Grandes jogadores fazem excelentes equipas… Ou será ao contrário?!
Porque é que não são sempre os melhores jogadores que fazem as melhores equipas? Pela lógica simplista, se juntarmos os contributos individuais máximos de cada elemento da equipa teremos o rendimento óptimo duma equipa, certo? Então, porque não acontece sempre assim? Porque não basta juntarmos um punhado de craques para construir uma equipa vencedora?
Numa primeira análise, juntar os melhores de determinada modalidade colectiva e pô-los a trabalhar em equipa rumo a um objectivo comum deveria ser uma tarefa simples e fácil de executar. Por vezes é. Mas na maioria das situações não basta termos os melhores jogadores.
De facto, numa construção colectiva o mais importante não é a qualidade das peças mas sim a qualidade da “cola” que as mantém unidas.
E porque é que tal acontece? Já todos devemos ter ouvido que numa boa equipa “o todo é maior do que as partes que o compõem”. Matematicamente, esta afirmação não faz qualquer sentido. Nenhuma soma aritmética obedece a esta regra.
Matematicamente falando, uma boa equipa é simplesmente algo impossível de ser observado.
Acontece que já todos assistimos a momentos inesquecíveis que perdurarão na nossa memória colectiva, fruto do trabalho colectivo em contexto desportivo, académico, social, familiar ou laboral. Equipas que, de tão boas que são, desafiam a lógica, superam limites, engrandecem os seus elementos e enriquecem todos os que com elas têm o privilégio de contactar. Até os seus adversários (pelo menos os mais atentos) crescem mais do que imaginariam durante o tempo em que assumem o honesto desafio da competição.
O que poderá explicar então esta realidade matematicamente inexplicável? Será o dinheiro? Será a sorte? Ou será algo, para além da riqueza ou do destino, que realmente controlamos e que podemos melhorar diariamente…?
Nas equipas vencedoras é comum encontrarmos um conjunto de comportamentos que, por ser já um padrão, podemos modelizar e tentar incluir nas nossas realidades se as desejarmos tornar de maior sucesso. Equipas de sucesso são compostas por elementos que partilham um sentido genuíno de Missão, que assumem uma identidade colectiva própria, que se superam pelo outro e pelo todo, que valorizam positivamente os erros diários, que não fulanizam os riquíssimos conflitos cognitivos que advêm da diversidade em que deve assentar uma equipa, que conseguem aplicar com justiça uma liderança circular partilhada e que cuidam do seu legado.
Como se chega a este estado de maturidade colectiva quando sabemos que trabalhar em equipa não é natural para o Ser Humano? Em que nos devemos focar e o que devemos valorizar para que as nossas equipas também exibam este magnífico conjunto de qualidades? Resposta: no que não carece de talento; nos valores e nos processos.
Se os Valores são o conjunto de princípios e atitudes basilares em que deve basear-se a conduta dos membros de uma equipa (honestidade, rigor, justiça, inclusão, compromisso, fair play, …), os processos tornam-se decisivos na “explicação do inexplicável”. Se facto, são estes processos colectivos que, quando treinados diariamente e devidamente automatizados, determinarão quanto é que a tua equipa vai ser melhor do que a soma das suas partes. Por outro lado, falhar na preparação destes processos é prepararmo-nos para falharmos independentemente da qualidade das “peças do nosso puzzle”.
De que processos colectivos estamos a falar? Dos processos de comunicação frontal, envolvimento, participação, responsabilização, organização, alinhamento, motivação e empenho, gestão de emoções, gestão de conflitos, reconhecimento e distinção. Estes são os factores de “talento desportivo zero” que são e serão sempre decisivos para o sucesso de qualquer equipa.
A título de exemplo, porque o que não se mede não se gere, aqui partilho um esboço da minha Estatística ComportaMENTAL que fiz para acompanhar uma equipa de basquetebol jovem. É ainda um trabalho em progresso pelo que todas as sugestões que este documento vos mereça serão seguramente bem vindas.
Retornando ao título deste texto, as minhas experiências de mais de três décadas de desporto foram-me ensinando que “uma equipa é tão mais forte quanto o seu elo mais fraco”. Daí que seja decisivo que nós, Treinadores, consigamos dar a devida atenção e e importância à capacitação dos “elos mais fracos” das nossas equipas para que elas se agigantem onde e quando mais o devem fazer. Como? Através dos processos colectivos que permitem que equipas que os dominam consigam rapidamente capacitar e influenciar de forma eficaz os que chegam.
Numa boa equipa os mais aptos olham sempre pelos menos aptos. E é neste sistema colectivo de partilha, entreajuda e superação que alguns jovens mais atentos conseguem crescer mais rapidamente do que os seus pares. É assim que as grandes equipas fazem excelentes jogadores, fruto dum trabalho continuado e de altíssima qualidade de todos os envolvidos.
Um dos melhores conselhos que recebi enquanto atleta foi o de “tentar ser o colega de equipa que eu gostaria de ter ao meu lado”. Assumindo esse desafio, tudo se tornará mais simples nesta viagem. Depois de pertencer a uma equipa com esta capacidade de transformação dos seus elementos, nunca mais um atleta (treinador, dirigente, adepto, …) se esquecerá.
Daí haver equipas que se tornam imortais.
Imortalidade essa que, mais uma vez, as ciências clássicas insistem em classificar como impossível.
Será?…