Caderneta de Cromos e o Preben Larsen, O Prefeito de Verona
Texto escrito pela caderneta.de.cromos
Alguns cromos mais brilhantes estão nas páginas da caderneta dos clubes mais humildes, e nem por isso o brilho se desvanece. Talvez até tenha o efeito contrário, porventura o cromo ganha um destaque único. Eu pelo menos acho que sim. Como é o caso de Preben Elkjaer Larsen.
Este cromo nasceu na capital dinamarquesa Copenhaga. Preben, começou a sua carreira em alguns clubes regionais como o Frederiksberg e o KB mas no escalão de júnior foi contratado pelo Vanlose. Foi neste pequeno clube do país, que se estreou na equipa principal em 1976 (o seu primeiro ano como sénior) e rapidamente chamou a atenção de outros clubes. Uma época de boas exibições e sete golos foi suficiente para que fosse contratado pelo clube alemão do Colónia FC.
Outra coisa que devem saber sobre este jogador é que ele não gostava de cumprir regras, o que não facilitava o seu convívio com os treinadores. Foi o que aconteceu no clube alemão. Depois de surgirem alguns boatos sobre a sua vida noturna atribulada e demasiado frequente, o seu treinador Hennes Weiswieller confrontou-o e questionou-o se aquela história de uma noite antes do jogo com uma mulher e muito uísque era verdade. O dinamarquês sem muitas reservas respondeu: “Não é verdade. Eram duas miúdas e vodca”. Preben acabou por ser dispensado nessa época.
Na verdade, Preben tinha uma conduta pouco profissional, o que o levava a hábitos muito pouco saudáveis para quem queria ser um atleta de alta competição. Corre a lenda que ele era tão viciado em cigarros que fumava no início, no fim, no intervalo dos jogos… E até durante. Numa sessão de penalties, depois de cobrar o seu com sucesso, os sortudos que estavam no estádio a assistir o jogo dizem que Preben foi até ao banco, acendeu um cigarro e ficou a assistir os seus colegas.
Lokeren
Depois do tal incidente com o treinador alemão, rumou a Lokeren , clube belga, e foi aí que explodiu, futebolisticamente falando. Engane-se quem pensa que o comportamento desviante e pouco profissional condicionava a sua disponibilidade física ou a qualidade do seu jogo. Era um todo o terreno, uma combinação perfeita entre raça, velocidade e técnica. Foram seis épocas de muito bom futebol temperadas com mais 100 golos marcados pelo craque dinamarquês. O futebol belga era pequeno demais para o seu futebol. Próximo destino: Hellas Verona.
Hellas Verona e “O Prefeito”
Rumou ao campeonato italiano, na época de Platini, Rummenigge, Maradona, Sócrates, Falcão, Zico. E lá estava ele, a principal figura do Verona, um clube com pouco relevo histórico, a lutar contra os gigantes. E ganhou. Preben foi o símbolo máximo desta equipa que surpreendeu a Itália ao vencer o scudetto, o único título nacional do Verona da sua história, em 1984/85. Apesar dos poucos golos marcados nas quatro épocas, o seu impacto foi maior do que qualquer estatística.
Todo adepto do Hellas Verona ainda hoje se lembra daquele segundo golo marcado à Juventus na época de 1984-85. A jogada começa de um pontapé de baliza marcado pelo central, fazendo a bola sobrevoar todo o meio campo do Verona até chegar aos pés de Preben. O centro campista, deixa a bola bater no chão e dá meia volta no caminho da baliza da Juve, tirando do caminho o seu marcador directo. Neste preciso momento, o da meia volta, acontece o momento inesquecível. A chuteira de Preben sai-lhe do pé, ficando no meio campo, e obriga o craque a percorrer meio campo descalço de um pé com o objetivo de fazer o segundo golo do jogo. Com a sua velocidade e técnica na melhor forma, Preben deixa dois defesas da Juventus no chão e bate o guarda redes da equipa comandada por Giovanni Trappatoni.
Selecçao Dinamarquesa, o Vejle e o fim
Em 1984 a Dinamarca chegou às meias finais do campeonato da Europa, perdendo nos penalties para a Espanha. Ficou na retina dos europeus e deixou água na boca para a competição internacional dois anos depois em 1986, no México. Preben comandava a seleção que muito prometeu na fase de grupos, mas acabou nos pés da Espanha nos oitavos de final com uma derrota pesada de cinco bolas contra uma. Depois disso, a sua carreira foi-se apagando, como se um dos seus cigarros se tratasse. Em 1988 terminou a experiência em Itália e rumou ao seu país para representar o Vejle. Com os torcedores do Vejle em êxtase por receber no seu plantel um dos melhores jogadores do mundo, todas as atenções e expectativas estavam assentes nele. Infelizmente, Preben nunca conseguiu oferecer o título nacional ao Vejle e em duas épocas de baixo rendimento, Preben decidiu pendurar as botas.
Na sua carreira, o título nacional italiano foi a sua conquista mais relevante e pouco mais. Porém, do reconhecimento individual não se livra. Para os seus conterrâneos os seus feitos e a sua harmonia dentro campo também não são esquecidos, sendo considerado como um dos melhores jogadores dinamarqueses de sempre.
Em 1984 foi o segundo colocado na premiação da Bola de Ouro da France Football só atrás de Platini. Em 1987 ficou no terceiro posto desta mesma premiação. Em 1986, foi considerado o terceiro melhor jogador do Campeonato do Mundo no México, só atrás de Maradona e do guarda redes Harald Schumacher.
Foram anos de altíssima qualidade que lhe reservaram a colagem nas cadernetas mais brilhantes da história do futebol mundial.