Hugo Ribeiro. “Esta modalidade ainda tem um longo caminho a percorrer”

João BastosNovembro 1, 201722min0
O nadador do Estrelas São João de Brito, Hugo Ribeiro, concedeu uma entrevista exclusiva ao Fair Play onde falou sobre a sua carreira

Recentemente venceu a Triple Corona Illas Atlanticas e foi vice-campeão do Circuito Nacional de Águas Abertas. O Fair Play falou com Hugo Ribeiro sobre a sua carreira nas águas abertas


Hugo, sagraste-te recentemente vencedor da Tripla Corona Illas Atlanticas, uma prova que dura três anos. Para os menos familiarizados, conta-nos no que consiste esta prova.

HR: A Triple Corona – Illas Atlanticas é uma prova singular, constituída por 3 competições que decorrem em anos consecutivos e com distâncias progressivamente maiores (13, 16 e 28km), num total de 57km de nado. Uma das particularidades deste evento, é o facto de cada uma das etapas decorrer numa das 3 principais Rías Baixas Galegas (Vigo, Pontevedra e Arousa), tendo sempre início numa Ilha Atlântica e terminando em “terra firme”.

A prova é descrita como a mais dura da Europa. Tu que és um nadador de águas abertas muito experiente, consideras que o rótulo é justificado? Porquê?

HR: Penso que o título mais usado foi “a prova mais dura da Península Ibérica”…neste caso parece-me justificável, não só pelas distâncias envolvidas, em que muito poucas competições ibéricas que conheça se aproximem de tais valores (em especial da última etapa), mas também e principalmente pelos diversos fatores de dureza inerentes a este evento: as fortes correntes marítimas, ondulação e vento – provenientes do nado em mar aberto (presente em todas as 3 etapas, essencialmente na parte inicial dos percursos, após a saída das ilhas); e as marés e baixas temperaturas da água – características das Rías Baixas Galegas. A última etapa, ao condensar e somar todas estas caraterísticas à distância de 28km, penso que seja uma das provas mais duras e desafiantes a nível europeu.

Foto: Juan Barreras Garcia-Reboredo
Já tens programado o próximo grande desafio?

HR: Sinceramente não. Já há alguns anos para cá que tenho vindo a ter anualmente vários convites para competições de águas abertas, em especial no estrangeiro. No entanto estou numa fase em que a minha vida pessoal e profissional “fala mais alto”, tenho responsabilidades e não tenho tempo para me dedicar a 100% à modalidade. E por isso não tenho qualquer tipo de planos. Este ano quis apenas cumprir a última etapa da Triple Corona, de modo a fechar o ciclo que tinha iniciado em 2015.

No teu currículo tens excelentes resultados em várias distâncias nas águas abertas. De modo geral, quais são as principais mudanças na tua preparação para provas longas e curtas?

HR: De forma geral, sendo os 10km a distância “rainha” (principalmente desde de que foi tornada distância olímpica) no panorama internacional, a minha preparação foi sempre mais focada nesta distância e nas características inerentes a este tipo de prova. No entanto, acabava por fazer algumas alterações quando visava outras distâncias.

Para competições de 5km (ou menos), de forma geral diminuía um pouco o volume total das sessões, mantendo volumes similares nas tarefas de intensidade – focando a qualidade de execução da tarefa e introduzia um pouco mais de tarefas de velocidade, pois os 5km (comparando com os 10km) são provas que geralmente são bastante rápidas e intensas do início ao fim.

No que diz respeito a provas superiores a 10km, o volume total por sessão e semanal era aumentado, bem como o volume das tarefas de trabalho aeróbio, sem descorar algum trabalho de velocidade. Também eram trabalhadas as mudanças de ritmo, uma peça fundamental nas competições internacionais mais longas.

No ano passado, quando foste campeão nacional dos 5km, referiste que “as condições estavam boas para mim com a água de mar fresquinha”. Quais são as condições de prova que menos preferes?

HR: Sou um nadador que, para além de gostar muito mais de nadar em mar, com ondulação e água fria, consigo obter melhor rendimento quando me encontro perante este tipo de condições – as quais se opõem claramente às que se encontram vulgarmente numa piscina.

Assim sendo, posso dizer que as condições que menos prefiro são aquelas em que o plano de água mais se assemelha a uma piscina: rio, água parada e mais quente.

Quase desde o início da minha carreira nas águas abertas demonstrei alguma capacidade para suportar/obter rendimento em águas a baixas temperaturas e, com o passar do tempo, essa capacidade foi sendo desenvolvida até se tornar numa das minhas melhores características.

