Tiago Teixeira. “Somos como uma família na Free Ball”
Tiago Teixeira, jovem de apenas 16 anos, que defende actualmente as cores da Academia Free Ball. O Fair Play esteve à conversa com aquele que é, mais do que uma promessa, uma certeza da boa qualidade no futuro do snooker em Portugal. Não perca por isso mais uma entrevista do Fair Play, onde Tiago fala sobre o snooker nacional e internacional, as suas experiências internacionais e o seu próprio futuro.
Ao contrário de muitos jovens da tua idade, optaste pelo snooker em detrimento do futebol. Desde quando existe esse “bichinho” pela modalidade e o porquê dessa opção?
TT. Eu gostava de ver jogos de futebol, mas não tinha muita qualidade e então não tinha aquele chamamento para jogar. Foi por isso que comecei a ver canais alternativos, tais como o Eurosport e, foi por aí ver snooker que nasceu a minha paixão pela modalidade. Experimentei, adorei e desde aí que ligo pouco ao futebol, estando sempre ligado ao snooker.
Esta época alinhas pela Academia Free Ball. Conta um pouco como se deu essa mudança e o convite da tua nova equipa.
TT. Estive duas épocas no FC Porto, onde a minha saída se deu por não ter gostado do tratamento que por lá recebi, neste caso por parte dos meus colegas de equipa e, foi aí que recebi uma excelente proposta da Free Ball, onde aí poderia estar com pessoas que conheço, com quem gosto de estar e, que acima de tudo, respeitam quem lá joga e a modalidade em si, tendo por isso aceitado a proposta deles.
Atendendo a que cada vez há mais pessoas atentas a jovens talentos como tu, sentes mais pressão quando vais jogar os open’s e as fases finais?
TT. Não querendo estar a colocar-me num patamar acima dos outros, mas talvez por ser jovem, o facto de eu jogar a um bom nível chama mais a atenção das pessoas. Mas independentemente de tudo, tento sempre fazer o meu melhor e jogo focado no meu jogo, sem estar a olhar para quem está do lado de fora. O facto de ter mais ou menos público, é algo que normalmente não me afecta muito.
Em entrevista ao Fair Play, no ano passado, os responsáveis da Academia Free Ball apontaram-te a ti e ao Luís Alves como atletas da elite nacional. Quão é importante é sentir este carinho por parte deles e que novas aprendizagens já retiraste de toda a experiência a jogar lá?
TT. É com enorme prazer que oiço essas palavras por parte da Free Ball, sendo que isso resume muito o espírito da academia. Nós somos praticamente como uma família, existe um excelente ambiente, gostamos muito uns dos outros. Eu e o Luís, juntamente com o Samuel, somos a principal equipa da Free Ball, tendo por isso a obrigação de ter um desempenho melhor que as outras equipas. Sinto que agora estou mais evoluído tecnicamente, não só pela mudança em si, mas também porque com o tempo a técnica vai crescendo por si só. As condições da academia são as melhores, com três excelentes mesas, aliado a um bom ambiente, o que ajuda nesse crescimento. Ao nível da pressão, o facto de estar a representar o FC Porto ou a Free Ball, acaba por ser um pouco indiferente, porque independentemente do clube que represente dou sempre o meu melhor.
Caso te qualifiques, quais são os principais objectivos para a fase final, tanto a nível individual como por equipas?
TT. Em ambas as competições vou dar o meu melhor e, claro que gostaria de ser campeão nacional, mas se tal não acontecer não há qualquer problema. Mesmo sem ver o quadro final e, mesmo sendo um “tiro no escuro”, diria que um bom resultado seria chegar às meias-finais. Acima de tudo vou dar o meu máximo e tentar obter um resultado melhor que o ano passado, onde cheguei aos quartos-de-final.
Estiveste presente pela primeira num Europeu de Snooker em 2016, na Polónia e pela segunda vez este ano, na Bulgária. Quais foram as grandes diferenças que notaste no teu jogo a nível técnico da primeira para a segunda experiência?
