“Cromos” do leste europeu: Andriy Shevchenko e Valerij Lobanovskyi

Pedro PereiraMarço 2, 20223min0

“Cromos” do leste europeu: Andriy Shevchenko e Valerij Lobanovskyi

Pedro PereiraMarço 2, 20223min0
Duas lendas do futebol ucraniano e que partilham várias histórias, Shevchenko e Lobanovskij contados e relatados pela Caderneta dos Cromos

O futebol do leste e, neste caso em específico, a Ucrânia ofereceu alguns dos maiores jogadores e pensadores do futebol mundial, com a Caderneta dos Cromos a contar uma história de Andriy Shevchenko que liga a Valerij Lobanovskij, um dos treinadores mais míticos do Desporto-Rei.

SHEVCHENKO, UMA VIDA DE LUTA E A HOMENAGEM A LOBANOVSKIJ

Shevchenko viveu a explosão do reactor nuclear em Chernobyl quando tinha nove anos. Shevchenko vivia com a família em Dvirkivschyna, uma pequena vila da zona de Kyec, a apenas 100 km de distância da Zona de Exclusal. Na altura da explosão na central de Chernobyl,, pouco pânico havia, o governo não avisava a população, mas havia muitos perigos com a nuvem a pairar sobre a cidade. Djata, um jogador ucraniano conta que, em determinado jogo, quando iam entrar em campo foram avisados que não se podia jogar porque o campo estava contaminado. Histórias destas multiplicavam-se na altura.

As autoridades soviéticas hesitaram antes de evacuar as famílias de Kiev, mas tornou-se inevitável. Pegaram nas famílias de Kiev e das redondezas e levaram-nas para Donetsk, na zona este do país. Shevchenko na altura já era jogador de futebol num clubezinho da sua terra e teve de sair da sua casa, do seu clube para recomeçar a sua vida. Imagino que a frustração e a revolta fossem os sentimentos predominantes deste menino refugiado. Mas, mais uma vez, o futebol foi um amigo suficiente para oferecer um caminho de catarse e felicidade. Passados alguns anos, com os níveis nucleares mais toleráveis, Sheva foi chamado para jogar pelo @dinamokievfc . O seu primeiro clube profissional. O resto é… História.

Shevchenko recorda outro dos seus “mestres”, Valerij Lobanovskyi,

“Lobanovskyi é Deus do futebol na Ucrânia. O mais importante. Nós chamávamos-lhe “o General”. Eu conheci-o muito jovem numa altura em que jogava de uma forma muito egoísta. E ele ensinou-nos a todos o que significava trabalhar como um grupo, como uma equipa. A minha visão do jogo mudou com ele. Ele ensinou-me a compreender que com concentração, vontade, trabalhar em equipa, podemos derrotar qualquer adversário, mesmo que sejam mais fortes que nós. Influenciou-me de tantas formas. Principalmente mudou a minha atitude como futebolista. E mudou a minha forma de pensar como pessoa. Era um grande filósofo. A vida dele era o futebol. Ele morreu no banco de um campo, fazendo o que mais gostava. Nunca venceu a Champions e acho que esse era o seu maior sonho. Quando venci a Champions, levei a taça à Ucrânia ao estádio do Dynamo, que tem o seu nome, à estatua de Lobanovskyi. Como um dos seus alunos e por ser o primeiro ucraniano a vencer a Champions, quis dedicar-lhe a vitória e homenageá-lo por tudo o que fez por mim. Um grande símbolo que deve estar para sempre num pedestal.”

Shevchenko acabou por replicar o ritual quando venceu a Bola de Ouro. Bom reconhecer e não esquecer quem nos ensinou, quem nos formou.

Sheva e Lobanovskiy juntos (Foto: Getty Images)

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