As bases que levaram ao título europeu da Espanha em 2024
Artigo de Paulo Meneses sobre o sucesso da Espanha no Europeu e como a La Roja atingiu a glória na competição.
No Euro 2024 na Alemanha, estádios cheios, paixão ao rubro, adeptos apoiando as suas seleções com muita intensidade, e a Seleção da Espanha a ganhar com bom futebol, com um Modelo de Jogo que entusiasmou (apesar da sua “simplicidade”) assente em rotinas e processos simples.
Quando falamos de rotinas e processos, é necessário tempo. É necessário tempo a treinar os mesmos jogadores (PARA CONSEGUIR PADRŌES DE COMPORTAMENTO), é necessário tempo para que, ao treina-los juntos eles criem as relações (dentro e fora de campo) fortes e consistentes o suficiente para o nível de complexidade e de dificuldade do Modelo de Jogo que queremos implementar na equipa.
É necessário tempo para que dessas relações apareçam processos grupais, sectoriais que irão aportar ao jogo colectivo – que é o objetivo final. E, na minha opinião, onde as qualidades individuais dos jogadores venham ao de cima, cresçam dentro de uma perspectiva de conforto para os jogadores. Assim, creio que poderemos retirar o melhor de cada jogador que irá aportar a sua melhor versão ao jogo colectivo.
A equipa técnica tem que trabalhar as ideias que acham que sāo as que melhor retirarāo o melhor rendimento de cada jogador. E nesse aspecto, defendo que as ideias do treinador, terāo que ir de encontro às características dos jogadores, estamos a falar de um Modelo de Jogo concebido a partir das características dos jogadores.
Aqui deixo as bases de um Modelo de Jogo, o ponto de partida para a concepção de um Modelo de Jogo. Isto em contexto de clube tem todo o sentido, porque temos tempo (normalmente) num clube para desenvolver as nossas ideias, a nossa equipa.
COMPLEXIDADE vs NIVEL / CARGA EMOCIONAL
É sabido que, numa grande competição, a carga emocional dos jogadores é maior por tudo aquilo que essa competição representa.
Desse modo, penso ser fundamental simplificar processos de uma forma equilibrada:
- do Modelo de Jogo a adoptar,
- Dos processos de treino,
- do plano estratégico para o jogo (simples, objectivo e claro),
- assente num sistema táctico equilibrado (com as variantes suficientes para “enganar” os adversários, mas de modo a não sobrecarregar os jogadores com uma carga táctica – que por sua vez afectará a carga emocional).
Os níveis de stress num Europeu são muito altos, então na minha opinião, é muito importante tudo o que possamos fazer como equipa técnica, para que os níveis de motivação e de confiança possam manter-se altos, estáveis e equilibrados.
Isto porque, defendo verdadeiramente, se o atleta / a equipa não se sentir confortável com todos esses factores, vão surgir mais duvidas (diariamente), isso vai afectar os níveis de motivação e os níveis de confiança e os todos processos de preparação da equipa (responsabilidade da equipa técnica) e irá afectar a confiança nos próprios jogadores, porque os níveis de stress e de tensão vão aumentar. Quando trabalhei com Javier Miñano na preparação da Taça de Confederações Brasil 2013 e na preparação do Mundial Brasil 2014, a equipa técnica de Vicente Del Bosque dava muita importância a esses factores, porque se consideravam imprescindíveis tê-los em conta e controlá-los.
Este tipo de factores referentes à parte do Controlo Emocional, estudamo-los e debatemo-los de uma forma exaustiva à procura de respostas, à procura de uma forma mais adequada para ajudar os jogadores em tudo o que era a criação de um Modelo de Jogo adequado às características dos jogadores para uma competição muito exigente e curta, às necessidades para o tipo de competição, a criação de um processo de treino segundo as necessidades da competição (também tendo em conta a carga emocional que essa possui), o nível e qualidade de informação a transmitir, etc etc.
Trouxe este tema aqui, porque, apesar de não ter estado dentro do processo de preparação do Europeu, nos processos de treino e na preparação dos jogos da Espanha do Europeu 2024, durante os jogos era bastante notório a simplicidade nos processos, logo, de certeza uma correspondente simplicidade no Modelo de Jogo adoptado, a sua operacionalização nos processos de treino eram com certeza simples também.
