“Cromos” do Mundial 2023: Marta e Cortnee Vine
O Mundial 2023 já está a rolar e a Caderneta dos Cromos volta a falar de duas atletas que marcaram a história do futebol do seu país ou que estão a começar a fazer esse feito: Cortnee Vine e Marta! Fica a conhecer estes dois “Cromos” do Mundial 2023.
CORTNEE VINE, CREATE YOUR REALITY!
Cortnee Vine, extrema da seleção australiana e do Sydney FC. Para além de extrema, costuma ser adaptada a lateral, cumprindo bem os dois papéis.
Cortnee estreou-se há pouco tempo pela seleção das Matildas. Desde Janeiro de 2022 que tem sido presença assídua na convocatória e não podia falhar neste Mundial.
Ela confessou que foi uma ascensão relativamente rápida e isso assustou-a bastante para entender que agora era a sério. Nunca se imaginou na seleção sequer. Ela sempre foi adepta e estava longe de imaginar que a sua consistência a levaria a um Mundial.
Por isso mesmo, ela própria assume que sentiu de certa forma a síndrome do impostor. Um sentimento quando aparentamos ser capazes de assumir uma função mas estamos profundamente cientes de que não temos as ferramentas necessárias, acabando também por enganar os que nos rodeiam e que assumem que nós temos tudo sob controlo. É fácil cair nesta armadilha quando somos novos, quando estamos numa função nova, quando o desafio é por si só muito desafiante, quando a nossa auto estima não está saudável e quando tudo isto existe ao mesmo tempo, pior.
Cortnee disse também em entrevista que gradualmente esse sentimento tem desaparecido. A confiança vai aumentando neste papel de representante do seu país. Meditação, alguns mantras (“create your reality” tatuado no corpo), foco no corpo, alimentação e sono têm sido algumas receitas partilhadas pela craque australiana.
MARTA, FUTEBOL É PARA TODOS!
6 vezes melhor jogadora do Mundo. Não é fácil. Cresceu em Dois Riachos, no estado Alagoas, zona pobre esquecida pelo estado esbranquiçado. Foi abandonada pelo pai ainda bebé. Absorveu a coragem da sua mãe que enfrentou a fome e a pobreza com uma criança no colo. Desde cedo percebeu que o seu dom era o futebol, só não entendia porque é que lhe foi concedido a ela esse dom se não a deixavam jogar. Mas a ginga era mais forte que ela e que qualquer outra barreira sexista. Driblou um, dois, três homens, mulheres, deuses e ateus até chegar ao Vasco da Gama, no Rio de Janeiro.
Chegou ao topo do futebol brasileiro mas esse topo era instável. Passado pouco tempo o Vasco da Gama cancelou a equipa de futebol feminino. Teve que se reinventar em terras de Minas Gerais (abençoada terra), voltando a mostrar que o pé esquerdo era digno de Diamantina, terra dos diamantes (que os tugas levaram, deixando pouco em troca). O futebol estava rendido a tamanho talento. Em 2006 vence a primeira Bola de Ouro. Nesse mesmo ano, retorna a Dois Riachos. Talvez para mostrar a quem sempre lhe disse que “mulher não joga bola” ou que “futebol é para menino” que estavam errados. Futebol é para meninas. Futebol é para todos. É para quem o ama.