O Top 10 nos Europeus de 2016 é o melhor resultado da tua carreira?

HR: Sim, em Campeonatos da Europa foi o 9º lugar aos 25km.

(…) infelizmente nunca tive a oportunidade de nadar os 10km num mundial. Ainda que nessas alturas estivesse constantemente no top 1 ou 2 nacional da distância, quer tenha sido por incompetência/ignorância (falta de conhecimento técnico da modalidade), quer por falta de imparcialidade nas escolhas por parte dos responsáveis, a realidade é que fiquei sempre em casa e, inacreditavelmente e injustamente, nunca me foi dada tal oportunidade.

Apesar desse resultado nos 25 km, nunca foste selecionado para representar Portugal num mundial, nessa distância. O que falta?

HR: Não faltou nada e, ao mesmo tempo, faltou muito…

Em primeiro lugar a única “aposta” federativa remetia-se essencialmente para a distância dos 10km. Ou seja, a distância de 25km estava negligenciada, não tinha qualquer tipo ou forma de apuramento. Basicamente, quem fosse ao mundial nadar os 10km tinha opção de escolha para nadar os 5km ou 25km. O que é deveras estranho porque, mesmo dentro das águas abertas há claramente nadadores mais especializados em diferentes distâncias e não é compreensível que não se entenda tal facto!

Em segundo lugar, infelizmente nunca tive a oportunidade de nadar os 10km num mundial. Ainda que nessas alturas estivesse constantemente no top 1 ou 2 nacional da distância, quer tenha sido por incompetência/ignorância (falta de conhecimento técnico da modalidade), quer por falta de imparcialidade nas escolhas por parte dos responsáveis, a realidade é que fiquei sempre em casa e, inacreditavelmente e injustamente, nunca me foi dada tal oportunidade.

E em Portugal, achas que há condições para começar a haver provas de distâncias superiores à distância olímpica (10 km)?

HR: Em Portugal, o que não faltam são locais espantosos para a prática deste desporto, quer em rio, quer em mar.

Quanto às distâncias mais longas, e sem procurar muito, só no norte, por exemplo, temos o Rio Douro, que noutros tempos já fora palco de vários eventos de águas abertas. Se não me engano, entre Crestuma e a Foz temos espaço suficiente para a possível realização de um evento internacional de grande dimensão, como um “descenso” de longa distância. As características do Rio (ex: largura, existência de pontes, localização, turismo, etc) são altamente prometedoras de proporcionar um espetáculo único, não só para os atletas, mas em especial para o público, que poderia acompanhar a competição bem de perto.

Também ao nível do plano marítimo, temos uma costa enorme e lindíssima, com grande potencial para receber um evento deste tipo.

Para que tal aconteça é fundamental ter um grupo de pessoas capazes, seja a nível técnico da modalidade, seja ao nível da organização de eventos, de forma a poder reunir os apoios (autárquicos, institucionais, etc) necessários para a realização de um evento de nível, que seja capaz de deixar a sua marca no calendário internacional de águas abertas.

Acabo por ter um enorme reconhecimento no estrangeiro, ao contrário do que tenho no meu próprio país!

Por que ao longo da tua carreira sempre procuraste competir muitas vezes fora do país?

HR: Era a única forma de evoluir competitivamente!

Em Portugal, estava muito limitado pela quantidade relativamente baixa e concentrada de provas nacionais, assim como pelas que ia pela seleção.

Como até iniciei a minha atividade nas águas abertas na Galiza, quando pretendi levar a modalidade mais a sério falei com os meus pais e comecei a participar num número cada vez maior de provas, para ganhar experiência e ritmo competitivo. Inicialmente comecei pala Galiza e Portugal, e depois fui alargando a toda a Espanha e para outros países da Europa e América. Foi um risco (de certa forma calculado) que tomei, juntamente com a minha família, mas que compensou totalmente – felizmente consegui chegar ao um nível em que até comecei a receber propostas/convites para diversas provas no estrangeiro, sendo que algumas dessas competições só se entra por convite.

Aliás, alguns dos meus melhores resultados internacionais, e inclusivamente históricos e inéditos para um nadador Português (mas não devidamente valorizados), como o 4º lugar na Taça do Mundo FINA Grand Prix 32km (2015) e o 5º lugar no Ranking Final do Circuito de Taças Europeias LEN (2016) – Melhores Classificações de Sempre dum Português, foram obtidos à custa de investimento financeiro próprio (esta última também com apoio do clube ESJB).

O engraçado, e ao mesmo tempo triste e lamentável, é que acabo por ter um enorme reconhecimento no estrangeiro, ao contrário do que tenho no meu próprio país!