Portanto, em contexto de seleção onde não há tanto tempo para desenvolver um Modelo de Jogo tão elaborado, e numa competição tão curta como é o Europeu, simplificar é uma palavra muito importante.
PILARES FUNDAMENTAIS PARA A CONQUISTA DO EUROPEU
Trata-se somente da minha opinião (fiz questão de publicar nas minhas redes sociais), penso que foram vários fatores com uma grande importância para esta conquista incrível.Digo uma conquista incrível, porque havia, antes do Europeu, outras seleções mais favoritas para ganhar.
1) Um grande Espírito de Equipa (fundamental) com uma VISÃO E MISSÃO claras: TODA A DELEGAÇÃO TRABALHOU E LUTOU DA MESMA FORMA E NUM DIRECTO ÚNICO.
Discutimos estes assuntos na Federação de Futebol de Madrid nos Cursos de Licenças de Treinador UEFA A e UEFA PRO com o professor Isidro Lapuente nas aulas de Liderança e de Psicologia do Desporto. Trata-se de um Professor muito conceituado no mundo da Psicologia e Liderança. Curiosamente, recebi uma mensagem do Professor Isidro a confirmar e a alimentar a minha opinião, dizendo-me que acertei em cheio.
E ainda acrescentou:
“Luis de la Fuente criou um excelente micro contexto psicossocial-desportivo, transmitindo-lhes capacidade de sucesso, acreditaram (porque têm capacidades futebolista, claro)…e expressaram-no no campo com muita confiança gerada pelo treinador e uma confiança mútua de colegas como não se via há muito tempo.”
Eu respondi-lhe: “Eu acredito nisso. Como você diz, os jogadores têm habilidades, mas é responsabilidade do treinador criar um micro contexto onde ele os catapulte para sua melhor versão, de uma perspectiva de superação. E De La Fuente conseguiu-o.”
2) Uma liderança visionária muito eficaz BASEADA NUM DISCURSO MOTIVADOR E AMBICIOSO, QUE CHAMAVA A SUPERAÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA.
Neste caso, a importância de UMA GESTÃO DE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL (decisiva para controlar e gerir as EMOÇÕES DA EQUIPA).
Estes assuntos discutimos durante muitos anos com Javier Miñano (Treinador Adjunto de Vicente Del Bosque na Espanha) nas aulas de Desportos de Alto Rendimento no Futebol (Universidade INEF – Madrid). De referir que Javier Miñano ganhou tudo com o Real Madrid, foi campeão do Mundo em 2010 e campeão da Europa em 2012 pela Espanha, e é uma honra considerá-lo como meu mentor no Futebol.
3) Um Modelo de Jogo claro (simples e objetivo), baseado em ROTINAS e PADRÕES PARA O JOGO COLETIVO. Parabéns ao Luis de la Fuente por isso !!!
Discutimos estes assuntos (com o seu filho Alberto de la Fuente) na Federação de Futebol de Madrid nos Cursos de Licenças de Treinador UEFA A e UEFA PRO.
Para terminar este artigo, o compromisso que se notava entre todos os jogadores da Espanha, era fantástico. Na minha opinião, isso consegue-se com uma Liderança eficiente, com uma postura assertiva por parte do líder (no discurso, nas atitudes, nos princípios e valores que o líder tem, nas decisões que o líder toma, na forma como trata todos os atletas por igual).
Esses factores e outros que poderão ter sido importantes para impactar, para motivar e inspirar os atletas. E poderíamos continuar este artigo, falando da forma táctico – estratégica como Luís de la Fuente montou a equipa em cada jogo, e como mexia desde o banco durante os jogos, onde se notou, claramente, que não havia estatutos dentro do balneário da Espanha.
Este hombre se llama 𝗟𝗨𝗜𝗦 𝗗𝗘 𝗟𝗔 𝗙𝗨𝗘𝗡𝗧𝗘.
Y se merece este manteo, este trofeo y mucho más.
Gracias, míster, por llevarnos a una nueva Eurocopa 12 años después.#VamosEspaña | #C4MPEONES pic.twitter.com/NKAEfQCvXZ
— Selección Española Masculina de Fútbol (@SEFutbol) July 14, 2024