João Loureiro. “O próximo passo é internacionalizar a Taça Vale do Tejo”

João BastosJaneiro 26, 201812min0

João Loureiro. “O próximo passo é internacionalizar a Taça Vale do Tejo”

João BastosJaneiro 26, 201812min0
Prosseguimos a ronda de entrevistas aos presidentes das Associações Territoriais de Natação com o Presidente da ANDS, João Loureiro

Durante a presente época, o Fair Play irá ao encontro das Associações Regionais, procurando falar com os respectivos representantes. A XXVI Taça Vale do Tejo serviu de pretexto para conversarmos com o Presidente da Associação de Natação do Distrito de Santarém, João Loureiro


João Loureiro, há quase 12 anos que dirige os destinos da natação do distrito de Santarém. Que diferenças vê na natação nacional de há 12 anos a esta parte?

JL: Ao longo destes 12 anos tenho assistido a muitas modificações na natação nacional, mas o que mais importa destacar é que as classificações a nível internacional, quer na natação pura, quer nas águas abertas, na natação artística ou no pólo aquático dão indicações que a natação, a nível nacional, está francamente melhor.

Por outro lado tenho assistido a uma maior exigência na formação dos técnicos e dos dirigentes, resultando num superior padrão de exigência na preparação dos nadadores.

Outro aspecto que importa realçar é a organização e funcionamento dos Centros de Alto Rendimento e a sua descentralização. É notório que estas estruturas têm desempenhado um papel muito relevante na formação de atletas de alto rendimento.

Por fim, um aspecto que me parece muito relevante é o projecto da FPN que visa a formação das escolas. O Portugal a Nadar é um bom exemplo de projecto que, se for bem aplicado nas escolas e na respectiva formação dos nadadores, poderá contribuir para uma maior qualidade futura dos nadadores e da competição.

Foto: Fair Play
E na natação do distrito de Santarém, qual é o “estado de arte” actual?

JL: A natação no distrito de Santarém tem acompanhado os evolução dos padrões de exigência da natação nacional. Temos tido mais nadadores a competir em competições nacionais e zonais, seja na natação pura, seja nas águas abertas. Temos assistido à chamada de um crescente número de nadadores do distrito para representar as selecções nacionais em competições e estágios.

No que diz respeito ao Centro de Alto Rendimento, vemos com agrado a inclusão de nadadores do Distrito no CAR de Rio Maior.

Estamos a preparar competições de índole inter-regional de pólo aquático. Vamos tentar implementar, no terreno, competições de pólo aquático e apoiar os clubes no fomento da natação artística.

Infelizmente na natação adaptada, o baixo número de nadadores filiados ainda não nos permite desenvolver competições para esta disciplina. Gostaríamos de incluir os nadadores de natação adaptada nas nossas competições.

Resumindo, posso concluir que os nossos melhores nadadores distritais estão, em média, muito mais perto do topo nacional do que há uma década atrás.

É militar de profissão. Encontra muitas características necessárias para um bom militar que também sejam aplicáveis para se ser um bom nadador?

JL: É uma pergunta curiosa, mas penso que sim!

A disciplina, o espírito de sacrifício, a abnegação, o espírito de grupo e a capacidade de organização do próprio tempo são características fundamentais às duas funções.

Quais são, neste momento, as prioridades da ANDS para continuar a desenvolver a natação no distrito de Santarém?

JL: A direcção da ANDS está muito preocupada com a formação de quadros. Consideramos de extrema relevância formarmos mais técnicos, dirigentes e árbitros.

Consideramos prioritário continuarmos a desenvolver estágios inter-regionais nas categorias de cadetes, infantis e juvenis e equacionamos desenvolver treinos conjuntos entre os melhores nadadores de cada distrito, mediante critérios definidos.

Mantemos a intenção de apoiar e desenvolver a prática competitiva no pólo aquático, na natação artística e na natação adaptada.

Outro ponto de honra para nós, é manter selecções desde cadetes a absolutos inscrevendo-as em competições de nível distrital, nacional e mesmo internacional. Queremos manter essa aposta.

Há vários anos que a ANDS tem levado nadadores às selecções nacionais desde infantis até juniores. Nos seniores e absolutos tem sido menos recorrente. É difícil aos clubes de Santarém manter os seus nadadores em idade de sénior?

