Burnout Pandémico: o nascimento do Homo Empathicus

Fernando SantosJaneiro 17, 20218min0

Burnout Pandémico: o nascimento do Homo Empathicus

Fernando SantosJaneiro 17, 20218min0
A pandemia alterou por completo a vida de tudo e todos e o Mudo o Teu Jogo explica-te como ultrapassar este burnout pandémico neste artigo

“O verdadeiro carácter de uma sociedade é revelado pela forma como ela trata as suas crianças.” – Nelson Mandela

Estranhos tempos estes que vivemos. Incertos. Exigentes. Desafiantes. Únicos.

A poucos dias de entrarmos no segundo confinamento devido à pandemia de Covid-19, a RTP estreou em canal aberto e na RTP Play o primeiro episódio da série “Deus Cérebro – A Maquinaria das Emoções”. Nele encontramos algumas pistas sobre o que devemos entender, enquanto cidadãos e desportistas, para melhor enfrentarmos esta dura pandemia.

Neste documentário excelente, pautado pela intervenção de especialistas de renome internacional, nomeadamente o “nosso” António Damásio, ficamos a saber que a primeira forma de inteligência foi, é e será sempre a afectiva e emocional. Para sobrevivermos, sobretudo em momentos de crise, reconhecer o positivo e o que é perigoso numa situação emocional pode fazer a diferença entre a vida e a morte.

Aprendemos que “Razão vs Emoção” é apenas um mito grego e que conhecemos tão pouco sobre nós que, até há muito pouco tempo, as emoções e os afectos “moravam” no coração e não no cérebro. Só que esta dicotomia não faz sentido quando falamos de tomada de decisões pois sempre que tomamos decisões e fazemos escolhas, conscientes ou não, as nossas emoções estão invariavelmente presentes para melhor decidirmos. De facto, na linha evolutiva, a inteligência cognitiva só aparece depois da emocional/relacional. É devido ao desenvolvimento das emoções que melhoramos, por exemplo, o vocabulário com que as expressamos.

Dizem-nos ainda estes especialistas que o nosso cérebro consome cerca de ¼ de toda a energia que ingerimos diariamente. Que esta brilhante estrutura serve os interesses do corpo mas se o resto do corpo não funciona bem, o cérebro “não vale nada”! Que a criatividade implica sempre uma maior fadiga cerebral, daí que nos seja mais fácil seguir ordens e rotinas pré-determinadas que nos poupam energia.

Em tempos de crise, em que aparentemente a nossa própria existência se encontra ameaçada por um vírus que nos força, por exemplo, a estar sem desporto de formação há 10 (DEZ!!!) meses, talvez seja útil relembrar como chegámos até aqui.

O que nos fez evoluir ao longo de milhões de anos, vencendo todas as sucessivas batalhas com todos esses agentes patogénicos presentes na natureza? Segundo estes especialistas, a COOPERAÇÃO! O Trabalho em Equipa é, sem dúvida, o principal pilar da evolução humana. De uma forma simplificada, quanto maior a dimensão do nosso grupo de primatas, da nossa unidade social, maior a complexidade do nosso cérebro devido à necessidade permanente de trabalharmos em equipa.

E que melhor exemplo dessa cooperação podemos ter do que o nosso próprio corpo a combater doenças? Doenças essas muitas vezes causadas por seres microscópicos possuidores, também eles, de uma elevada inteligência relacional que lhes permite causar, em equipa, danos severos às suas vítimas. Hoje, um desses seres é a causa de abalos e rupturas enormes em diferentes sectores da nossa sociedade, sendo o desporto jovem um dos mais afectados com quase 200.000 jovens atletas a abandonar a actividade física regular nos seus clubes!

Foto: Getty Images

Convém, nesta luta desigual, saber o que nos distingue então, enquanto Humanidade, destas ínfimas criaturas que nos ameaçam com a sua fortíssima inteligência grupal. Mais uma vez, segundo os especialistas, IMAGINAR é a nossa maior riqueza, o que nos distingue de todas as restantes formas de vida!

Este Super-Poder de simular, visualizar, intuir, prever o futuro. Possuímos um cérebro que corre fabulosas simulações do futuro. Seja sobre a família, a “tribo”, os amigos, os conhecidos ou sobre a própria sociedade, esta capacidade de prever o futuro e agir em consonância com o que acreditamos ser o melhor para nós no presente é a base daquilo a que convencionámos chamar INTELIGÊNCIA.

Nestes tempos difíceis que todos vivemos, devemos usar os Super-Poderes que nos tornam Humanos para vencermos este terrível adversário. Trabalhemos, então, em Equipa para construirmos já hoje o melhor futuro que conseguirmos imaginar!

A Mudança Boa.

