Caderneta dos Cromos e Stanley Matthews, o recordista inglês!

Pedro PereiraMarço 19, 20186min0

Caderneta dos Cromos e Stanley Matthews, o recordista inglês!

Pedro PereiraMarço 19, 20186min0
Um dos profissionais com mais anos em actividade, Stanley Matthews tem uma série de curiosidades na sua carreira. Um cromo muito raro e único!

Stanley Matthews é um dos cromos com mais presenças em cadernetas de toda a história. Porquê é simples: foi jogador profissional dos 17 até aos 50 anos e cinco dias de idade. Sim isso mesmo, 33 anos ao mais alto nível de futebol. Para além das variadas edições ano após ano deste cromo, ele foi também um cromo raro que inovou o modo de jogo daquele tempo com as suas fintas e jogadas imprevisíveis.

Nasceu no dia 1 de Fevereiro de 1915 em  Stoke-on-Trent, terra do conhecido clube Stoke City, filho do pugilista inglês Jack Matthews. Foi precisamente o pai de Stanley que o introduziu no mundo desportivo desde cedo, incentivando o filho a praticar exercícios de respiração profunda em frente a janelas abertas e a adoptar os mesmos hábitos alimentares e de sono do pai.

Foi desde pequeno que começou a aguçar o apetite pelo desporto e em especial pelo futebol: em casa, pegava numa bola e fintava as cadeiras; com uma bola de ténis aprimorava o toque fino ao chuta-la contra a parede e a recebe-la da melhor forma. Rapidamente se percebeu que o menino tinha habilidade e vontade para vingar no mundo do futebol.

Aos 15 anos de idade, foi experimentar o clube da cidade, o Stoke City e acabou por ser aceite pelo treinador do escalão, Tom Mather. Para além de uma habilidade distinta com a bola nos pés, aquele menino treinava dez vezes mais que os outros. Pelo que se conta, no final do treino Stanley voltava para casa a correr. Ao todo eram 12 kilometros.

Rapidamente se fixou na posição de extremo direito. Para além de cruzar e chutar bem para um jogador que actuava nas laterais, era também um jogador que era forte no um para um. Pode dizer-se que Stanley foi o percursor de algumas fintas que hoje são recorrentes. Não obstante, foi dos primeiros extremos com responsabilidade defensiva. Fruto da sua enorme capacidade respiratória, era capaz de fazer “piscinas” no corredor direito durante 90 minutos.  Estava assim criado o protótipo do extremo moderno, 40 anos antes do seu tempo.

Ao serviço do Blackpool (Foto: Old School Panini)

No dia xxxx no ano de 1932 com 17 anos, Stanley  fez a estreia profissional no clube do seu coração. Logo na segunda época como sénior, Stanley venceu o seu primeiro titulo: campeão da segunda divisão inglesa, com um ponto a mais que o segundo classificado, o Tottenham. Assim, Stanley recolocava o clube da sua cidade na principal liga inglesa.

Como se não bastasse, em 1934 foi convocado pela primeira vez para representar a equipa do seu país. Com 19 anos, o jovem Stanley, já estava no topo do futebol inglês, aclamado pelos seus adeptos e temido pelos adversários. Nascera um menino querido no futebol da Terra de Sua Majestade.

Stanley jogou até 1938 no Stoke City. Não terminou bem esta sua primeira passagem no clube do seu coração. Insatisfeito com a directoria e com o treinador principal, Stanley decidiu que o seu futuro não passaria pelo Stoke. Três mil adeptos saíram às ruas para tentar impedir a saída do seu maior craque, mas a decisão estava tomada.

Entretanto, o período negro da segunda Guerra Mundial impediu Stanley de brilhar na primeira liga inglesa, torneio que esteve suspenso até 1946. Este período, é particularmente importante na vida de Stanley.  Apesar de se ter juntado ás Forças Armadas inglesas , Stanley nunca se esqueceu do futebol. Enquanto cumpria com as suas obrigatoriedades patrióticas, arranjava sempre um tempo para treinar com a sua melhor amiga, a bola.

Esta disciplina e amor pelo desporto foi fruto da educação do seu pai, personagem que já foi falada neste texto. O seu pai, o seu maior mentor na vida e no futebol, morreu também neste período, no ano de 1945. E por isso digo que este período foi muito importante na vida de Stanley. Até porque as últimas palavras que o seu pai lhe dirigiu continham dois pedidos muito específicos que foram extremamente importantes para o decorrer da vida e carreira do craque inglês: “Cuida da tua mãe e vence a taça de Inglaterra.”

Foto: Old School Panini

O campeonato inglês retomou à normalidade no período pós guerra em 1946. Nesse ano, Stanley assinou contrato com o Blackpool (na altura a receber 12 libras por semana era o jogador mais bem pago do país) e foi precisamente neste clube que ele conseguiu realizar o desejo do seu pai. Em 1948 e 1951 o clube chegou à final da competição da Taça de Inglaterra mas acabou por sair de lá derrotado.

Em 1953, em Wembley, a Taça de Inglaterra foi disputada entre o Blackpool e o Bolton e finalmente, a vitória caiu para o lado de Stanley. Com três assistências e uma exibição de outro mundo, Stanley vencia a competição tão aclamada. Com apenas 37 anos.

Este troféu foi o primeiro e único grande titulo na carreira de Stanley. Muito pouco para tamanho talento. Ainda assim, em 1956, quase venceu o campeonato inglês, tendo ficado em segundo lugar na competição.  Foi também nesse ano que Stanley quebrou recordes muito por causa da sua idade: aos 41 anos tornou-se o jogador mais velho a marcar um golo pela seleção Inglesa; aos 42 anos tornou-se o jogador mais velho a actuar pela Inglaterra. No meio destes recordes, o mais importante foi sem duvida a vitória da Bola de Ouro, prêmio da revista France Football.

Estava, assim, atribuída a primeira Bola de Ouro da historia do futebol mundial: ladies and gentlemen, Stanley Matthews, craque de 41 anos. Acredito que seja difícil para o leitor imaginar um jogador com esta idade a ser considerado o melhor jogador do Mundo, mas a verdade é que Stanley conseguiu.

Em 1961, com 46 anos, o craque inglês retorna ao clube do seu coração, o Stoke City. Ficaria no clube até completar 50 anos e, após meio século de vida, decidir deixar de jogar futebol profissional.

Stanley, na sua autobiografia, resumiu a sua carreira numa frase simples e elucidativa: “Amei o futebol profundamente”.

Foto: Old Panini

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