As melhores mentiras no Futebol: o El Maracanazo de 1990
Roberto Rojas. Para os adeptos mais novos, que nasceram em meados dos anos 90 ou até já nos última salva dos 80s do século XX, este nome poderá ser estranho e não fazer soar qualquer recordação, mas para os outros, especialmente para os adeptos chilenos e brasileiros, é um nome que vive na infâmia. Porquê? Bem, recuemos até a 1989, mais especificamente a três de Setembro desse ano num jogo entre Brasil e Chile realizado no lendário estádio do Maracanã. Brasileiros e chilenos disputavam uma vaga para o Campeonato do Mundo de 1990, tendo partilhado o grupo 3 da fase de apuramento da CONMEBOL a par da Venezuela.
A canarinha tinha conquistado duas vitória e um empate até este último jogo, somando um total de cinco pontos os mesmos que os chilenos, mas com os brasileiros a terem uma diferença de golos melhor o que lhes permitiria apurar para o Mundial caso se registasse um empate no último encontro. Ou seja, o Chile estava obrigado a ganhar em pleno “coração” do futebol brasileiro… uma tarefa extremamente difícil e, para alguns, impossível.
O Chile tinha falhado o apuramento para o último Mundial, depois de ter jogado no de 1982 (três derrotas em outros tantos jogos) e falhar mais um não era de todo aceitável. Com todos estes ingredientes dentro da panela de pressão, faltou adicionar um… Roberto Rojas. Guardião que ajudou a criar uma era de sucessos no Colo-Colo entre 1982 e 1987, Rojas tinha já estado envolvido em várias polémicas que foram desde passaportes falsos no Campeonato sul-americano em 1979 (esteve preso com quase todos os seus companheiros) a um teste positivo, tendo recebido uma suspensão de um ano. Ou seja, entre o brilhantismo de voar entre os postes e de criar uma série de peripécias menos positivas fora das quatro-linhas, Roberto Rojas era uma excelente metáfora do estado caótico do futebol chileno durante esse período de tempo.
Posto isto, rola a bola no Maracanã com o Brasil a dominar o encontro e a forçar o Chile a se contentar com um contra-ataque pouco mordaz e que raramente chegou ao último terço. Nem o grande Iván Zamorano ou Jaime Vera conseguiam fazer a diferença, permitindo que Dunga, Valdo, Aldair, Valdo e o super Careca tomassem total controlo das incidências de jogo. Aos 49 minutos surgiu o golo do inevitável Careca (5º golo no apuramento) e o Chile começava a ver o sonho do apuramento a ir por um buraco… até que Rojas decidiu fazer algo impensável. Até hoje o acto que se seguiu do guarda-redes é alvo de estudo, pois foi de uma insanidade e falta de noção total, criando uma situação caótica no Maracanã.
À passagem do minuto 67, um petardo arrebenta atrás da baliza do Chile e Rojas atira-se para o chão, agarrado à face, contorcendo-se de dor e aos gritos. Sangue caía. O caos instalou-se e toda a comitiva do Chile rodeou Rojas, acabando todos por sair de campo, recusando retornar ao jogo. Entre gritos e gestos obscenos, entre staff brasileiro a tentar acalmar os ânimos e árbitros a perderem controlo, o jogo foi dado como suspenso. As exigências chilenas foram na direcção de exigir que o Brasil perdesse o jogo, ofertando os 2 pontos (na altura os pontos por vitória eram 2) ao Chile e o apuramento para o Mundial.
Rojas afirmava que a explosão do petardo tinham ferido a sua face, mas as imagens mostravam que nada se tinha passado. Com a história a não bater certo, a FIFA com a CONMEBOL pressionaram a comitiva chilena, até que Rojas admitiu que tudo foi um embuste… como? Bem, o guarda-redes tinha pegado numa lâmina e escondido nas meias, esperando pelo momento mais oportuno para se ferir e gerar uma situação que forçasse um jogo cancelado por falta de segurança, com Orlando Aravena, o seleccionador do Chile, por detrás da ideia. Um golpe de teatro, no mínimo, e uma demonstração de falta de bom senso ou fair-play sem sentido.
Curiosamente, o truque de teatro e a mentira pegada de Rojas acabou por prejudicar o Chile não só nesse jogo de 1989, seguindo-se uma sanção brutal monetária para além de terem ficado logo desqualificados de participarem na qualificação para o Campeonato do Mundo de 1994, tornando-se no período mais extenso de ausência no principal palco do futebol selecções. Mas para terminar, fica uma curiosidade estupenda… Rojas voltaria ao Brasil como treinador em 2003, quando assumiu o lugar de treinador do São Paulo, clube que representou entre 1987 e 1989. Loucura desmedida de um jogador controverso.
Bem-vindos ao El Maracanazo, um dos maiores incidentes de sempre do futebol mundial.