Seis Nações 2018: os destaques, pormenores e MVP’s
As Seis Nações terminaram no sábado passado e o Mundo ficou em “choque” com o facto da Irlanda ter conquistado um Grand Slam em pleno Twickenham, com a equipa da casa a entregar a responsabilidade de “campeão” à selecção do Trevo.
Mas há mais destaques a ressalvar desta competição e o Fair Play destaca alguns pontos para fechar a sua cobertura das Seis Nações 2018! Desde os grandes MVP’s, às desilusões, aos homens que conseguiram tirar o melhor dos seus jogadores, esta é a nossa lista final!
O ESTREANTE – JACOB STOCKDALE (IRLANDA) E MATTEO MINOZZI (ITÁLIA)
Numa competição recheada de grandes estrelas do rugby mundial, foram duas agradáveis surpresas a despontar a atenção na edição das Seis Nações 2018. O irlandês Jacob Stockadale e o italiano Matteo Minozzi, dois jovens jogadores mostraram que o futuro será risonho para as respetivas seleções.
Jacob Stockdale, o irlandês com apenas 21 anos, jogador da província do Ulster, fez algo inédito nesta campanha ao bater o recorde de ensaios num torneio das seis nações.
Foram 7 ensaios em 5 jogos, por isso aconteça o que acontecer Stockdale já terá o seu nome registado na história do rugby irlandês e mundial. Acrescentando a este recorde, foi nomeado o melhor jogador do torneio no ano da sua estreia pela seleção do trevo.
Um portentoso ¾ ponta com 1,91m e 102kg, que sabe posicionar-se muito bem em campo, é oportuno, é explosivo, e devido ao seu porte físico conquista com facilidade metros e metros em progressão territorial.
Pela seleção do seu país, apresenta uma média impressionante de ensaios, são 10 finalizações em 8 jogos. Será com toda a certeza, um jogador a ter em conta no Mundial do Japão em 2019 e uma peça-chave no jogo de Joe Schmidt.
Outro nome que fintou todas as defesas contrárias e trará com toda a certeza, a incompreensão de alguns dos nossos leitores para a escolha de destaque como um dos melhores jogadores do torneio, é o pequeno-grande mágico Matteo Minozzi.
Mais um jovem de 21 anos, jogador da equipa italiana do Zebre, que atua na posição de 15/arrière. Com apenas os seus o 1,75m e 75kg, este jogador deu um verdadeiro “show” de rugby no torneio, onde também ele se estreava pelos Fartelli d´Italia.
Só um jogador com um grande potencial e qualidade faz aquilo que Minozzi nos mostrou, marcou 4 ensaios em 5 jornadas, marcou a todas as seleções com exceção da Inglaterra, e tudo isto presente na seleção menos favorita, que só conheceu o sabor da derrota. São registos só ao alcance dos predestinados e por isso a nossa justiça em colocar o seu nome em evidencia. É o rosto de uma renovada e arrojada Itália.
O MOMENTO PARA A HISTÓRIA – SEXTON DROP IT LIKE IT’S HOT
Johnny Sexton protagonizou um dos momentos mais marcantes do Torneio das Seis Nações deste ano. Com um pontapé de ressalto a mais de 40 metros, bem depois dos 80 minutos, Sexton deu a vitória à sua equipa na sempre difícil deslocação a França. Manteve bem vivo o sonho do “Grand Slam” e da vitória no Torneio. Não podemos, porém, cair no erro de destacar apenas o gesto técnico do abertura do Leinster.
Vejamos: A França, a vencer por 13-12 com três minutos por jogar, desperdiça uma penalidade aos postes que lhe daria uma vantagem de quatro pontos. Acontece que no recomeço do jogo, Ian Henderson recupera a bola noutro importante pontapé de ressalto de Sexton, desta vez de 22 metros.
