal. No AD Alcorcón estive em várias equipas
Juniores “C”
Subida à División Nacional. Só o Real Madrid “C” e a nossa equipa é que éramos Juniores de 1º ano (“C”). Todas as restantes equipas eram Juniores de 2º e 3º ano. O Real Madrid, treinado por Morientes, ficou em 1º lugar e nós ficamos atrás, subindo de divisão. Foi a 1ª vez que o AD Alcorcón teve uma equipa de Juniores “B” na División Nacional.
A Pré Época foi fantástica. Jogamos um amigável contra o Atlético de Madrid, em nossa casa e ganhamos 3-2. Foi um feito enorme, porque essa mesma equipa, tinha perdido para o campeonato os dois jogos (fora e em casa) por números expressivos, com o Atlético Madrid. Também, fomos empatar 1-1 na Ciudad Deportiva do Rayo Vallecano. Muito positivo também, porque na temporada passada tinham perdido ambos jogos para o campeonato.
As expectativas, eram enormes. Pais, adeptos, dirigentes, jogadores tinham enormes expectativas sobre a nossa equipa depois de uma pré-época surpreendente.
Primeiro jogo para o campeonato, foi fora de casa em Alcalá de Henares: “levámos” 4-0 !!! Foi um grande balde de água fria, depois de uma pré-época excelente a todos o níveis.
De destacar que, houve gente, dentro do clube que duvidou da Metodologia de treino utilizada na pré-época… não vacilei, não liguei à pressão, não mudei nada, simplesmente continuei a dar confiança aos jogadores. Conclusão: Subida de divisão no final do campeonato.
De referir que tivemos um jogador que chegou à Seleção Espanhola Sub19. Foi um feito inédito, porque, em Espanha, existem umas 30 Canteras com mais condições de projectar jogadores para chegarem às seleções nacionais espanholas. Até mesmo em Madrid, o AD Alcorcón é o 6º Clube. Real Madrid, Atlético Madrid, Rayo Vallecano, Getafe e Leganés são os clubes do momento a nível de estrutura, orçamentos, etc.
Mas mais uma vez, fica provado que é possível fazer muito e bem, com poucos recursos.
Por isso, subir com os Juniores “C” e colocar um jogador nosso na Seleção Nacional Sub19, foi algo extraordinário.
Também, um outro feito que esta equipa teve, foi o empate que tivemos em nossa casa contra o Real Madrid 0-0. De referir que realizamos um jogo tremendo (a todos os níveis), e que tivemos as melhores oportunidades de golo.
Dominamos e controlamos grande parte do encontro. Esta equipa era bastante unida e competia muito muito bem. Penso ter sido um ponto importante na nossa caminhada para a subida de divisão, porque a equipa começou a acreditar mais em si a partir desse resultado e exibição.
Infantis “A”
División de Honor (máxima divisão do escalão). Conseguimos a manutenção de uma forma tranquila. Era uma equipa com alguns miúdos talentosos. Um jogo que me está na memoria, foi um empate 1-1 em Valdebebas contra o Real Madrid. De referir que, em Valdebebas as equipas que vão lá jogar, ficam deslumbradas com as instalações (10 mini estádios). Ou seja, para preparar os jovens para competir contra o Real Madrid em sua casa, é uma tarefa muito difícil, nomeadamente, no plano mental. Porque os miúdos, ficam “hipnotizados” antes do jogo começar.
Mas com uma preparação mental durante a semana, transmitindo uma grande dose de confiança, e apelando à irreverência dos nossos jogadores, realizamos um jogo fantástico e sacamos 1 ponto.
Alcorcón “B”
A equipa “B” do Alcorcón jogava (e joga) na 3ª Divisão Nacional de Espanha.
Nessa altura, a equipa encontrava-se em posições de descida na tabela classificativa. Nico (Director Desportivo nesse momento – agora Director Desportivo do Getafe da 1ª Liga) e Kike (Vice Presidente do Alcorcón) convidaram-me para treinar a equipa até eles arranjarem treinador. Nesse momento não tinha o nível de treinador suficiente para poder ser o Treinador de uma equipa da 3ª Divisão Espanhola, por isso eu sabia que eu seria o Treinador temporariamente. O 1º resultado foi excelente, fomos ao 8º classificado ganhar por 1-3, sofrendo um golo de penalty. Este resultado ainda ganha mais ênfase se tivermos em conta que joguei na equipa titular, com um extremo direito Juvenil (16 anos) e um Ponta de Lança Junior (18 anos).
De seguida, veio o Julian Calero. E eu passei a ser treinador adjunto, disponível para ajudar em tudo o que eu necessitava para salvar a equipa. O Calero era um treinador com muitas provas dadas no futebol na zona de Madrid, e também internacionalmente.
Tinha sido campeão de Juniores pelo Real Madrid. Foi treinador de uma equipa Russa da 1ª Liga. No seu CV tinha treinado algumas equipas de 2ª B e 3ª Divisão da zona de Madrid. Foi um treinador que me marcou bastante, pela relação humana que tinha com a equipa técnica, com os jogadores e restantes membros do clube.
Recentemente, o Julian Calero esteve como treinador adjunto no FC Porto com Lopetegui, e também na Seleção Espanhola de Hierro no Campeonato do Mundo Rússia 2018. Ainda mantemos uma relação muito boa até aos dias de hoje.