Foto: Nuno Lopes
De modo geral, o que muda de uma prova de 10km para uma de 25 ou mais km na tua estratégia de prova e nutrição?

HR: Ao nível da nutrição, nas provas de 10km a quantidade de abastecimentos depende de vários fatores, como o tipo de percurso (características do circuito), posicionamento do pontão de abastecimento, das características dos atletas adversários e, em especial, do que ocorre durante a prova…como é uma distância em que um número mínimo de abastecimentos (1 ou 2) é exequível sem ter um impacto muito negativo no rendimento, muitas vezes o que acontecia é que tinha um plano inicial, mas que depois era adaptado ao longo da prova, mediante o que se passava (ritmo de prova, posicionamento no grupo, sensações, etc).

Já nas provas mais longas, a nutrição têm um papel fundamental desde início da prova – tenho de me alimentar logo desde início e com a maior frequência permitida pelo circuito (ou de 15/20min no caso de serem provas com percurso específico e com um barco de abastecimento para cada atleta), uma vez que se não o fizer, dada a duração da prova, chega-se a determinada altura em que o corpo já não consegue “recuperar” do desgaste energético.

Relativamente à estratégia também difere bastante: os 10km são provas mais rápidas (com um ritmo superior ao longo de toda a prova), mas a estratégia que aplicava dependia muito do tipo de prova (nacional ou internacional), das características dos atletas adversários e do plano de água, e do tamanho do pelotão. Por exemplo, as provas nacionais são provas mais lentas e com um pelotão mais reduzido, e a estratégia passa muito por gerir a energia, estar atento a ataques e atacar quando sentir que é o momento para tal, ou preparar o sprint final; já as provas internacionais são mais rápidas, com pelotões maiores e nadadores com grande velocidade, e o que acontecia é que tentava aguentar os ritmos da frente, sempre gerindo o esforço tanto quanto conseguisse, manter um bom posicionamento no grupo (face aos abastecimentos ou viragens de boia)…tudo de modo a terminar o mais na frente possível; nas provas mais longas, ainda que os ritmos sejam inferiores aos 10km, a grande diferença é que há muitas mudanças abruptas de ritmo e sendo distâncias muito longas torna-se essencial que haja uma gestão cuidada do balanço entre a “resposta aos ataques” VS “economia de energia”, na busca da melhor classificação.

Entrevistamos a Vânia Neves em Maio deste ano e ela revelou-nos que gostaria de fazer uma prova de 25km em breve. Na tua opinião, qual seria o perfil de um nadador (a) ideal para esta prova?

HR: Na minha opinião, um nadador ideal de ultra-maratonas de águas abertas deve ter 3 características fundamentais: a capacidade de sofrimento, intrínseca à distância de nado e ao tipo/dureza da preparação necessária para poder competir neste tipo de provas; a determinação (a roçar um pouco a teimosia), que está muito relacionada com a primeira – penso que é necessário ter muito claro na cabeça o(s) objetivo(s) e o “porquê” de estar ali (seja na prova, seja a treinar para a prova); e, por último, a capacidade de concentração/sangue frio, isto porque ao competir durante 5h, 6h ou 7h, é necessário ter noção do desgaste muscular/energético que vai sucedendo ao longo da competição, de modo a realizar a melhor gestão possível do esforço, e ao mesmo tempo, conseguir abstrair-se dessas sensações para conseguir “competir”, tomar decisões estratégicas, “auto-superar-se” e, assim, poder tirar o melhor rendimento possível.

No final da época 2015/2016 anunciaste o fim da tua carreira, mas felizmente continuamos a ver-te a competir muitas vezes e sempre em grande nível. O que te fez mudar de ideias?

HR: A realidade é que não mudei de ideias. No ano passado surgiram mudanças na minha vida pessoal, familiar e profissional que trouxeram novas responsabilidades, o que me levou a tomar a decisão de encerrar a minha carreira de alta competição. A falta de apoios financeiros (autárquicos, institucionais e principalmente federativos) foi outro facto que contribuiu para tal decisão.

No entanto, não só o gosto pela modalidade e pela própria competição, como também a existência de alguns compromissos anteriores (como foi o caso da Triple Corona) e a reativação do Circuito Nacional, fizeram com que continuasse a fazer provas de águas abertas no Verão, ainda que sem o treino e objetivos de outrora, mas com o intuito de desfrutar o melhor possível da modalidade e da competição (e ainda tentando ganhar algum dinheiro tanto quanto possível, ou pelo menos não perder).

Foto: Virgui Izquierdo
O que muita gente não sabe é que tu treinas diversas vezes sozinho. Consegues motivar-te para te preparares para provas de muitos km treinando sozinho?