A partir daqui é história a ser escrita. Numa impressionante sequência de fases á mão (41) e um “cross kick” de Sexton para Earls (que risco!), a Irlanda conquista terreno suficiente para deixar Sexton em posição. De realçar também a disciplina defensiva dos franceses que não concederam qualquer penalidade nesse período. Sexton não falhou e a Irlanda saiu de Paris com uma preciosa vitória abrindo caminho para o segundo Grand Slam em 9 anos.
A DESILUSÃO – STUART HOGG (ESCÓCIA)
Depois de dois anos absolutamente de sonho a nível individual, culminando na eleição como Jogador do Torneio em 2016 e 2017, Stuart Hogg passou ao lado da edição deste ano. Quando se previa que a Escócia se intrometesse nas contas pelo título, que o fez, tudo levava a crer que Hogg seria peça fundamental nesse processo.
A verdade é que o nº15 escocês fez um torneio mediano, marcando apenas um ensaio no último e também seu melhor jogo. Apesar de liderar a estatística de metros conquistados (479), ficou muito aquém dos anos anteriores.
As razões por trás desta performance individual menos conseguida serão estudadas pelos técnicos escoceses e para os adeptos mais atentos poderão servir de bode expiatório para o que faltou à equipa da Escócia para conquistar o torneio. Será para o ano?
O único ensaio de Hogg em toda a competição, frente à Itália
MAIS VALE TARDE DO QUE NUNCA – HADLEIGH PARKES E DAVID DENTON
Hadleigh Parkes e David Denton, foram duas surpresas nos seus elencos, por diferentes razões, mas que mereceram ser convocados ou regressar às convocatórias. Comecemos pelo agora galês… porque é que dizemos o “agora galês”? Hadleigh Parkes nasceu na Nova Zelândia, tendo sido jogador dos Blues, Hurricanes durante os anos que viveu lá.
Em 2014 aceitou o desafio de Warren Gatland e decidiu assinar pelos Scarlets, uma das melhores equipas galesas. O centro despontou aí e ao fim de 100 jogos e 3/4 anos conseguiu obter a nacionalidade galesa, o que permitiu a Warren Gatland convocá-lo para a selecção dos Red Dragons.
Com 30 anos (a caminho dos 31), Parkes teve a sua grande oportunidade de se internacionalizar e pode aspirar a uma convocatória para o próximo mundial de rugby.
Fisicamente dotado, Parkes é um autêntico bulldozer, com uma força total, pejado de “munições” e artimanhas técnicas que dão bastantes problemas aos placadores e com um sentido de defesa bastante apurado.
Ao todo Parkes completou 50 placagens, 24 defesas batidos, 9 quebra-de-linhas, 4 turnovers e 1 ensaio. Os números falam muito a favor a uma das novas coqueluches galesas!
E, finalmente, David Denton, o número 8 escocês que finalmente mereceu voltar à sua Escócia após quase dois anos de ausência. Denton foi um dos melhores jogadores da Escócia durante o mundial em 2015, fazendo uso de uma bela técnica no breakdown, mestria na saída do alinhamento, placagem dura e eficaz e uma vontade de andar para a frente sem que o consigam parar.
Nestas Seis Nações foi um dos “segredos” de segunda-parte de Gregor Townsend, com o 8 a rubricar uma grande exibição contra a Inglaterra (4 turnovers e 5 placagens), Irlanda (70 metros com a bola na mão) e Itália.
O nº8 assume um poder total a partir da sua posição, explorando com mestria as formações ordenadas, organizando bem as saídas de bola dos seus colegas no bloco avançado, colocando alta pressão no ataque dos seus adversários.
O ENSAIO – SEAN MAITLAND BREAKS ENGLISH HEARTS
Um jogo decisivo e um ensaio decisivo, o encontro em Murrayfield entre Escócia e Inglaterra foi de loucos, de cortar a respiração a qualquer adepto que se sinta.
