Margarida Neves. “A Ginástica tem de ser divertida acima de tudo.”

Sofia GoulartJaneiro 9, 20187min0
Entrevista em Exclusivo com a antiga ginasta do GCP e, agora, cheerleader Margarida Neves. Os sucessos, desilusões e a paixão pela ginástica
 Olá, Margarida. Antes de mais, quero agradecer-te por teres aceitado este convite para dares uma pequena entrevista. Fala-me um pouco sobre o teu percurso na ginástica. Como é que tudo começou, que idade tinhas quando começaste a praticar e se tiveste alguma pessoa a ‘’puxar-te’’ para a modalidade?

MN. De nada! Eu comecei a fazer ginástica quando tinha 7 anos (atualmente, tem 26). Na altura, não tive ninguém a puxar-me para a modalidade, uma vez que já fazia natação e ténis por incentivo dos meus pais… Mas lembro-me de ver um campeonato de ginástica artística na televisão e, a partir daí, fiquei fascinada pelo desporto e quis experimentar.

Conta-me como foi passar da ginástica no Colégio Moderno, onde começaste, para o Lisboa Ginásio Clube e, posteriormente, para o Ginásio Clube Português, onde a carga horária de treinos e o nível de exigência eram mais do dobro ao qual estavas habituada. De certo modo, foi uma mudança drástica?

MN. Sim, sem dúvida. No meu caso, ainda tive uma passagem intermédia pelo Lisboa Ginásio Clube, entre o desporto escolar e a alta competição, o que ajudou. De facto, é uma mudança completa de rotinas e da exigência por parte dos treinadores, o que não se revelou fácil; mas era uma coisa que eu queria fazer, por isso a motivação que eu tinha acabou por me ajudar nos maus momentos.

Sei que, na altura, ambicionavas representar Portugal numa competição internacional, apesar de não teres conseguido… Como é que uma jovem ginasta lida quando as suas expectativas não se cumprem?

MN. Lembro-me de ter chorado na altura e ficar um bocado sem saber o que fazer. Mas também coincidiu com a entrada na faculdade e o “fim da minha carreira” de alta competição. Portanto, foi um desgosto que passou rápido, uma vez que depois defini novos objectivos, quer a nível escolar quer a nível gímnico. Depois, decidi ir para o Sporting fazer teamgym.

Foste atleta federada de ginástica acrobática durante vários anos. Como era o teu dia-a-dia: A gestão do tempo entre a escola, os treinos e a família/amigos? Foi fácil fazer esta conciliação?

MN. Nunca foi fácil fazer essa gestão, principalmente quando decidi ir para o GCP e fazer alta-competição.. A pessoa acaba por aprender com isso e torna-se mais organizada, gerindo muito melhor o seu tempo. Onde não consegui fazer tão bem essa gestão foi ao nível de amizades fora da ginástica, porque não me restava tempo livre entre a ginástica e a escola. Mas as pessoas com quem treinas acabam por se tornar os teus grandes amigos; ao partilharmos todos esta experiência, este estilo de vida menos comum e a paixão pelo desporto. Juntos quer nos bons e nos maus momentos, cria-se entre todos um elo de ligação que eu acho que só o desporto consegue criar. E são amizades para a vida.

Trio Junior com Margarida Neves (Foto: Arquivo Pessoal)
Qual era o teu exercício e a especialidade favoritos na ginástica acrobática? O que te fez ‘’apaixonar’’ por este desporto?

MN. A categoria de Trios Femininos foi sempre a que gostei mais. Eu não era uma base muito ‘’explosiva’’, por isso tinha tendência a ter mais dificuldade em elementos dinâmicos. Assim, os elementos de equilíbrio eram os meus favoritos. Em especial, uma pirâmide chamada “francesa”, que era uma figura que até aí nunca tinha sido feita em Portugal e, na altura em que eu competia, só o meu trio e outro do Ginásio Clube Português é que a faziam.

