Simão Van Zeller. “Todo o tempo que tive no Cascais foi especial!”
Simão Van Zeller, andas em Inglaterra a “colecionar” experiência.. mas explica aos nossos leitores o que andas a estudar? E já agora continuas a jogar rugby?
SVZ. É verdade. Vim para cá estudar Sport Management (Gestão do Desporto) porque procurava um sítio onde houvesse grandes oportunidades para seguir o que quero fazer, o que em Portugal não era tão fácil nesta área. Obviamente, não me vejo a largar o rugby tão cedo.
Tu estás a jogar pela equipa da Universidade, certo? Como é o nível do rugby universitário em Inglaterra? E a que posição estás a jogar?
SVZ. Certo. O nível universitário é muito bom na primeira e segunda divisão, a minha faculdade está numa divisão abaixo e nível não é tão elevado mas mesmo assim é bom. Estamos a fazer uma boa época e conseguimos mantermo-nos no top 4 do nosso campeonato, o que é um feito na história do rugby universitário aqui em Coventry. Estou a jogar mais regularmente a 10, mas de vez em quando vario para 15 ou até mesmo 9.
Entretanto já deste o salto para o Nuneaton RFC, que está inserido na Midlands Premier League. Qual é o nível? E que divisão corresponde dentro do rugby inglês?
SVZ. O nível é sempre elevado aqui em Inglaterra, mesmo nas divisões mais baixas. Corresponde à National League 3, onde está dividido em 4 regiões em que os campeões de cada região sobem para a National 2. Já é um campeonato mais competitivo e muito duro fisicamente.
O que aprendeste em Portugal é útil neste país que respira muito rugby? Que qualidades notas que estás acima em relação aos teus colegas e adversários? E o que temos em falta?
SVZ. De Portugal para cá a diferença é notável. Aqui, pelo que tenho jogado e visto, a atenção que se dá aos básicos do rugby é enorme. É um jogo onde se puxa mais pelo físico do que pelos skills. Não acho que temos alguma coisa em falta, estamos a evoluir e isso é visível pelos resultados das seleções e a competitividade do campeonato português.
Tens saudades de Portugal? O GDS Cascais faz-te muita falta diariamente?
SVZ. Muitas. Faz-me falta sentir o que sentia quando vestia a camisola do Cascais e do que isso representava. Cá foi como começar do zero, conhecer novos amigos e treinadores e pela primeira vez representar outro clube, que até hoje me faz confusão vestir outras cores ahah.
Como é que começaste a “brincar” com a oval? Quem é que foram os teus primeiros amigos e colegas (e os que ainda hoje se mantêm)?
SVZ. Foi cedo, com 8 anos, no ano do mundial. O meu irmão Sebastião começou a ensinar-me a passar e a placar no jardim de casa, e com uma família muito ligada ao rugby, não tive por onde “fugir”. O meu grupo de amigos de hoje em dia é quase tudo do rugby, os meus grandes amigos são pessoas que conheci nos treinos ou até mesmo dentro de campo.
Lembras-te de algum momento que te tenha quase feito desistir? Ou algum que tenha quase dito para continuares a jogar?
SVZ. Quando me magoei no ombro, no meu último jogo em Portugal, foi revoltante ver a época que ia perder.
Há algo de especial no Cascais? Qual é a tua melhor memória do campo da Guia?
SVZ. Todo o tempo que tive no Cascais foi especial, acho que nunca estive num espirito de balneário tao bom como no Caldeirão da Guia. Tenho muitas, é difícil escolher uma. Todos os jogos em casa, o espírito a seguir a um jogo (ganhando ou perdendo) era sempre de grande união.
As tuas boas exibições no clube da Linha permitiu-te dar o salto para a selecção sub-18. Quando foi a tua estreia? E é muita pressão quando se põe a camisola das quinas?
SVZ. Infelizmente nunca pude representar Portugal num jogo oficial devido à lesão do ombro, mas fiz uns jogos teste. Nesses jogos já sentia muita pressão, mas principalmente orgulho de estar ali.
Jogaste uns quantos jogos por esse escalão… gostaste de ser treinado pelo Professor Rui Carvoeira e o Francisco Branco? Que qualidades tiveste que limar para tornar uma opção séria nos sub-18?
SVZ. Gostei, são dois treinadores que se preocupam seriamente em preparar bons jogadores no futuro. Tive que gostar mais de jogar a 9 ahaha, apesar de não ser a minha posição principal.
Em Inglaterra estás a estudar e a fazer de Student Ambassador… no que consiste isso? E em que clube estás a desempenhar esse papel?
SVZ. É verdade. Estou a trabalhar em conjunto com a equipa de marketing dos Wasps RFC na promoção e divulgação dos jogos e eventos do clube para a comunidade de Coventry (principalmente estudantes). Foi uma oportunidade que tive que agarrar, se quero vingar neste campo tenho que fazer por isso, e o que poderia ser melhor do que ver o mundo do rugby deste lado?
Queres trabalhar no Mundo do rugby a nível profissional? É muito difícil alguém conseguir chegar a esse patamar?
SVZ. Esse seria um dos meus sonhos, conseguir manter esta ligação ao melhor desporto do mundo, mesmo não sendo como jogador. Acho que não, se trabalhar para isso e estiver dedicado tudo é possível.
Já agora quem é mais divertido: Elliot Daly, James Haskell ou Danny Cipriani?
SVZ. Do pouco que estive em contacto com eles, James Haskell.
Melhor selecção do Mundo: All Blacks, Inglaterra ou Irlanda?
SVZ. All Blacks, apesar de preferir a Inglaterra.
O treinador que te marcou mais? E o colega de equipa com quem gostavas de voltar a jogar com?
SVZ. Todos os treinadores tiveram um grande impacto na minha vida de jogador, entre eles o meu irmão Sebastião van Zeller, Luis Supico, João Consciência e Francisco Nóbrega. Gostava de poder voltar a jogar com todos, foi com eles que cresci não só enquanto jogador mas também como pessoa.
Melhor jogador do Mundo: Owen Farrell, Beauden Barrett ou há outro?
SVZ. Tenho dois em mente: Beauden Barret e Damian McKenzie.
Melhor jogador português que viste a jogar?
SVZ. O meu primo, Pedro Bettencourt.
Momento mais divertido a trabalhar para os Wasps? E o mais empolgante?
SVZ. O momento em que o James Haskell, antes de um jogo contra os Saracens, passou por mim e perguntou-me como corria o trabalho. O mais empolgante foi poder ir aos balneários e túnel dos jogadores, é de outro mundo.
Umas palavras para a tua família, amigos e colegas? E comunidade portuguesa do rugby?
SVZ. Só que estou muito contente e orgulhoso de ver o rugby português a crescer cada vez mais.