Foi o jogo que determinou o colapso da seleção inglesa que se viria a confirmar nos dois jogos seguintes. A Escócia fez o seu melhor jogo do torneio e o ensaio de Maitland é prova disso.
Fica para registo o minuto 30 do encontro, o resultado era favorável à Escócia por 4 pontos, o marcador encontrava-se em 10-6 para a seleção da casa, quando numa jogada praticamente a partir dos 22m da Escócia num passe longo de Finn Russell para Huw Jones.
O centro aparece em grande velocidade e numa linha de corrida exímia para quebrar a defesa inglesa, conquista mais de 40m com o apoio de Seymour a quem prefere não dar a bola e sentir o seu apoio no ruck, bola rápida para o capitão Barclay que faz muito bem a contenção e dá novamente a Laidlaw já perto dos 22m, num ápice aparece em sprint o talonador Stuart Mcinally que perfura novamente a defesa inglesa e cria um ponto de fixação, para mais uma bola rápida até chegar a Maitland que finaliza o ensaio mais bonito do torneio que daria a motivação certa para uma grande jogo da Escócia. Vale a pena rever.
O SELECCIONADOR – JOE SCHMIDT (IRLANDA)
Não há dúvida alguma que o grande treinador destas Seis Nações 2018 é o kiwi Joe Schmidt, o homem que conquistou três Seis Nações em cinco anos. Um dos melhores treinador/seleccionador dos últimos vinte anos, o neozelandês volta a relembrar ao Mundo que está aqui para espantar e dominar. Lembrar que a Irlanda conquistou alguns recordes/feitos nestes 5 anos, como: vitória pela 1ª vez frente aos All Blacks (em Chicago em 2016) e Springboks (também em 2016), conquista de três Seis Nações (só levantaram por duas vezes o troféu entre 1985 e 2013), entre outros pontos.
Nestas Seis Nações, a selecção do Trevo foi a melhor de longe, dominando a competição, tremendo em apenas um jogo… com a França, logo na primeira ronda. Quem é que adivinhava que aquelas 42 fases e um drop mágico iriam ser o princípio de uma das campanhas mais lendárias da Irlanda de Joe Schmidt?
Mas o que há para ressalvar nesta campeã? Vejamos alguns pontos rápidos! Lesões: mesmo com as ausências de Sean O’Brien, Josh van der Flier, da 3ª linha, a Irlanda nunca perdeu pitada de poder no breakdown, assumindo-se como uma das equipas mais “agressivas” na luta pelo ruck, com várias penalidades conquistadas nesse departamento do jogo.
Novas coqueluches: a genialidade e sapiência de Schmidt permitiu lançar com sucesso novas estrelas no cenário internacional como Dan Leavy (a estreia aconteceu no jogo frente à Inglaterra em 2017), Jacob Stockdale, Jordan Larmour, Bundee Aki, Andrew Porter, James Ryan ou Quinn Roux. Já tinha sido o responsável por lançar Tadgh Furlong, Joey Carbery, Fergus McFadden, Jordi Murphy, CJ Stander ou o fantástico Garry Ringrose.
É uma selecção irlandesa mais motivada, “raçuda”, mágica (quando os pontapés não correram bem a Sexton frente ao País de Gales, o abertura levou a equipa para a frente como uma série de lances sensacionais e que até deram ensaio e pontos à sua equipa) e que assumiu o plano de jogo com seriedade e sem encetar em erros.
Veja-se a vitória com o País de Gales com um domínio claro ante os galeses, algo que poucos esperavam. A jogar quase sempre em casa, a Irlanda nunca desiludiu em termos de intensidade, impondo um ritmo físico monumental que deixou escoceses e galeses com a “língua de fora”.
Schmidt fez um trabalho irrepreensível em puxar pela sua equipa, em exigir que atingissem o máximo das suas capacidades e na obtenção de resultados que vão perdurar durante muito tempo (ou, pelo menos, até ao próximo Mundial).
A Construção de um Legado