Muda o teu Jogo: “Hoje não joguei. Fiquei no banco…”

Fernando SantosAbril 23, 20187min0

Muda o teu Jogo: “Hoje não joguei. Fiquei no banco…”

Fernando SantosAbril 23, 20187min0
Os atletas por vezes reagem mal o facto de terem de ficar no banco, sentindo um misto de injustiça e tristeza. Mas pode ser do banco que venha o segredo para ganhar!

Quantas vezes ouviste esta frase? E quantas vezes já a disseste?! Acreditas mesmo que quem está no banco não está a jogar? Serão as raízes duma árvore menos importantes do que as suas suas flores?!…

Recordo-me com saudade duma meia final da Taça de Portugal em que não fiz parte dos escolhidos para ir sequer para o banco. Com os outros colegas que ficaram na mesma situação (os mais jovens do plantel senior) ocupei um banco atrás do banco de suplentes da equipa. À medida que o jogo foi decorrendo e a nossa equipa foi ficando para trás no marcador, o ânimo do nosso banco de suplentes foi-se deteriorando até ser apenas um conjunto de jogadores tristes, calados e cabisbaixos.

Foto: Getty Images

Atrás deles, cinco putos (nós) sentiam que tinham que fazer algo. Que deviam contribuir de alguma forma. E não nos calámos! Sempre a incentivar, a dar dicas, a alertar para os espaços, a celebrar cada sucesso como se fosse o decsivo, enfim, a “jogar da melhor forma que podíamos”. Subitamente, sinto um toque no meu ombro direito.

O FCPorto ia jogar a outra meia final depois de nós e o seu treinador Alberto Babo veio dizer-me: “sabes como é que vocês ganham este jogo?”. Estávamos a 10 minutos do fim e perdíamos por mais de vinte. Perguntei imediatamente “Como?!?!” na esperança de ouvir da sua boca a solução milagrosa que iria a correr transmitir aos meus colegas e treinadores.

Guardo a sua resposta até hoje como uma das bonitas lições que o desporto me deu: “Troquem aqueles cinco que estão caladinhos para o banco por vocês os cinco que estão aqui a gritar que nem malucos e vão ver que cai para vocês!”. Desse dia em diante nunca mais deixei de honrar esta enorme lição. Muito Obrigado Prof!

Acredito que o banco é um dos melhores amigos de treinadores e atletas. Permite aos primeiros uma gestão optimizada dos recursos e competências a usar face às sempre inesperadas ocorrências duma partida e, aos segundos, uma aprendizagem (quase sempre dolorosa) necessária dessas várias competências decisivas para a sua vida desportiva, académica e social.

Foto: Getty Images

Ninguém gosta, a não ser que o seja para o merecido reconhecimento das bancadas, de ser substituído. Apesar da sensação ser, dum certo modo semelhante, é duma enorme diversidade o conjunto de comportamentos e reacções de quem sai e senta. Não só no delicado momento da substituição como na sua posterior permanência no banco.

És tu quem decide que tipo de comportamento vais ter no banco! Podes ser daqueles que passa o tempo a reparar nas falhas dos colegas e a verbalizá-las para ver se todos também reparam nelas; podes ser daqueles que fazem questão de se sentar sempre ao pé do treinador na esperança de ser o primeiro a ser chamado apenas por uma questão de proximidade; podes passar o tempo a torcer para que o colega que joga na tua posição falhe para que possas ser chamado o quanto antes… ou podes apostar em fazer o que é correcto e jogar mesmo estando no banco. Como?