HR: Fui conseguindo, mas não é fácil.

Acho que é preciso ter muito claro na nossa mente o objetivo que queremos, o quanto o queremos e o que temos de fazer diariamente para o poder atingir.

Quanto à motivação, ia “buscá-la” às mais diversas coisas, desde música, vídeos inspiradores, visualização mental…até mesmo à vontade de provar às pessoas o meu valor ou que estas estão erradas acerca de determinadas decisões (o que foi deveras comum no meu caso).

Associado a esta, também estava o rigor/disciplina pois é necessário treinar no limite e há sempre caminhos mais fáceis à espreita…

Para além de tudo isto, foi absolutamente imprescindível ter uma base de suporte familiar, que me apoiou incondicionalmente, em todos os aspetos.

(…) até 2016 realizava 10 a 11 sessões de água por semana (com volumes médios de 70/80km semanais) e 3 sessões de trabalho físico.

E conciliar os treinos e as provas com a tua atividade profissional e vida pessoal, é a tarefa mais complicada do dia-a-dia?

HR: Sem dúvida!

Claro que, neste momento já não tenho aquela auto-obrigação que tinha e vou nadando quando posso ou me apetece.

No entanto, já trabalho desde 2013, e até 2016 realizava 10 a 11 sessões de água por semana (com volumes médios de 70/80km semanais) e 3 sessões de trabalho físico. Isto a acrescentar ao trabalho, ainda que em part-time (na altura), de cerca de 15h por semana, fazia com que a gestão diária fosse bastante apertada, pois ainda tinha de arranjar tempo para descansar, o que é tão importante quanto o treino.

Como vês o presente e o futuro das águas abertas em Portugal? Quais são os nossos maiores desafios?

HR: A realidade das Águas Abertas em Portugal é que, apesar de irem surgindo alguns resultados internacionais de relevo ao longo dos anos (praticamente desde a altura, em que se começou a levar a modalidade mais a sério), estes devem-se apenas e exclusivamente, a alguns talentos naturais, que de vez em quando vão surgindo.

A meu ver, esta modalidade ainda tem um longo caminho a percorrer, mudanças por realizar e atitudes para melhorar.

Começando pelos atletas e treinadores, quem pretende apostar seriamente nas águas abertas deve-se mentalizar que, apesar da relação íntima e inevitável com a natação pura, há também grandes diferenças às quais se devem adaptar e especificar, nomeadamente: na calendarização/planificação da época – um “verdadeiro” atleta de águas abertas não pode parar no verão, sendo este um período muito abundante de provas em Portugal e, em especial, no estrangeiro. É a fazer provas, sejam elas de maior ou menor nível, que se ganha ritmo competitivo e experiência! Aliás, os circuitos internacionais mais relevantes (Taças do Mundo FINA e Taças da Europa LEN) só terminam em Outubro. Portanto, na minha opinião, o descanso do nadador de AA deve ser em Novembro (saltando o Nacional de p25, que não é de todo uma competição prioritária para AA), para iniciar novamente a preparação em finais deste mês, apontando para competições internacionais como a 1ª Taça do Mundo FINA em Janeiro; ao nível do treino, também deve haver uma diferenciação, pois há capacidades específicas (resistência, mudanças de ritmo, capacidade de término da prova, tipos de respiração, etc) que devem ser desenvolvidas e exploradas, e com planificações de época ainda que ligeiramente diferentes, não é concebível que nadadores de águas abertas (5km/10km/25km) treinem o mesmo ou muito similar a nadadores de fundo (800m/1500m) de natação pura; por último, aconselho a investirem por si próprios, investiguem e arrisquem a ir a provas lá fora para ganhar experiência competitiva e conhecer melhor os adversários, e não se limitem às provas aqui no “cocoruto” ou que “talvez” vão pela seleção – só assim se evolui neste momento.

Quanto aos Clubes, parece-me que andam sempre cá os mesmos. É lógico que há quem encare as águas abertas como uma mera preparação pré-época e estão claramente no seu direito. No entanto, há atletas que querem apostar nesta modalidade e muitas vezes não o fazem por meros impedimentos, até a nível logístico…Se queremos que esta modalidade evolua, temos também de começar por baixo, pelos mais novos, fomentar o contacto mais cedo com as águas abertas e, caso o interesse e gosto surja, proporcionar o apoio necessário para uma aposta séria na modalidade. Afinal, bons resultados em águas abertas valem tanto como em natação pura!