JL: É um problema que tem a ver com a deslocalização dos nadadores para os grandes centro universitários do país. Não é uma situação que acontece só no nosso distrito mas o que é facto é que, chegando à idade universitária, os nadadores vão maioritariamente para Lisboa, Porto e Coimbra.

Por força dessa deslocalização e pela exigência da carreira académica, ou abandonam a modalidade ou passam a representar clubes das cidades para onde vão estudar.

Foto: Fair Play
O Distrito nunca teve um clube na 1ª divisão, apesar de já ter tido vários clubes nas 2ªs divisões com prestações bastante dignas. Com o alargamento da 1ª divisão a 12 clubes, acha que pode ser possível a ANDS vir a estar representada no escalão máximo da natação nacional?

JL: Não há impossíveis. Acredito que é difícil, mas acredito que possa ser uma realidade.

Neste artigo mostramos que a ANDS tem mantido uma participação no Torneio Zonal de Juvenis constante em número de nadadores, mas o número de clubes tem vindo a descer. É uma situação preocupante ou apenas uma circunstância que se reverterá em breve?

JL: Continua a ser uma preocupação para nós. No entanto, vemos com agrado que esta época já se filiaram mais 3 clubes e temos mais nadadores filiados e esse pode ser um indicador que mostra que a natação no distrito se está a revitalizar e que em breve teremos mais clubes representados nas competições nacionais e zonais.

O facto do número de nadadores se manter deve-se à proximidade geográfica entre vários clubes do distrito e temos vários nadadores que se transferem para outros clubes, nomeadamente quando o seu clube anterior se extingue, daí que o número se mantenha.

Mas penso que a tendência será termos cada vez mais nadadores e mais clubes em competições nacionais e zonais.

É já neste fim-de-semana que se disputa a XXVI Edição da Taça Vale do Tejo, a única prova inter-distrital do país. Que importância tem para o Distrito ser o ponto de encontro de todo o país e poder organizar esta competição tão singular?

JL: Para o distrito é muito importante e uma enorme responsabilidade. Acreditamos que esta prova, pelas suas características e pela sua singularidade, se torna um marco muito importante na carreira dos nadadores infantis e juvenis que são convocados para representar as suas associações.

É minha convicção que o Distrito de Santarém se deve orgulhar de organizar esta prova. Sentimos que esta convicção também é partilhada pelo município de Abrantes que há vários anos apadrinha esta prova e cujo apoio tem sido inexcedível. Para a Câmara Municipal de Abrantes o nosso agradecimento pela forma como acolhe, todos os anos, esta prova.

Pelas suas características e pela sua singularidade é extremamente importante que esta prova se dispute no Distrito de Santarém e, particularmente, na cidade de Abrantes.

XXVI Taça Vale do Tejo – Antevisão

E não é só para a ANDS que esta Taça tem enorme relevo. Também a FPN reconheceu recentemente a importância desta competição, inserindo-a na Política Desportiva Nacional como prova obrigatória do início do 2º macrociclo. Que importância tem este reconhecimento para a Taça e para a ANDS?

JL: Este reconhecimento e a inclusão da Taça Vale do Tejo no calendário nacional já tinha sido feito no ano passado, mas este ano tornou-se mais evidente.

Vem ao encontro da ambição que a ANDS sempre teve para a Taça Vale do Tejo de a tornar numa competição reconhecidamente nacional.

O facto de se tornar uma prova obrigatória no calendário nacional, resulta com que mais associações e mais nadadores participem, aumentando também a qualidade das participações.

Este ano propusemos junto da FPN que esta prova fosse inscrita no calendário da LEN e o próximo passo é internacionalizar a Taça Vale do Tejo.

E este ano, pela primeira vez vamos ter as 13 associações em competição?

JL: Ainda não teremos a Associação de Natação da Região dos Açores, mas pela primeira vez teremos a Associação de Natação da Madeira a participar nesta competição. Participará com uma delegação mais reduzida, mas tudo indica que para a próxima época estará representada com mais nadadores.

Acredito que para o ano os Açores já estarão presentes na Taça e que a 27ª edição ficará marcada como aquela onde se conseguiu o pleno das Associações. Fica lançado o repto à ANARA para se juntar a nós no próximo ano.