  1. Aposta na Comunicação Não Verbal: assim que percebes que és tu que vais sair deves focar-te na forma como ajudas o teu colega que te vai substituir. Mais do que focares-te em ti deves procurar-lhe confiança. Uma dica verbal pode ser importante. Uma boa comunicação não verbal (manter postura corporal correcta, olhar nos olhos, sorrir, high-five, abraçar, correr na sua direcção, etc) é decisiva para que ele entre mais confiante e para que evites ser rotulado como o egoísta que não és. Enquanto estiveres no banco cuida da tua comunicação não verbal pois é através dela que estás permanentemente a transmitir o que sentes. Como parece que tens todo o tempo do mundo por não estares dentro das quatro linhas, tem o cuidado de não te deixares envolver por distracções: arbitragem, bancadas, outro banco, etc.
  2. Apoia os colegas de equipa: injecta energia, não sejas tu próprio uma distracção, ajuda a tua defesa, bate palmas a quem toma boas decisões independentemente do resultado destas, não poupes no feedback positivo!
  3. Observa os adversários: assume que quando entrares em campo será para melhorares o rendimento da equipa. Para que tal aconteça deves aproveitar todos os momentos para perceber os padrões dos adversários e identificar neles fragilidades defensivas e ofensivas, sistemas tácticos ofensivos e defensivos, características do teu potencial adversário directo, etc.
  4. Prepara-te para entrar: “dá-me os teus melhores três minutos; se forem bons dou-te eu mais três”. “Não corras atrás do jogo. Ele há-de vir ter contigo. Quando ele chegar a ti, mostra que estás preparado!”. “Vai-te a eles e faz aquilo que não estou a conseguir!”. Estas foram algumas das melhores frases que me foram ditas por treinadores e colegas quando saí do banco. Quanto à pergunta que mais ouvi, essa não há dúvidas: “Estás preparado?”. À medida que o tempo de jogo vai avançando esta ‘preparação’ passa a ter cada vez mais de mental do que de físico. Lamentavelmente, já assisti, e se calhar tu também, a alguns colegas de equipa a recusarem-se a entrar porque achavam que já iam ter menos tempo em campo do que o aceitável para os seus padrões ou expectativas. Comportamento típico de quem põe o ‘Eu’ á frente do ‘Nós’, pecado mortal para quem trabalha em equipa.
  5. Mantém o banco limpo: por respeito, por educação e por gratidão a quem o limpou para que o pudesses utilizar nas melhores condições. Se os capitães dos All Blacks se dão ao trabalho de limpar sempre o banco e o balneário depois de cada treino e de cada jogo, quem és tu para te julgares grande demais para essa nobre tarefa?

Se há lição que a vida me deu foi a de aprender a sentá-lo no banco. E aguardar a minha vez. Muitas vezes a minha vez não chegou quando eu queria. Chegou quando teve que chegar. Quase sempre tive sorte quando a minha vez chegou. Estava preparado. Muitas vezes depois da esperança alheia se ter ido ou quando já parecia estar tudo acabado.

Não há sensação melhor do que fazer num só segundo o que ninguém tinha conseguido até esse momento e assim ajudar a equipa. De decidir. De estar confortável no desconforto. De agarrar o que ainda há em vez de chorar pelo que se foi.

Seja dentro de campo, seja através daquela informação decisiva que só tu apanhaste porque estiveste mesmo ‘a jogar’ enquanto estavas no banco e que consegues dar no momento certo a um colega que está lá dentro para conquistar a tão desejada vitória.

Ficar no banco ensina-nos muito sobre integridade. Nem sempre o que é melhor para mim é o melhor para a minha equipa. E a equipa vem sempre, mas sempre, primeiro.
Isto, para mim, é a raíz da integridade.

Os jogadores que começam o jogo no banco são decisivos! A intensidade, o foco e o estado de espírito dos colegas do banco têm uma influência enorme no desempenho de quem está em campo.

Desejas conquistar cada vez mais tempo de jogo? Então a forma como te comportas no banco é decisiva para essa conquista. Ou achas mesmo que o treinador, quando olhar para o banco e tiver que decidir, vai optar pelo amuado de braços cruzados e cara fechada em vez de quem está ligado aos colegas e ao jogo e a dar tudo de positivo que a situação de suplente lhe permite?

Pensa nisso.

E Muda O Teu Jogo!


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