Caderneta de Cromos e Futre, ‘El Portugués’, o craque do Montijo

Pedro PereiraMarço 9, 20186min0
Um autêntico mago que jogou nos Três Grandes e deixou uma série de histórias e episódios caricatos tanto em Espanha, como Itália ou Inglaterra: Paulo Futre!

Texto escrito em parceria com a página do Instagram caderneta.de.cromos

Hoje colamos um dos maiores craques do futebol português. Já falei aqui sobre um dos dois melhores pés esquerdos do futebol português: Chalana. Agora é vez de falar do outro pé esquerdo que divide o trono. Futre. Arrisco-me a dizer que tenha sido o melhor jogador português dos anos 80.

Este é um cromo de quem muito se fala, muito fruto da capacidade do mesmo de contar histórias que, se não fossem contadas, ninguém acreditaria. Mas, há algumas que convém relembrar para que nunca esqueçamos quem foi Paulo Futre. Uma das suas melhores histórias foi escrita no Porto, clube que representou desde 1984 até 1987, ano em que venceu a Champions League.

Com apenas 18 anos, foi contratado pelo @fcporto e passou a receber 135 mil euros. Antes dessa contratação, Futre era jogador do Spoting. Nesse início de carreira, o clube dos leões queria oferecer-lhe 350 euros por mês e seria emprestado na primeira época à @academicaoaf . Apesar da resistência da sua família, Futre ruma ao norte do país. Pinto da Costa, segundo Futre o seu pai desportivo, liga-lhe e com uma frase convence o jovem: “Paulinho, aí não te querem, mas aqui vais ser tu e mais 10”. E assim foi. Futre e Augusto Inácio eram os únicos lisboetas a jogar no clube do Porto. Futre nem era portista. Mas rapidamente entendeu que naquele clube, a mística tinha que imperar e prevalecer.

“O que mais me marcou no Porto foi o balneário. Era tremendo. Ali estava a mística, o Porto, matar pelo Porto, morrer pelo Porto, suar sangue pelo Porto. Tudo Porto. E tu vens de Lisboa e tens de mudar o chip rápido, se não não entrar e não tens hipótese nenhuma. Tens de ser super transparente e estas ali para matar pelo Porto também. Até eles verem isso, tarda umas boas semanas, para não dizer meses.”

Depois de vencer a Champions League pelo FC Porto, Paulo Futre ruma ao Atlético de Madrid onde é coroado pelos adeptos. Os espanhóis ficam encantados com aquele português virtuoso, destemido e fulminante. Foram seis anos na capital espanhola que lhe permitiram vencer duas Copas do Rey e deixar muitas saudades a todos os adeptos Colchoneros.

Foto: Old School Panini

Depois dessa lua de mel com o futebol, Futre volta ao futebol português, desta vez para jogar pelo SL Benfica. Uma passagem onde se contabilizam 13 jogos e cinco golos, muito por culpa das lesões que começavam a dar sinal de vida. Paulo Futre tornou-se assim um dos poucos jogadores que representou os três grandes de Portugal e que foi capaz de merecer o respeito por todos os adeptos do futebol português.

Já na fase final da sua carreira, Paulinho vai para Itália. Inicialmente assina pelo @ac_reggiana1919 mas passados dois anos vai para o @acmilan de Berlusconi. Nesta fase da sua carreira, os joelhos do craque já começavam a ceder. Logo na pré época no AC Milan, o seu joelho não resiste e rompe pela terceira vez.

Naquela época só fez um jogo. Suficiente para lhe dar o título de campeão italiano. Ao todo, foram três operações ao joelho. Paulo Futre conta:

“Na primeira operação estava presente toda a imprensa mundial no hospital, um ano depois, estavam três jornalistas na zona de Reggina e na terceira tive que ligar para o Record e para a Bola (jornais desportivos portugueses) a dizer: “ouve lá, vou ser operado”. Assim é a vida e o futebol. Aquilo era uma luta que eu tinha com a minha cabeça e o meu joelho. Mas do que mais me orgulho dessa altura, no Milão, é que tinham dois psicólogos que chegavam lá de manhã, olhavam para os teus olhos antes do treino e se vissem alguma coisa estranha, diziam:” depois do treino passa no meu gabinete”.

Estive ali um ano ele eles todos os dias olhavam para mim, e eu todo lixado, davam-me dois toques nas costas e diziam: “tu és um leão.” Nunca fui ao gabinete deles. Acho que eles olhavam para mim e pensavam: “este gajo vai conseguir jogar.”

Um guerreiro destes não desiste e após uma experiência destas em Itália, ainda encontra forças para experimentar um campeonato novo, e logo o inglês. Segue-se o West Ham.

Foto: Old School Panini

Falar de Futre e não falar do episódio no West Ham é impossível. O episódio é contado por Futre na sua biografia, mas também na biografia de Redknapp. O treinador inglês, ao contar este episódio, aproveita para acrescentar que o extremo português foi um dos dez melhores jogadores que já viu jogar na sua carreira.

Imaginem: Jogo entre West Ham e Arsenal. Os jogadores saem para aquecer no relvado. Os adeptos começam a encher o estádio prontos para assistir ao espectáculo. Era a estreia de Paulo Futre nas terras inglesas. Tudo pronto. Futre entra no balneário para vestir a camisola de jogo mas não a vestiu. Nas costas estava o número 16 e o nome Futre. E isso Futre não aceita. O seu contrato incluía uma cláusula que constava que o seu número seria o 10. Sempre assim foi, não podia mudar agora.

Futre recusou entrar em campo. Com a 16 nas costas ele não jogava. Com o seu limitado inglês, reproduzia a frase: “Eusébio 10, Maradona 10, Pelé 10, Futre 10, not fucking 16”. Ninguém queria acreditar. Ninguém o conseguia convencer que não havia nada a fazer, ele tinha que aceitar e jogar com o 16. Mas Futre só joga com o 10.

O presidente vai ao balneário para resolver a situação e pergunta qual era o problema. Futre explicou: “Porto 10, Atletico Madrid 10, AC Milan 10, West Ham 10”. Peter Storrie, presidente dos Hammers, explica que ele tinha que aceitar, ele tinha que jogar com aquele número, não havia nada a fazer. Futre pega na camisola e enfia-a na cabeça do presidente e diz “Fuck you I no play”. Dá meia volta e vai para o hotel.

Sim, Futre não cedeu e não jogou com o Arsenal, abandonando a equipa a trinta minutos de começar a partida. Surreal. Como assim um dos maiores camisa 10 da altura ter que usar o 16 porque o seu número pertencia a John Moncur? Nem pensar. Na semana seguinte, o West Ham devolveu o número 10 a Futre, cumprindo com a cláusula do contrato.

Um cromo raríssimo. De seu nome, Paulo Futre.

Foto: Old School Panini

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