José Leal da Costa.”O nosso foco no Évora é integrar jogadores e evolui-los”

Francisco IsaacAbril 30, 20208min0

José Leal da Costa.”O nosso foco no Évora é integrar jogadores e evolui-los”

Francisco IsaacAbril 30, 20208min0
Pilar, treinador-adjunto e um dos líderes do CR Évora falou com o Fair Play sobre o passado, presente e futuro. José Leal da Costa em exclusivo nesta entrevista
José Leal da Costa, como é viver nesta dualidade entre jogador, líder dos avançados e treinador-adjunto do CR Évora? Tens te divertido neste novo capítulo no rugby?

Nem sempre é fácil! Pela minha personalidade e experiência acabo por liderar com alguma naturalidade, em especial nos avançados, mas às vezes tenho de me lembrar a mim próprio que a minha função não é só orientar os outros, também preciso de me concentrar e fazer o meu jogo! Mas tenho gostado muito, também pela forma como fui recebido desde o início.

A maioria das pessoas não têm noção do dia-a-dia de um clube como o CR Évora… é uma realidade fácil ou têm mais obstáculos que a maioria dos emblemas do litoral?

É uma realidade que não é nada fácil! A maior dificuldade tem sem dúvida tem a ver com metade da equipa viver em Lisboa e a outra metade em Évora. As viagens para treinos vão se fazendo nos dois sentidos mas causa desgaste e nem sempre é fácil treinar juntos! Em cima disso cada um tem sempre as suas vidas profissionais, escolares e pessoais que é preciso ir gerindo! Como no total somos poucos, estas dificuldades pesam ainda mais.

Qual é a tua opinião em relação do nível exibicional que têm apresentado nesta época? Os objectivos têm sido cumpridos até aqui?

Esta época acho que temos tido um nível aceitável em média, mas com alguns altos e baixos. Ganhamos alguns jogos que esperávamos ser dos mais difíceis, mas também já perdemos alguns que esperávamos ganhar. Um dos factores que contribui para esta inconsistência é termos um plantel curto e quando alguns jogadores não estão por lesão ou outra razão, por vezes é dificil equilibrar a equipa, em especial nalgumas posições específicas que temos poucos jogadores! Mas isso não é desculpa, vamos jogando com o que temos, dando oportunidades e tentando melhorar sempre!

Como definias o actual CR Évora? O foco é a subida de divisão no fim desta temporada?

O foco não é a subida, apesar de naturalmente termos uma natureza competitiva e vontade de ganhar todos os jogos. O foco para mim e para o Mi é integrar jogadores novos e que estes evoluam, ao mesmo tempo que tentamos ter uma equipa que jogue bem e pratique bom Rugby! Porque também é assim que todos se divertem, todos gostam de jogar bem, evoluir e de ganhar!

Como é jogar com a família, já que tens os teus primos todos ao teu lado? É uma marca característica do vosso clube?

É bom, gosto de jogar com os meus primos e o meu tio que também joga. Na verdade é uma oportunidade de estar mais tempo com eles.. tal como com os amigos que lá tenho. É a melhor coisa do Rugby, ser um desporto com uma componente social onde estamos com os nossos amigos. É uma marca do nosso clube haver primos/ irmãos/ familiares nas equipas vários escalões.

Como começaste a jogar rugby? Sempre gostaste da modalidade ou em algum momento quiseste parar de jogar?

Comecei a jogar com 11 anos. Uns amigos da escola jogavam e convenceram-me a ir treinar. Gostei e dei-me bem! Desde aí o Rugby foi crescendo e sendo cada vez mais importante na minha vida. Nunca pensei em parar de jogar.

Desde os sub-16 que és visto como um dos pilares de maior categoria do rugby português… o caminho tem sido longo para manter o nível? Terias feito alguma coisa de diferente?

Nos sub16/18 eu gostava era de jogar a 8! Ahah Mas depois fui sendo encaminhado, aprendendo e ganhando experiência como pilar. Acabei por conseguir chegar a um bom nível e representar a seleção, que era um objectivo e gostei muito. Também desde cedo gostei de aprender as partes específicas da posição e fui evoluindo nisso, especialmente na formação ordenada. Acho que não fazia nada diferente, cada altura é uma altura e as nossas prioridades também se vão alterando, portanto é ir aproveitando.

Porquê a ida para a AEIS Agronomia na altura? E como foi chegar, ver e vencer na Tapada?