O que pensas do panorama atual da Ginástica Acrobática em Portugal? Sei que às vezes, acompanhas as novidades…

MN. Não acompanho tanto como gostaria. Mas é fantástico ver o quão a modalidade evoluiu. À época, eu competia no escalão Júnior. Se comparássemos com o que os juniores fazem agora…meu deus! Houve uma evolução brutal na modalidade e ainda bem, porque quem gosta da ginástica acrobática quer ver sempre a geração a seguir a fazer mais e melhor.

Se tivesses de fazer uma lista, que ensinamentos e influência teve e continua a ginástica a ter na tua vida? Ajuda-te a organizar melhor o teu tempo, a definir objetivos e a focares-te neles, sempre com espirito de sacrifício e empenho?

MN. Sem dúvida. Acho que me tornei uma pessoa mais organizada, disciplinada e lutadora. Fez-me ver, em primeira mão, que o trabalho duro recompensa; ensinou-me a saber ultrapassar as desilusões/os maus momentos de cabeça erguida e a aceitá-los. Todos os dias eu tento aplicar isso na minha vida.

Fala-me da tua experiência no Team Gym e da tua passagem pelo Cheerleading.

MN. Foram duas experiências fantásticas e tive a oportunidade de fazer vários estilos dentro da ginástica. O teamgym foi uma experiência que veio na altura certa e que coincidiu com a minha entrada na faculdade. Acho que me fez tornar um pessoa mais confiante nas minha capacidades , mas também deu-me a oportunidade de evoluir mais em tumbling e trampolim e fazer saltos que nunca pensei fazer.

Às vezes, uma pessoa termina alta competição e a última coisa que quer é fazer ginástica… Mas o teamgym devolveu-me o gosto e a paixão pela ginástica, e adorei o tempo que passei no Sporting e as amizades para a vida que criei.

O cheerleading foi uma surpresa muito agradável. Eu estava em Londres e sentia falta de fazer desporto. Por acaso, vi uns vídeos na página de desporto da minha universidade e decidi inscrever-me. Eu vou ser sincera: existe algum estigma em relação ao cheerleading e a primeira coisa que me passou pela cabeça foi aquelas cheerleaders dos liceus americanos que só se interessam por maquilhagem e os uniformes…Mas o quão enganada estava! Nunca fiz esquemas tão difíceis como fiz com a minha equipa.

O esforço exigido é brutal e o facto da minha equipa ser muito dedicada fez com que adorasse ainda mais, e lembrei-me um bocado dos tempos da acrobática. Senti que evolui ainda mais como ginasta e pessoa e o facto de termos sido vice campeões da Europa em 2017  fez com que eu alcançasse aquele objectivo que eu nunca tinha conseguido alcançar com a ginástica, o que dá ainda mais brilho a esta experiência.

Cheerleading (Foto: Arquivo Pessoal)
Tiveste uma experiência muito diversificada no mundo da ginástica. Falta experimentares algo? Ou retiraste-te definitivamente dos praticáveis?

MN. Eu acho que não… Até porque decidi deixar de fazer desporto de competição este ano. A seguir ao campeonato da Europa, decidi retirar-me de vez, até porque tenho uma lesão no ombro e no joelho que requerem alguma atenção. Como também já estou a trabalhar e vou começar o meu doutoramento, decidi que encerrava com chave de ouro a minha carreira.

Estou muito entusiasmada com estes novos desafios na minha vida e quero dedicar-me a isso. Mas vou continuar a fazer fitness e tenciono experimentar algumas aulas de dança e artes circenses, mas sem a pressão competitiva.

Por último, que conselhos dirias a uma estreante nas lides da ginástica?

MN. Que sejam persistentes e que com trabalho todos os teus objectivos se concretizam. Sem paixão pelo desporto, nada disto é possível. Acima de tudo, a ginástica tem de ser divertida, pois isso é o mais importante.

Obrigada por toda a tua disponibilidade

Team Gym (Foto: Arquivo Pessoal)

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