Relativamente às organizações de competições de águas abertas, se queremos ter competições de nível, temos de ter qualidade e conhecimento acerca da modalidade, de modo a dar as condições ideais aos atletas para um bom espetáculo. Para além disso, sendo um desporto tão exigente e já com algum nível em Portugal, também deve haver uma premiação adequada: no final de contas são os atletas os protagonistas do espetáculo!

Outra questão também importante, a arbitragem – um dos grandes problemas das águas abertas e que, nos últimos anos não tem tido qualquer melhoria, muito pelo contrário. Na maior parte das provas nacionais nota-se uma clara displicência, falta de conhecimento da modalidade e das regras inerentes a ela. Não é concebível que não acompanhem devidamente as provas, enganem-se a contar as voltas, não saibam dar as partidas, coloquem barcos/canoas à frente dos atletas, não saibam os percursos corretos, não saibam o que são fatos homologados para águas abertas, etc…e poderia continuar…tudo isto situações que já aconteceram e recentemente…! E isto é também um impedimento para a evolução dos nadadores. Deve haver maior e melhor formação dos árbitros, assim como uma escolha mais cuidada destes. Para além disto, a partida separada entre setores masculino e feminino, como acontece nas provas internacionais, é uma mais-valia competitiva que deve ser introduzida!

Por último, ao nível federativo há diversas situações a melhorar – uma aposta séria e alargada na modalidade, isto é, as águas abertas têm tido resultados relativamente significativos nos últimos anos, mas ainda assim não têm o apoio que deveriam: maior participação em taças do mundo FINA e taças da europa LEN e não apostar apenas em 1 ou 2 atletas, mas sim num grupo de trabalho consistente e sério. Ainda em 2016 vimos como correu “mal” a aposta num único atleta, e com um grupo mais alargado certamente que as hipóteses são maiores. Para além disso, não se pode exigir resultados em europeus ou mundiais de um atleta que fez 2 provas de águas abertas nesse ano e vai nadar contra outros que fizeram 5 ou 6 vezes mais… Há também que reconhecer e diferenciar a aposta em termos de distâncias: porque não apostar nas 3 distâncias oficiais (5km, 10km, 25km) com o estabelecimento de critérios de seleção reduzidos, claros e objectivos! (o que não acontece na actualidade).

Por outro lado, ao nível organizativo, temos a Taça do Mundo de Setúbal e a reativação do Circuito Nacional, fatores bastante positivos. No caso deste último, necessita ainda de várias melhorias significativas, nomeadamente ao nível da organização (Ex: começando por ter um Regulamento, que proporcione à partida igualdade e equidade entre todos ao participantes, o que não aconteceu de todo nesta edição e que motivou uma classificação final completamente “distorcida” do que realmente aconteceu), das condições (Ex: chips e placas de chegada e não um cilindro), das provas que entram para o circuito e do sistema de pontuação (Ex: as diferenças pontuais entre as distâncias devem ser encurtadas), etc …..

Já ao nível da imagem da modalidade, penso que a projeção pública tem de ser maior, mais similar à da natação pura, com transmissões televisivas dos Nacionais, não só da Taça do Mundo, e mais reportagens/notícias dos atletas.

Uma maior projeção da modalidade seria benéfica para todos.

Para terminar, a nossa pergunta da praxe: Achas que há Fair Play nas águas abertas?

HR: Seja em Portugal, seja no estrangeiro, penso que há de tudo.

Pelas competições por onde já passei, e que não foram propriamente poucas (mais de 200), houve situações que me marcaram, quer pela positiva, quer pela negativa.

Por um lado, penso que é de louvar a existência de respeito mútuo entre atletas, como presenciei em especial nas provas internacionais mais longas que fiz. Ainda este ano, na prova de Viana do Castelo vivenciei outro exemplo disso com uma “batalha” cerrada até final, quase sempre lado a lado, com o Alexandre Coutinho, numa competição séria mas saudável.

Por outro lado, nos últimos anos, com o aumento exponencial da competitividade, verifiquei que há nadadores (e treinadores…) que não sabem lidar com isso e que reagem de forma ilegal, com contactos propositados indevidos ou a cortar boias, safando-se até de serem penalizados pois exploram a negligência da arbitragem (Ex: não acompanhar devidamente os nadadores durante a prova). Ainda há pouco tempo estava a ver a reportagem da Taça do Mundo de Setúbal e, quando transmitem uma viragem da boia vê-se claramente um nadador a surgir debaixo da água após cortar por dentro da boia, o que é inadmissível, mau para a imagem da modalidade e uma clara falta de fairplay.

Foto: Joaquim Sousa
Muito obrigado em nome do Fair Play e que venham as tuas próximas conquistas!

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