“Cromos” com perfume africano: de Abedi Pele a Emmanuel Adebayor

Pedro PereiraNovembro 26, 20194min0

“Cromos” com perfume africano: de Abedi Pele a Emmanuel Adebayor

Pedro PereiraNovembro 26, 20194min0
Abedi Pele marcou uma era no Gana, Adebayor foi uma referência no Arsenal, Kwame Ayew começou uma dinastia e Jean-Pierre Adams saiu do Senegal para ser referência em França. Histórias dos quatro contados no Fair Play

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ABEDI PELE E KWAME AYEW

Um Abedi que, desde os seus primeiros passos no futebol, foi baptizado como Pelé. Com o passar dos golos, ainda foi a tempo de lhe chamarem Maradona Africano, por culpa daquele golo antológico no Campeonato Africano frente ao Congo em 1992, parecido com o de 86 no México.

Abedi Pelé teve uma carreira brilhante, principalmente no final dos anos 80, quando assina pelo Marseille e consegue vencer a Champions frente ao Milan, num plantel cheio de estrelas, onde até foi considerado o melhor jogador do torneio.

Para quem teve a sorte de ver Pelé, lembra-se bem da qualidade técnica e da velocidade que só quem tinha mota podia acompanhar. Há quem diga que isto de jogar bem futebol não tem nada a ver com genética. A verdade é que a família Ayew é a família com mais golos marcados por uma seleção de toda a história do futebol. Abedi Pele tem 33 golos marcados pela seleção ganesa, Kwame Ayew (irmão de Pelé que passou pelo União de Leiria, Setúbal, Boavista e Sporting) tem 9 golos marcados pela seleção; André Ayew (filho de Pelé) tem 14 golos pela seleção; Jordan Ayew (também filho de Pelé) tem 12 golos marcados pelo Gana.

Uma família que contribui com 68 festejos para o seu país. Pelé tem outro filho, o Abdul que joga num clube de Gibraltar. Apesar de ter tido 6 internacionalizações, não conseguiu contribuir para o score familiar.

JEAN-PIERRE ADAMS: ENTRE A GLÓRIA E A INJUSTIÇA

Jean-Pierre Adams nasceu no Senegal. Cedo foi para França. Para fugir da fome e para encontrar a felicidade. Foi adoptado por um casal que tudo fez para que Jean.Pierre tivesse a melhor educação possível. Desde o Senegal que era apaixonado pelo futebol. Em França o amor pelo jogo continuou a crescer (tem como decrescer?). Ao contrário do outro Jean Pierre, o Papin, este Adams jogava a central. Era uma força extra terrestre dentro de campo. Rápido escalou dos clubes de menor expressão até os grandes franceses. Chegou inclusive a ser 22 internacional francês. Ainda enquanto jogador amador, conheceu Bernadette Adams e teve duas filhas.

São casados há 47 anos e ela é o amor puro personificado. Numa história de encantar como esta, o azar bate à porta em 1982, de forma muito sorrateira, sem alarmar quem tem sempre um sorriso na cara, como era Jean Pierre. Já com a carreira terminada, o central senegalês participou num curso de três dias para aspirantes a treinadores de futebol e sofreu uma lesão no joelho, lesão essa que exigia cirurgia.

Foi para o Hospital Édouard Herriot no dia 17 de março. Dia de greve de todo o staff daquele hospital. Sentou-se na maca, pronto para corrigir um joelho que tinha sido tão leal durante a sua carreira. O anestesista estava a cuidar de oito pacientes, um a seguir ao outro. Por isso, foi supervisionado por um interno que estava a repetir o ano. Jean Pierre foi mal entubado e um dos tubos bloqueou a entrada de ar nos pulmões, ao invés de os ventilar.

Entrou em paragem cardiorespiratória. Ficou imediatamente em coma e assim continua desde 1982. 37 anos. Hoje, consegue respirar sozinho, digerir comida processada e abre e fecha os olhos. Bernadette dá-lhe banho, faz-lhe a barba e veste-o todos os dias com uma roupa diferente. Bernadette disse em entrevista que “acha que ele sente coisas; deve reconhecer o som da minha voz, não sei”. Bernadette vive para Jean Pierre. Lutou por ele em tribunal quando processou o Hospital por negligência. E venceu essa luta. Mas por margem mínima. Os médicos foram suspensos durante um mês e pagaram uma multa de 750 euros. Sentem o cheiro podre de justiça?

ADEBAYOR E O PODER MÁGICO DA BOLA REDONDA

Emmanuel Adebayor teve problemas motores na sua infância. Até aos quatro anos ele não conseguia andar. Extremamente religiosa, a sua mãe levou-o a uma igreja local de Lomé, na esperança de que alguma reza ajudasse o seu filho. E foi nesse dia que um milagre aconteceu, conta Adebayor: “estava na igreja, deitado, e uma bola de futebol entra pela porta da igreja. A primeira pessoa a levantar-se para ir buscar a bola fui eu. Eu queria aquela bola.

Toda a gente começou a chorar e disseram à minha mãe: ‘o teu filho começou a andar por causa de uma bola de futebol, isso significa que ele terá uma chance como jogador de futebol. Isto significa que ele tem futebol nas suas veias’. Tinham razão.”


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