Muda o Teu Jogo: O Enorme Poder dos 7%!

Fernando SantosMaio 15, 20186min0

Muda o Teu Jogo: O Enorme Poder dos 7%!

Fernando SantosMaio 15, 20186min0
A rubrica Muda o Teu Jogo traz uma discussão importante de se ter: o papel dos treinadores, pais e jogadores na comunicação. Esse é o enorme poder dos 7%, que pode mudar tudo!

Na década de 60 do século passado, Albert Mehrabian, então professor em UCLA, conduziu um conjunto de experiências com vista a analisar o poder do tom de voz e o poder da linguagem corporal, nomeadamente as micro-expressões faciais, comparados com o poder das palavras, sozinhas, na perceção da atitude e emoções do orador.

O estudo incidiu nas incongruências entre a comunicação verbal e a não verbal e deu origem à regra 7-38-55. O que quer isto dizer? Pois bem, estes números representam a importância atribuída às três grandes áreas da comunicação: o conteúdo das palavras (7%), o tom de voz (38%) e linguagem corporal (55%). De lá para cá tem-se assumido estes valores quase como um dogma, sendo este dos estudos mais citados no mundo, muitas vezes mal interpretado e transmitido de forma incorrecta.

O próprio autor, no seu site, esclarece que,

a não ser que o comunicador esteja a falar dos seus próprios sentimentos ou emoções, estes números não são aplicáveis”.

O equilíbrio dos % (Foto: Muda o Teu Jogo)

Palavras leva-as o vento?

Apesar do nosso sábio povo o afirmar, segundo Mehrabian, parece que não. De facto, as palavras têm um poder enorme e não são raras as vezes que nos lembramos do impacto que alguém teve na nossa vida pelo que foi capaz de nos dizer. Podemos não nos lembrar muito bem das palavras exactas nem do contexto em que foram proferidas mas seguramente que não esquecemos do que elas nos fizeram sentir e das mudanças que originaram em nós.

Foto: Getty Images

Faz-me uma pergunta e dir-te-ei quem és.

O célebre “diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és” pode muito bem ser antecedido desta premissa. Mais, consoante as perguntas que te fazem e o feedback que te dão, escolherás naturalmente passar mais ou menos tempo com essa pessoa caso tenhas oportunidade para isso.

O desporto tem o condão de aprimorar o nosso poder de síntese devido ao tempo ser limitado, precioso. A envolver a nossa prática desportiva estão todos os que connosco vão privando e, duma forma ou de outra, vão demonstrando o seu interesse pelo que esse desporto nos faz. Quando praticas desporto habituas-te a ouvir todo o tipo de feedback:

  1. Gente mais afastada quer saber dos resultados, quantos marcas por jogo, em que lugar estás ou está a tua equipa e muitas outras comparações estéreis;
  2. Gente “a meio do caminho”, conhecedora da modalidade mas distante de ti, pergunta sobre processos, modelos de jogo, formas de organização e tenta recolher dados que lhe permitam estabelecer relações e comparações muitas vezes positivas para ti mas tantas outras nem por isso;
  3. Gente próxima (a “tua” gente) que se dedica (os que realmente te amam) interessa-se por ti, se te divertiste, o que aprendeste, se precisas de algum tipo de ajuda, de mentoria ou de outros complementos ao teu desenvolvimento pessoal enquanto atleta mas, sobretudo, enquanto ser humano multifacetado. Muitas vezes não são as palavras mais agradáveis que vêm desta “nossa gente”. Aprende a viver com e a valorizar o amor duro.

É surpreendente a quantidade de pessoas fisicamente próximas de nós que apenas se interessam pela superfície, pelas consequências, pelos resultados. Por sua vez, prepara-te para seres algumas vezes surpreendido por pessoas fisicamente mais distantes – das que nem sabes o nome nem de onde apareceram – que conseguirão estabelecer relações positivas e construtivas baseadas no carinho que sentem pela pessoa que és e pela actividade desportiva que escolheste.

O que fazer?

Bem, quem não é interessado não é interessante. Logo, é natural que aqueles que não te dirigem a palavra também não te despertem qualquer tipo de interesse. Não fiques contente se alguém que dantes exibia o tal amor duro (que muitas vezes custa a ouvir) subitamente se calar. Talvez esse silêncio seja um sinal que esse alguém, outrora interessado e próximo, tenha desistido de ti.

Foto: Getty Images

Se és Treinador, abusa do reconhecimento e do feedback positivo. Aprende a cheirar a rosa no meio do campo de estrume e verbaliza as boas sensações que ela te dá. Não estejas permanentemente a falar do estrume que a faz crescer. Grita elogios e sussurra críticas. Interessa-te pelos teus atletas para além da tarefa (vai ver aquele concerto em que ele vai tocar, monitoriza as notas na escola, …). Lembra-te que não lhes interessa o que sabes até saberem o quanto te interessas. Escolhe bem as palavras que usas.

Se és Pai ou Mãe, não escolhas ser afastado e interessares-te apenas por classificações ou golos marcados. Os teus filhos são muitos mais do que meros troféus que exibes para esconderes as tuas inseguranças sociais. Cresce e assume o papel que eles esperam de ti. Resolve-te o quanto antes. Eles precisam disso!

E para Ti, que jogas, que corres, que saltas, que marcas e falhas, que ganhas e perdes, aprende a identificar o grau de proximidade efectiva que alguém sente por ti pelo tipo de feedback que usa, pelo que te diz, pelas perguntas que te faz. Cria a tua própria escala de proximidade baseada no tipo de interesse que têm por ti e alimenta as palavras que te ajudam a crescer. Aprende a identificar “a tua gente” e cuida dela interessando-te também, genuinamente, por eles, pelo que fazem, pela sua vida, pelas pessoas que são.

Muda as tuas palavras e mudarás O Teu Jogo.

Muda O Teu Jogo e serás feliz.

Foto: Getty Images

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