De referir que, tivemos alguns jogadores que neste momento estão na 1ª Liga Espanhola (ex: Chema – Defesa Central do Levante). Salvámos a equipa, e até este momento, a Equipa “B” do AD Alcorcón competena 3ª Divisão Espanhola.
Coordenador da Metodologia de Treino
Na temporada seguinte, assumi as funções de Coordenador da Metodologia de Treino da Cantera (desde os Pré – Benjamins até à equipa “B”).
Foi uma nova experiência muito positiva, coordenar todos os Treinadores de todos os escalões, observar os treinos, observar os jogos, ter reuniões constantes com os Treinadores.
Juniores “B”
Na época seguinte continuei na Equipa de Juniores “B” (os jogadores já tinham um ano mais), e na División Nacional – uma vez que tínhamos subido de divisão. Foi um ano nada fácil, porque era a 1ª vez que os jogadores jogavam esse escalão. Conseguimos a manutenção, com mais ou menos dificuldade, porque tivemos no meio do campeonato, uma série de resultados menos positivos (empates e derrotas). Levávamos 7 jogos sem ganhar.
De referir que, houve um jogo, contra o Getafe em nossa casa, que mudou a história. O Getafe ocupava a 3ª posição na tabela. A nossa equipa tinha caído numa posição complicada na tabela. Estávamos a meio a Liga, com mais 4 pontos que o 1ª equipa que descia de divisão.
Se ganhássemos esse jogo, poderíamos ficar com mais 7 pontos, e tão importante que os pontos, também seria a injecção de moral e confiança que a equipa ganharia, ganhando, a um rival como o Getafe. Preparamos a semana de uma forma tranquila, com confiança.
Mas, para mim, houve um episódio que ajudou a marcar a diferença. Treinávamos à noite (19h). Acabávamos muito tarde os treinos (inverno é bastante duro em Madrid).
Havia alguns jogadores que viviam longe de Alcorcón. Nomeadamente, um dos Guarda Redes e um Médio Ofensivo. O Guarda Redes – Jorge vive na mesma zona que eu vivia. Mas o Baena vive para lá da zona do Aeroporto. O Baena demorava 1:30h em transportes públicos para chegar a Alcorcón, e depois do treino, na viagem de regresso, demorava o mesmo, chegando a casa às 00:00h.
Eu sabia que eles iam jogar o derbi. Então, no ultimo treino da semana (sexta-feira), quando acabou o treino, levei-os a casa.
Durante a viagem, em todo o discurso transmiti-lhes confiança, dizendo-lhe que iria correr bem, que iríamos realizar um grande jogo e ganhar, “provoquei-os” para que tivessem coragem para afrontar esse desafio.
No jogo, ganhámos 2-0 e, coincidência ou não, o Guarda-Redes fez uma exibição super segura, realizando algumas defesas decisivas para o resultado final. O Baena, realizou uma das melhores exibições que me lembro, marcou o 1º golo e deu a assistência para o 2º golo. A partir desse resultado, a equipa recuperou os níveis de confiança e voltou aos bons resultados. De referir, que de vez em quando eu levava esses 2 jogadores a casa, quando os pais não podiam acompanha-los aos treinos.
Alcorcón (Equipa Principal – 2ª Divisão Espanhola)
Por convite de Nico (Director Desportivo), comecei a dar os treinos aos jogadores não convocados.
A 2ª Divisão Espanhola, é bastante competitiva. É uma prova que se compara à 1ª Liga Portuguesa em termos de orçamentos e de nível competitivo. Basta observarmos as estruturas dos clubes que normalmente estão na 2ª Liga Espanhola, e compararmos com os clubes da nossa Liga.
Foi uma experiência fantástica, porque nesse momento, o Alcorcón tinha alguns jogadores com muita experiência, alguns que tinham jogado no Sevilha (Liga Europa, etc).
Para finalizar, referir que, foram 2 anos fantásticos e muito enriquecedores no AD Alcorcón, onde aprendi muito e desenvolvi bastante as minhas competências e capacidades como treinador.
Resumindo, na 1ª época, trabalhei em várias equipas, muitos dos dias, era eu quem abria as portas do estádio às 16:15h e fechava às 22:30h.
Na 2ª época, continuei nos Juniores, mas assumi o papel de Coordenador da Metodologia de Treino do Clube.
Escuela Deportiva de Moratalaz
Estive pouco tempo na ED Moratalaz. Até porque passados 2 meses de ter entrado no clube, apareceu a oportunidade de ir para a 1ª Liga do Panamá.
No entanto, considero que foram 2 meses bastante interessantes nesse clube. Quando eu cheguei ao clube (meados de Setembro), já todas a equipas tinham treinador. Então, eu fiquei como treinador interino do clube (substituia treinadores em treinos e em jogos). Também, comecei a desenvolver um programa de desenvolvimento por posições e sectores.
Eu preparava um Power Point com os conteúdos mais importantes de cada posição e sector. Antes do treino, reunia-me com os jogadores, explica-lhes o que eu pretendia, e as razões pelas quais iriamos trabalhar esses conteúdos. Saíamos para o campo e colocávamos em pratica o que tínhamos visualizado.
Foi importante este tipo de projecto, porque deu para perceber as necessidades que cada posição, cada sector têm. Também foi importante receber o feedback dos jogadores, principalmente, acerca da auto-percepção daquilo que eles acham que é mais importante para o seu desempenho.