TT. Na Polónia, em 2016, tinha apenas 14 anos, acabava por atacar todas as bolas que via, ao passo que agora na Bulgária foi tudo mais pensado, mais estudado e feito com mais calma. Por ter mais maturidade, tudo acabou por correr melhor na Bulgária, onde acabei até por ganhar um encontro em cada escalão (sub-18 e sub-21). No escalão sub-21 a qualificação escapou-me por pouco, onde no último encontro frente ao belga acabei por jogar melhor que o esperado, mas a falta maturidade e de experiência da minha parte acabou por ser fulcral. Mesmo tendo sido num curto espaço de tempo, sinto que a minha experiência cresceu do Europeu sub-18 para o Europeu sub-21, aprendendo acima com os meus erros e as minhas derrotas.
Tiveste como adversário na fase de grupos o alemão, Simon Lichtenberg, que veio a sagrar-se campeão europeu sub-21, ganhando por isso direito a jogar o circuito profissional nos próximos dois anos. Pensas que este alemão tem boas possibilidades de se manter por lá durante muito tempo?
TT. É certo que quem vence um Europeu sub-21 tem boas possibilidades de se manter no circuito durante muito tempo, o Simon joga a um grande nível, tem muita experiência e acima de tudo é muito humilde. Por isso penso que tem tudo para se bater de igual para igual com grande parte dos jogadores do circuito. Ao ver de perto o Europeu, fico com a ideia de que a maioria dos jogadores que chega aos oitavos-de-final e aos quartos-de-final têm todos um grande nível técnico, sendo que o acaba por decidir o campeão é muitas vezes o momento de forma naquele dia e a sua capacidade de lidar com a pressão.
Em termos de organização do Europeu, que elações achas que a Federação Portuguesa de Bilhar poderia retirar desse tipo de eventos, para aplicar nas fases finais?
TT. Especialmente a organização dos torneios em si. Do que por lá vi, a EBSA tenta solucionar os problemas da forma mais célere e eficaz para todos. Penso que a federação estando ligada a quatro variantes do bilhar (Pool, Pool Português, Carambola e Snooker), deveria interessar-se um pouco mais por esta última, criando por exemplo uma associação à parte só focada no snooker. A federação acaba por não ver o snooker como a “Fórmula 1” do bilhar como a maioria dos amantes da modalidade e, claro que o facto de ainda ser uma modalidade recente por cá, quando comparada com o Pool e o Pool Português por exemplo, acaba por não trazer um retorno financeiro tão grande e isso reflecte-se depois na forma como cada variante do bilhar é tratada.
É público que és um fã incondicional do Judd Trump. Se pudesses ter uma conversa a sós com ele, que conselhos lhe darias? Concordas com a maioria dos amantes do snooker que diz que lhe falta muita maturidade?
TT. É evidente que o Judd Trump tem uma excelente técnica e por isso não estou em grande posição para lhe dar conselhos, mas dir-lhe-ia para ter mais maturidade e trabalhar mais psicologicamente, sendo para mim esses os principais aspectos que o inglês tem a melhorar.
Já não falta muito para o mundial arrancar, qual é a tua aposta para erguer o troféu de vencedor em Sheffield e porquê?
TT. Por uma questão emocional claro que gostaria que fosse o Judd Trump, mas de um ponto de vista mais racional e, pelo que já fez esta época, aposto em Ronnie O’Sullivan. Esta temporada em seis finais, venceu quatro, o que demonstra como ele tem estado “matador”. E também pela razão de que o “Rocket” nas competições maiores eleva sempre o seu nível, sendo que por isso a minha aposta recai sobre ele.
O Fair Play agradece ao Tiago Teixeira, pela disponibilidade e simpatia demonstrada em todo o processo da entrevista. Desejando as maiores felicidades e o maior sucesso a este jovem atleta e à sua respectiva equipa.
2 comments
António Couto
Março 4, 2018 at 12:37 am
Xavier Oliveira, na qualidade de responsável pela Free Ball Academia de Snooker agradeço-te esta excelente entrevista ao Tiago Teixeira nosso membro e atleta.
É de atitudes como esta, que promovem o que há de bom e positivo no snooker em Portugal que nós precisamos.
Obrigado e até breve, cumprimentos,
António Couto
Xavier Oliveira
Março 4, 2018 at 4:57 pm
Muito obrigado pela atenção António, realmente é para pessoas como o senhor que trabalho.
Cumprimentos,
Xavier Oliveira