Onde é que anda o Flop: o vôo curto de Raul de Tomás no SL Benfica
O SL Benfica tem estado numa campanha intensa para obter a hegemonia no futebol sénior masculino português nesta segunda década do século XXI, com várias contratações de peso e que representaram altos custos para as finanças do emblema encarnado, como Darwin Nuñez (34M€), Raúl Jiménez (22M€), Éverton “Cebolinha” (20M€), Julian Weigl (20M€), Pedrinho (18M€), e, no caso deste artigo, Raúl de Tomás, que custou cerca de 20M€ na temporada de 2019/2020. O avançado formado no Real Madrid, e que ganhou reconhecimento em Espanha quando se mostrou um prolífero goleador ao serviço do Valladolid e Rayo Vallecano, acabou por ser uma das contratações mais sonantes da temporada 2019/2020, com Bruno Lage a receber um reforço de peso para tentar revalidar o título de campeão nacional.
De Tomás tinha amealhado cerca de 28 golos na LaLiga2 entre as temporadas de 2016 e 2018, continuando a mostrar a veia goleadora na época de 2018/2019 pelo Rayo Vallecano, isto já na LaLiga, sem conseguir evitar a descida de divisão do emblema madrileno. 14 golos em 34 jogos, representando quase 40% dos golos do Rayo, o ponta-de-lança espanhol conquistou alguma atenção internamente não só pela eficácia em frente da baliza, como pela agilidade no criar de ligações entre zonas, na versatilidade de movimentos e a espontaneidade táctica, aspectos minimamente eloquentes para um jogador que pertencia ao último classificado do campeonato espanhol.
Chegou o Verão de 2019 e o SL Benfica aproveitou a oportunidade para contratar o avançado, procurando reforçar o leque de opções do ataque, numa janela de transferências intensa para os lados da Luz… com De Tomás também chegaram Carlos Vinicius (17M€), Chiquinho (5M€), Jhonder Cádiz (2,5M€) e Caio Lucas (custo-zero), colocando pressão em Bruno Lage para obter resultados nessa nova temporada. Raúl de Tomás tinha de lutar por um lugar na frente contra Haris Seferovic, Dyego Sousa e Carlos Vinicius, não se mostrando, teoricamente, uma missão complicada.
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Porém, e acelerando para o fim da história, o ex-Rayo Vallecano acabou por só realizar 17 jogos pelas “águias”, 11 vezes como titular, marcando apenas 3 golos no total das competições, perdendo o “comboio” e importância a partir de 28 de Setembro somando uns escassos minutos na Liga dos Campeões, Taça de Portugal e Taça da Liga, competição em que De Tomás se despediu do clube, inesperadamente. Porquê inesperadamente? Porque a saída foi repentina e tratada o mais rápido possível, com o SL Benfica a conseguir obter o total do investimento despendido no Verão passado (a exemplo do caso Imbula no FC Porto), e a colocar um ponto final na única experiência no estrangeiro do agora internacional espanhol.
Foi De Tomás um flop de mercado por culpa própria, ou o clube também partilha culpas? Efectivamente, De Tomás raramente mostrou aquelas aptidões no ataque demonstradas em Valladolid ou em Madrid, falhando constantemente em frente à baliza, com uma taxa de erros demasiado alta para um avançado que vinha rotulado como goleador. O requinte no remate, a eficiência de movimentos e a lucidez no transporte de bola eram praticamente inexistentes durante a maior parte dos encontros jogadores pelo emblema da Luz, com Bruno Lage a também ter dificuldades para compreender em como fazer uso do espanhol, forçando-lhe um papel algo diferente do que estava habituado.
Principalmente, o aspecto mental também ditou o destino final de De Tomás em Lisboa, e o próprio admitiu que não esteve com a cabeça no sítio certo em diversas entrevistas, como a que deu ao Record,
“Nunca tinha falado disto. Eu não queria ir para o Benfica. Mas havia muitos interesses. Lisboa é uma cidade muito bonita e o Benfica é um grande clube, mas quando as coisas não correm bem no teu trabalho, tudo parece mal.”
Para o SL Benfica, o investimento acabou por ser neutralizado, não existindo (aparentemente) custos para os cofres do clube, quase erradicando a passagem do ponta-de-lança da sua história… para De Tomás acabou por ser uma lição, e que acabou por ajudá-lo a voltar aos índices de confiança do passado, ajudando o Espanyol no regresso à La Liga em 2020/2021, tendo conseguido marcar 17 golos na temporada transacta, o que convenceu a Luis Enrique a chamá-lo para os trabalhos de La Roja.
É um dos poucos casos de um atleta com alguma qualidade que acabou rotulado como flop, mas que foi capaz de se reerguer e atingir um bom nível depois de uma experiência amarga ao serviço de um dos principais clubes portugueses. Fica para a memória aquele golo soberbo frente ao Zenit de Petersburgo, e que podia ter sido o catalisador para um final mais feliz na Luz.
.@ChampionsLeague | @fczenit_en 3-1 @SLBenfica | 85'
MAS QUE GOLO! ? Raúl de Tomás entra em campo e faz o 1º golo ao serviço do Benfica! #ChampionsEleven #ForTheFans pic.twitter.com/8Wnock0BHt
— ELEVEN Portugal (@ElevenSports_PT) October 2, 2019