O facto da Taça este ano ser antecipada e disputar-se em Janeiro (ao invés de Março) pode prejudicar o nível competitivo?

JL: A data foi uma proposta da Federação Portuguesa de Natação e nas reuniões, quando foram referidas estas datas não houve grandes objecções, donde posso concluir que da data não resultará prejuízo para o nível competitivo da competição.

Foi a Federação que considerou que, dentro deste macrociclo competitivo, esta seria a melhor data para realizar esta competição.

Para este ano também há perspectivas de mais recordes nacionais, como aconteceu no ano passado?

JL: A Taça Vale do Tejo tem sido palco de recordes nacionais, sejam em estafetas, sejam individuais. Eu acredito que teremos mais recordes a cair este ano. É sempre gratificante para qualquer organização que uma competição seja brindada com recordes nacionais.

Se esse recordes viessem por parte de nadadores da ANDS, como aconteceu com a estafeta masculina juvenil-B de 4×100 estilos há 4 anos, seria um orgulho muito grande para nós.

Foto: Fair Play
A ANDS tem também uma tradição muito grande nas provas de Águas Abertas, organizando a prova mais antiga do Circuito Nacional de Águas Abertas (Travessia dos Templários). É uma aposta para continuar?

JL: Claro. Tem já data marcada para este ano. Como é tradição, realizar-se-á no último domingo do mês de Setembro e vamos propô-la para inclusão no Circuito Nacional de Águas Abertas, como aconteceu no ano passado.

Este ano mudamos a localização da prova da Ilha do Lombo para a Praia Fluvial de Vila Nova, um local que oferece melhores condições para realização da prova. Com o investimento que a Junta de Freguesia está lá a realizar, acredito que ficaremos com ainda melhores condições.

Esta é a nossa prova rainha das Águas Abertas.

E o Circuito do Vale do Tejo, poderá voltar a organizar-se?

JL: O Circuito Vale do Tejo quando existia era composto por quatro provas: a prova de mar da baía de Sines, organizada pelo Clube de Natação do Litoral Alentejano fazia parte do circuito porque o CNLA estava filiado na ANDS, o Aquapolis, em Abrantes, deixou de se organizar porque o açude deixou de funcionar e a qualidade das águas do Tejo não permite organizar aí a prova.

Ficando apenas a Travessia dos Templários e o Challenge, não faria sentido chamar-lhe circuito, mas existe a perspectiva de virmos a realizar mais uma prova de Águas Abertas este ano. Se se efectivar, podemos voltar a equacionar o regresso do Circuito Vale do Tejo, caso tenhamos essas três provas no distrito.

Esta tradição também tem conduzido a que a ANDS tenha tido ao longo dos últimos anos nadadores de destaque nas AA a nível nacional. Poderá ser nesta vertente que surgirá o próximo nadador olímpico do Distrito de Santarém, sucedendo ao Pedro Oliveira?

JL: Acredito que sim. Há atletas do distrito de Santarém nesta vertente que poderão chegar aos melhores a nível nacional.

Mantendo-se os padrões de exigência e de capacidade dos atletas, acredito que há condições para algum nadador da ANDS poder chegar a esse patamar nesta variante. Acredito que é nesta vertente que estamos mais próximos.

Mas seja em que disciplina for, o importante é que voltemos a ter um nadador do Distrito de Santarém nos Jogos Olímpicos.

Para terminar, a nossa pergunta da praxe: Acha que há Fair Play na natação e, sobretudo, na natação do distrito de Santarém?

JL: De um modo geral, creio que há Fair Play na natação e no distrito de Santarém.

Mas acredito que neste aspecto podíamos estar melhor se tivéssemos em linha de conta que, para além de atletas, estamos a formar homens e mulheres. É importante fomentarmos no contexto competitivo valores como o respeito, a verdade, a educação e a amizade que são pilares fundamentais do desenvolvimento humano.

Valores que devemos todos fomentar não só entre os atletas, mas também entre os dirigentes, técnicos e árbitros. Se todos comungarmos desses valores, certamente que haverá mais Fair Play na natação.

Muito obrigado em nome do Fair Play e muitos sucessos para a ANDS!

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