Uma Lição de últimos minutos de jogo para toda a vida
Alto rendimento desportivo e empresarial.
Hoje inicio um conjunto de reflexões que têm como objectivo ajudar a reforçar as competências de quem lidera equipas num contexto de alta competição e, consequentemente, trabalha diariamente a excelência e o alto rendimento. A maioria destas partilhas são pérolas que me foram dadas pelos meus pares e que ainda hoje tento transmitir a quem pretende melhorar o seu rendimento e a sua felicidade.
São momentos que vivi ao longo dos meus cerca de 30 anos de atleta e treinador de basquetebol e que me marcaram profundamente a ponto de me terem feito… Mudar O Meu Jogo. Espero que vos ajudem, caso sintam essa necessidade, a mudar também o vosso.
Lição #1 – “You don’t need to chase the game. It will come to you. Naturally. When it does, just show us you’re ready!” – Henry Johnson
“Não precisas de correr atrás do jogo. Ele vai ter contigo. Naturalmente. Quando ele te chegar, mostra-nos que estás preparado!”. Foi assim, num quarto de hotel em Albufeira (como tantas vezes antes), na véspera de nos sagrarmos campeões nacionais da primeira divisão frente ao Imortal, que o meu colega, amigo e mentor Henry (a quem eu chamava de “Uncle H” devido aos quase 20 anos de diferença de idade entre nós) me recomendou que vivesse os possíveis minutos que viesse a jogar nessa histórica partida.
Joguei os três minutos finais nesse jogo. Quando ele estava já decidido. Insatisfeito por apenas ter esse “garbage time”, não segui o conselho do Uncle H. Fiz mais faltas do que o tempo que joguei sem ter a oportunidade de tocar sequer na bola no ataque. Sagrámos-nos campeões, fizemos a festa e conquistámos um lugar na história do clube. Mas a mim aqueles minutos “ficaram-me atravessados”…
Porquê? Porque deixei que uma excelente oportunidade para jogar com os melhores, mostrar o que sabia fazer e sagrar-me campeão com os meus não fosse vivida da forma que merecia? O que esteve na origem deste episódio e, mais importante, como e o quê poderia eu aprender para enriquecer e mudar o meu jogo e a minha vida?
A razão é simples. Pressa. Último jogo da época e eu cheio de pressa para fazer o que não tinha conseguido mostrar em jogo até aí. Este “quase a acabar” coloca-nos por vezes em situações em que não gostaríamos de nos meter. A mim trouxe ao de cima o meu egoísmo. Mais do que servir a equipa tentei “corer atrás” do “pouco” tempo de jogo que tive. Pouco… Nesse dia pareceu-me pouco o que noutros momentos me pareceu uma dádiva.
O que mudo então? A minha percepção, o meu entendimento da realidade que estava a viver, a minha interpretação dos factos. Num momento que deveria ser de optimismo e positividade consegui encontrar o pouco de negativo que ali poderia haver e foquei-me, ofuscadamente tonto, no “lado negro da força”. Ao “correr atrás do jogo” fui apressado sem ser rápido, pus o “eu” à frente do “nós” e fiquei muito aquém do que poderia e gostaria de ter feito. A sorte foi que ninguém, no meio daquele sucesso colectivo todo, ligou muito às asneiras que o puto resolveu fazer ali no fim. Ninguém com excepção dele próprio. O puto. Eu.
E o que é que aprendi com este episódio para usar de forma sagrada no meu dia a dia profissional?
Aprendi que devemos manter sempre a humildade de querer servir a equipa e a organização sem a pressa de desejarmos que os olhos se virem para nós. Que quando esses olhares se tiverem que virar para nós, virar-se-ão naturalmente. Que nos devemos preparar diariamente para responder aos pedidos que a organização nos fizer quando o jogo vier ter connosco e não apressarmos a nossa “entrada em cena”. Que quando esses pedidos nos chegarem, a oportunidade e a competência farão com que a tal da sorte se revele.
Que a competência sem paciência destrói inúmeras oportunidades. Que a oportunidade quando não é recebida de braços abertos pela competência se afasta para não mais regressar. Que liderar é esta predisposição para servir ao invés de nos servirmos. Que este liderar implica prepararmo-nos para algo que pode nunca vir a acontecer, para fazermos mais e melhor do que muitas vezes nos pedem e para aceitarmos que os olhos dos outros só nos vejam em pouquíssimos desses momentos.
Felizmente temos o nosso próprio olhar que nos conduz em todas as nossas acções. O único olhar que vai estar sempre connosco do nascimento até à despedida. O nosso.
Hoje sou alguém muito mais disponível para “escutar o jogo” e aguardar que ele chegue a mim. Mais pronto a “fazer o que o jogo me pedir” sempre que ele chegar. Diariamente a preparar-me para esses bonitos momentos, que podem nunca vir a chegar, só porque adoro “ter sorte”!