Na altura fui viver e estudar para Lisboa e acabei por decidir ir jogar para a Agronomia. Os argumentos que me convenceram foi o facto de lá ter já alguns amigos que tinham vindo do CRE, a ideia que tinha de ser uma equipa com bom ambiente e muito importante também foi achar que ia ter oportunidade de jogar e de evoluir! O que acabou por se confirmar. Não havia muitos pilares e logo desde o início comecei a jogar nos seniores, inclusive muitas vezes o Chris (pilar neozelandês) jogava a asa e eu jogava a pilar! Joguei muitos minutos nesse ano e evolui bastante, acabando a época como titular a ganhar a taça de Portugal!

Sofreste uma lesão grave quando eras um dos melhores jogadores dos “agrónomos”… qual era o teu pensamento durante a recuperação? E sentiste que voltaste com a mesma mentalidade e capacidade?

O meu pensamento ao início nem era tanto em relação ao Rugby, eu queria mesmo era voltar a ter a minha independência, porque andar de muletas era muito chato! Ir para a universidade, não poder conduzir, tomar banho com o gesso. Coisas simples do dia a dia que ficaram dificultadas nessa altura era o que eu pensava mais! Mas sempre considerei naturalmente que iria voltar para o Rugby assim que estivesse bom, a minha mentalidade não mudou. No entanto não foi tão fácil como pensava voltar a estar em forma. Demorou algum tempo a recuperar fisicamente e a ganhar confiança.

Conquistaste quase tudo na Agronomia, mas houve algum jogo especial para ti?

Destaco dois jogos, os dois na época 2016/17. Foi a época em que voltámos a ganhar títulos na Agronomia depois de uns anos de seca! O primeiro jogo que destaco foi a vitória na supertaça! Foi contra o GDD, que tiha ganho tudo no ano antes e era super favorito, mas nós íamos com toda a vontade, queríamos mesmo muito ganhar e acabamos mesmo por conseguir! O outro jogo que destaco, mas com outro sentimento completamente diferente é a final do campeonato nesse ano. Fizemos uma época espetacular e criámos um grupo muito forte e muito unido e parecíamos destinados a ser campeões, mas infelizmente acabamos por perder a final na última jogada do encontro, que nos custou muito a todos!

Foto: Filipe Monte Fotografia
O que gostavas de fazer na modalidade depois de deixar de jogar? E, já agora, algum conselho para jovens primeiras-linhas que estão a chegar ao escalão sénior?

Sinceramente ainda não sei… nos últimos anos tenho tido esta experiência como treinador de avançados e tenho gostado, mas não sei ainda. Quando deixar de jogar logo vejo. Conselhos simples: gostem da formação ordenada e trabalhem para ter pernas fortes!

Quem foi a pessoa com quem mais gostaste de jogar ao lado? E o treinador que mais gostaste?

Esta é muito difícil de responder, joguei com grandes amigos, com outros que por jogar com eles com o tempo se tornaram também grandes amigos, com o meu irmão, com os meus primos… mas gostava muito de formar na 1a linha com o Gustavo e o Moreira! Treinador vou dizer Henrique Garcia, foi numa altura que eu ainda sabia pouco de Rugby e aprendi muitos skills básicos nessa altura.

Se pudesses reviver um jogo do teu passado, qual seria?

A final de 2016/17, repetir até ganhar!

Melhor jogador que viste a jogar em Portugal? E no Mundo?

Em Portugal o Duarte Cardoso Pinto era muito bom e gostei muito de jogar com ele. No mundo talvez Dan Carter.

Miguel Avó… treinador tempestivo ou calmo?

No geral calmo… mas também se irrita!

Super Rugby ou TOP14?

Super Rugby. Mas na verdade o que vejo mais é Premiership.

Qual o mais mágico: Guga Oliveira, Chico Borges ou Frederico Couto?

Cada um com as suas características… o Guga era bom a meter a equipa a jogar como playmaker, o Chico faz a diferença lá atrás com o jogo ao pé e a atacar nos canais exteriores e o Fred é muito forte no jogo aéreo e atacar com a bola na mão!

Queres deixar umas palavras para o público do CR Évora, Agronomia e as pessoas da oval lusa?

Venham ver os jogos e estar com todos! O principal ponto forte do Rugby é as amizades que se criam, portanto há que aproveitar! E para os que neste momento são público mas podiam estar lá dentro, aproveitem enquanto podem e venham jogar!

Ensaio de José Leal da Costa no CN1 2019/2020 (3:22)


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