A mudança, sobretudo quando indesejada, pode ser extremamente assustadora. Quando a um episódio de mudança forçada adicionamos políticos alienados e pais impreparados, estão reunidas as condições para a “tempestade perfeita” para as nossas crianças e jovens. Seguramente que nem todos os políticos o serão, nem nenhum pai ou mãe pode dizer que está totalmente preparado para essa dificílima missão. Mas quanto mais formos confinadores, invasivos, protectores e controladores das nossas crianças e jovens, menos os estaremos a preparar para um futuro em que lhes será exigido serem autónomos e responsáveis e no qual eles desejarão ser, acima de tudo, felizes.

É sobre o nosso papel enquanto pais e educadores que nos fala Carlos Neto, no seu recente livro “Libertem as Crianças”, cuja sinopse pode ser ouvida nesta breve TED Talk do próprio autor,

Vivemos hoje numa sociedade do medo que mantém as nossas crianças em cativeiro. É urgente estimularmos o risco, a autonomia e a participação dos maiores heróis desta pandemia, as nossas crianças e jovens a quem foi roubada uma parte gigante do seu crescimento. Em quase total desconexão com a natureza, estamos a criar “crianças de agenda” duma Iliteracia física e dum analfabetismo motor assustadores!

Brincar é fundamental para termos sucesso em sermos felizes mais tarde na vida. Brincar civiliza o corpo e ensina-nos a amar através de acções. E amar é o que nos permite crescer bem, com carícias, afectos, abraços, danças e jogos em que corpos se contactam e se descobrem.

Nem todas as mudanças têm que nos ser impostas. Nem todas têm que ser más como um banco falido. Melhor futuro implica termos a coragem de começar a mudar já hoje. Este é o momento ideal para cada um implementar a sua “Mudança Boa”. Mas que Mudança é essa?…

Sempre que conseguimos algo que entendemos como sendo bom, devemos celebrar. Se a mudança for para pior não faz muito sentido comemorar, seguramente. Recordas-te de quando tiveste a coragem de aprender, mudar e crescer? Das tuas maiores conquistas? De como sentiste e celebraste esses momentos? Foi a pensar nesses momentos felizes que emergiu o “P.A.R.A.B.E.N.J. – Participação, Autonomia, Risco, Abraços, Brincadeiras, Empatia, Natureza, Jogo” que facilmente nos lembra os ingredientes que realmente necessitamos para construir esta Mudança Boa.

Foto: Getty Images

Num momento das nossas vidas colectivas em que o medo, a ansiedade e o stress parecem fazer-se constantemente de convidados indesejados, é natural que o nosso cortisol nos empurre para pensamentos e acções que nos isolam dos outros. Como Humanos, temos o poder de activar a coragem que sempre nos permitiu encontrar no outro o a colaboração necessária para vencer os desafios que a natureza nos entregou.

É urgente olhar para o outro, ir ao encontro do outro, ouvir o outro, construir pontes com o outro, estar disponível para o outro! Se foi através desta “pedra preciosa” que é a EMPATIA que chegámos até aqui, será seguramente esse o caminho para um “novo normal” bem diferente do que vivemos agora. Está na hora de evoluirmos. De Sapiens para Empathicus.

Estamos em Burnout Pandémico! Estamos todos cansados disto. De tantos estados de emergência, das alterações às nossas rotinas, da perda de rendimentos, de ficarmos sem poder fazer o que mais gostamos, de perdermos os que mais amamos. Estamos todos cansados.

É natural estarmos cansados. Só que, a cada dia que passa, este nosso cansaço pode contribuir para que tomemos más decisões, enfraqueçamos o compromisso, baixemos a guarda, enfim, facilitemos. Só aquela vez. Que pode revelar-se fatal…

Sabendo desta nossa frágil condição colectiva, a Ordem dos Psicólogos disponibiliza-nos gratuitamente (https://www.ordemdospsicologos.pt/pt/noticia/3301) esta “Caixa de Ferramentas para Manter a Saúde Psicológica” neste segundo confinamento. Nela encontramos um conjunto de ferramentas emocionais, relacionais, de gestão pessoal, de autocuidado e bem-estar, todas elas importantes para que continuemos diariamente a construir de forma eficaz o melhor futuro que conseguimos imaginar. U

m futuro em que as nossas crianças possam voltar a correr, juntas e livres, atrás dos seus sonhos. Tenhamos nós, adultos, a coragem necessária para as libertarmos. Neste início de 2021, o meu desejo maior.

Que esta crise seja a oportunidade de, juntos, fazermos surgir o novo HOMO EMPATHICUS!

Se também estás disponível para construir esta Mudança Boa, então P.A.R.A.B.E.N.J.!!!

E Bem-Vind@!!!


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