Seis Nações 2018 – Inglaterra: a caminho do tricampeonato?
A Inglaterra lidera, de facto, o Rugby Europeu mas também lidera a lista de jogadores lesionados, ao ver-se privada de muitos e importantes jogadores da sua habitual “squad”. Da primeira linha ao três-de-trás, Jones terá que fazer uma ginástica interessante para conseguir combinar a experiência necessária a nível internacional com o virtuosismo do jogo que tem praticado.
A ESTRATÉGIA DE JONES… COMO JOGAM?
Comecemos por analisar o que tem sido o jogo inglês e as peças-chave dos bicampeões em título:
Set-pieces: A equipa inglesa evoluiu exponencialmente neste aspecto, tornando no que era uma debilidade quando Stuart Lancaster estava no comando, numa plataforma consistente e dominadora como se pretende. Neal Hatley, o homem responsável por este departamento, não poderá contar com Kyle Sinckler, Billy Vunipola e Chris Robshaw o que poderá trazer alguma incerteza quanto à qualidade da conquista de bola do pack inglês.
1ª Fase: Muito devido à qualidade da formação ordenada e alinhamento ingleses, as primeiras fase inglesas parecem ser venenosas. De facto, no torneio de 2017 marcaram vários ensaios de primeira fase, nomeadamente no jogo com a Escócia em Twickenham.
Pressão: A equipa inglesa parece inabalável durante 80 minutos e mesmo quando se encontra em desvantagem apresenta níveis de confiança que há muito não se viam. O facto é que a preparação física tem uma importância tremenda para que isto aconteça e Eddie Jones parece ser particularmente exigente neste aspecto. Exemplo do jogo em Gales que o ensaio de Elliot Daly selou uma importante vitória rumo ao título. Sim, Daly também está lesionado e não parece conseguir recuperar a tempo de participar na edição deste ano.
Capacidade de adaptação: A ideia é quase tão antiga como o próprio Rugby: “o treinador deve preparar a sua equipa para se preocupar com aquilo que pode controlar e para se adaptar àquilo que está fora do seu controlo”. Sejam as condições atmosféricas adversas, seja o critério do árbitro ou a estratégia adversária, a equipa inglesa parece ter esta lição bem estudada. Certamente que Jones desafia os seus jogadores durante os treinos a resolverem estes problemas, ou pelo menos questiona-os sobre a solução para cada situação.
O jogo com a Itália ficou marcado pela interpretação das Leis do Jogo por parte dos Italianos que decidiram não contestar os rucks, evitando assim a definição da linha de fora-de-jogo. A estratégia reproduziu-se pelo mundo fora, até em Portugal, o que obrigou a World Rugby a rever a Lei, alterando-a, sempre com o objetivo de proporcionar um jogo mais positivo e entusiasmante de se jogar e ver. Eddie Jones disse na conferência de imprensa que o que se tinha passado não tinha sido um jogo de Rugby e que a Itália tinha ido à procura de uma derrota menos pesada, tendo conseguido apenas e só isso mesmo.
Nesse mesmo jogo, Roman Poite, o árbitro da partida, proporcionou um dos momentos caricatos a nível internacional. Quando questionado por James Haskell sobre o que tinham de fazer para que houvesse um ruck, o francês respondeu em bom inglês: “ I can´t tell you. I am the referee not your coach“, deixando o inglês sem resposta.
O DUPLO ABERTURA… INOVAÇÃO OU SACRIFÍCIO?
Eixo Ford-Farrell: Numa das adaptações mais bem conseguidas dos últimos tempos, a de Farrell para número 12, a equipa inglesa consegue jogar à largura do terreno, tendo ainda a hipótese de jogar ao pé no segundo canal. Farrell que atua a número 10 nos Saracens dá profundidade à equipa sendo ele também um líder nato que em conjunto com George Ford organizam as tropas tanto a nível defensivo como ofensivo.
Ora Ford tem vindo a perder fulgor no seu clube com prestações individuais a ficarem aquém do esperado, e só recentemente os Saracens voltaram às vitórias depois de uma sequência no mínimo pouco usual para os campeões europeus de clubes. A confiança que os dois apresentarem será fundamental para o resultado final em cada jogo.
Nota para as diferenças na posição de número 12 entre as várias equipas. Enquanto que a Inglaterra utiliza um segundo abertura, Farrell, a Irlanda apresenta Bundee Aki um autêntico “Bulldozer” no contacto, sem a mesma qualidade de passe e visão de jogo do inglês. Será por aqui que o jogo final entre as duas equipas será decidido? Serão as capacidades defensivas inglesas suficientes para travar os adversários à primeira? A verdade é que até lá há quatro jogos que se não forem ganhos, provavelmente o último jogo poderá não ser assim tão decisivo.
A PREVISÃO DO FAIR PLAY
Apesar de desfalcada, a Inglaterra perfila-se como favorita à conquista do inédito tricampeonato, seguida da Irlanda e Escócia que poderão intrometer-se na luta. Pelas condicionantes das lesões (País de Gales sem jogadores fulcrais como Warburton, Webb ou Biggar), pela alteração de treinador (Brunel estreia-se pela França) ou pelo estado atual do seu Rugby (Itália parece condenada ao último lugar, mais uma vez), estas três equipas parecem estar uns furos abaixo daquilo que é necessário para vencer o torneio de seleções mais antigo do Mundo Oval.
Veremos se a Inglaterra consegue corresponder às expectativas e afirmar-se uma vez mais como a melhor selecção europeia!
MVP DA INGLATERRA: Owen Farrell (Saracens RFC)
MELHOR AVANÇADO: Maro Itoje (Saracens RFC)
MELHOR 3/4’S: Owen Farrell (Saracens RFC)
SURPRESA: Marcus Smith (Harlequins)
XV TITULAR (PROVÁVEL): Joe Marler, Dylan Hartley, Dan Cole, Joe Launchbury, George Kruis, Maro Itoje, Sam Simmonds, Courtney Lawes, Danny Care, George Ford, Jack Nowell, Owen Farrell, Jonathan Joseph, Jonny May, Anthony Watson
O melhor jogo da Inglaterra nas Seis Nações 2017