GD Riopele, O “Clube-Empresa” de Primeira

Francisco da SilvaSetembro 5, 20193min0

GD Riopele, O “Clube-Empresa” de Primeira

Francisco da SilvaSetembro 5, 20193min0
Em mais um artigo da rubrica Futebol Popular, o Fair Play dá a conhecer uma das histórias mais bonitas do futebol português escrita pelo modesto emblema do Grupo Desportivo Riopele.

Vila Nova de Famalicão, pertencente ao distrito de Braga, é um dos concelhos mais dinâmicos e inovadores em Portugal, albergando inúmeros clusters industriais que produzem e exportam bens para todas as partes do globo. Assim sendo, não surpreende que ao longo dos anos, este município com pouco mais de 130 mil habitantes se tenha assumido como a “locomotiva industrial” do norte do país.

Uma das maiores empresas sediadas em Vila Nova de Famalicão, igualmente uma das maiores exportadoras do concelho, é protagonista de uma das histórias mais bonitas do futebol português.

Em 1927, José Dias de Oliveira, nascido somente em 1902, instalou dois teares para a produção de tecidos nas margens do Rio Pele, em Pousada de Saramagos, Vila Nova de Famalicão. Volvidos 7 anos desde a criação do seu negócio, José Dias de Oliveira regista o nome “Fábrica de Tecidos Riopele”. Durante duas décadas, o negócio deste jovem empreendedor floresceu e expandiu-se rapidamente para áreas como a fiação e a tinturaria.

Em 1953, o império da Riopele sofre o maior abalo da sua existência, José Dias de Oliveira falece inesperadamente, deixando para o seu filho mais velho, José da Costa Oliveira, o comando dos destinos desta importante empresa têxtil. Apesar da tenra idade, José da Costa Oliveira, era um visionário e um homem de negócios muito próximo dos seus colaboradores, o que permitiu à Riopele conhecer um forte período de crescimento e de internacionalização.

Sem grande surpresa, a 14 de Setembro de 1958 é fundado pelos proprietários e um grupo de trabalhadores o Grupo Desportivo Riopele, sediado em Pousada de Saramagos. O principal objetivo do clube era promover a prática desportiva entre os trabalhadores da empresa e os habitantes do concelho, contudo, o crescente sucesso desportivo do emblema e a expansão sustentada da unidade fabril tornaram a Riopele um dos principais motores sociais e económicos de Vila Nova de Famalicão.

Jorge Jesus com a camisola do Riopele | Fonte: zerozero

Quase 20 anos depois da sua fundação, o modesto clube de apenas 700 associados carimbava uma histórica subida ao Campeonato Nacional da I Divisão. Pela primeira vez o Parque de Jogos José Dias de Oliveira iria receber as maiores estrelas do futebol nacional, tais como, Fernando Gomes (FC Porto), Manuel Bento (SL Benfica) e Manuel Fernandes (Sporting CP). Ao longo das 30 jornadas da temporada 1977/1978, o plantel maioritariamente formado por elementos que já vestiam a camisola do GD Riopele na 2ª divisão gladiou-se com enorme bravura e valentia na principal competição nacional até à última jornada. À 30ª jornada, o Parque de Jogos José Dias de Oliveira encheu-se para receber o SL Benfica. O SL Benfica necessitava de vencer e esperar uma derrota ou empate do FC Porto para se sagrar campeão nacional, já o GD Riopele estava a 3 pontos da salvação. Cedo o sonho do emblema famalicense começou a desmoronar-se à custa dos golos de Nené e Rui Lopes, António Luís ainda deu esperança aos seus colegas de equipa, contudo, em 3 minutos fatais, Rui Lopes e José Luís acabaram com o sonho de Joca, Vitorino, Jorge Jesus e companhia.

Após a descida de divisão, o emblema famalicense caiu numa espiral depressiva sem fim em termos desportivos e organizacionais. Em 1985, o Grupo Desportivo Riopele era oficialmente extinto levando consigo as histórias e as memórias, a folia e a euforia, o barulho e orgulho de toda uma comunidade humilde e trabalhadora, mas que jamais se iria reerguer das cinzas.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS