Gonçalo Medeiros. “A liderança do CF “Os Belenenses” foi inequívoca”

José NascimentoMaio 10, 202011min0

Gonçalo Medeiros. “A liderança do CF “Os Belenenses” foi inequívoca”

José NascimentoMaio 10, 202011min0
O jovem de 21 anos falou com o Fair Play sobre a sua carreira, os empréstimos e a subida à 1ª divisão distrital da AF Lisboa pelo CF "Os Belenenses". A entrevista exclusivo com Gonçalo Medeiros

Gonçalo Medeiros, jogador dos quadros do CD Santa Clara, foi emprestado em Dezembro ao CF “Os Belenenses”, que garantiram a subida à 1ª divisião distrital da AF Lisboa. O jogador de apenas 21 anos, mas já com uma vasta experiência na “bagagem”, fez a formação no Linda-a-Velha e em seguida rumou ao Sport Lisboa e Benfica. No escalão júnior ruma ao Casa Pia e em seguida destaca-se no Estoril onde conseguiu alcançar a promoção em duas épocas consecutivas.

Esta sua consistência fez despertar o interesse dos açorianos do Santa Clara, que acabaram por o contratar. Na época 2019/2020 joga a 1ª metade da época no Sporting Ideal equipa do CNS para depois ser cedido ao histórico emblema lisboeta.

Depois da AFL (Associação de Futebol de Lisboa) ter divulgado a decisão que terminou com os campeonatos distritais, o histórico Clube de Futebol “Os Belenenses” conseguiu alcançar a promoção para a 1ª Divisão distrital. Como é que esta promoção foi vivida dentro do balneário?

GM: Olá a todos! Antes demais, quero agradecer ao José Nascimento e ao Fair Play a oportunidade de termos esta conversa. Respondendo à questão, a subida à 1ª divisão distrital foi vivida com enorme satisfação, até porque foi o concretizar de um dos objetivos da época. Infelizmente, não pôde ser festejada em “ambiente de balneário”, devido às excecionais circunstâncias que o país e o mundo está a atravessar. Obviamente, gostaríamos de ter disputado a época até ao fim, mas tal não foi possível. De qualquer modo, a nossa liderança foi inequívoca, pelo que aceitamos com naturalidade as decisões tomadas pela AFL.

Podemos ver o Belenenses como uma espécie de PSG (Paris Saint-Germain) das distritais? Qual a sensação de jogar na distrital com cerca de 2000 pessoas a assistirem?

GM: Ambos os clubes foram campeões em 2019/20. Isso temos, de fato, em comum. A massa associativa do Belenenses é extraordinária. O apoio que tivemos no decorrer da época foi incansável. Jogar fora, contra qualquer equipa, foi quase como se estivéssemos a jogar em casa, devido ao apoio fantástico que sempre tivemos. Os adeptos foram sempre inexcedíveis, e quero agradecer-lhes por todo o carinho que me dispensaram. Por outro lado, temos boas condições de trabalho e, como tal, foi com enorme sentido de responsabilidade que todos cumprimos o nosso papel na equipa. Para mais tarde fica um sentimento de orgulho por ter feito parte do plantel que venceu o campeonato e subiu de divisão, no ano do centenário do clube.

Gonçalo, tu que já subiste de Divisão com o Estoril B nas épocas 2016/2017 e 2017/2018, um como júnior e outra como sénior na equipa B podemos afirmar que és um jogador talismã das subidas? Todos sabemos que estas divisões são muito competitivas e físicas, qual é a chave para o sucesso de uma equipa?

GM: O sucesso não acontece por acaso. É fruto de muito trabalho, muita dedicação, muita força mental e muita disciplina. Quando estou ao serviço de um clube, o que me move é ajudar esse clube a atingir os seus objetivos. Por onde passei, tive o privilégio de trabalhar com ótimos grupos de trabalho, que me permitiram também ser ainda mais competitivo e que me proporcionaram momentos inesquecíveis, tais como as diversas subidas de divisão e títulos conquistados. A chave para o sucesso de uma equipa é o resultado dos contributos de todos os jogadores, equipa técnica e dirigentes. Todos os elementos devem estar interligados e funcionar como um todo. E, claro, com bom ambiente.

Sentes que os dois empréstimos que tiveste esta época foram benéficos? Quais as principais dificuldades que um jogador que vai para um clube por empréstimo enfrenta?

GM: Os empréstimos representam sempre um desafio, e os desafios acarretam dificuldades e oportunidades. Por um lado, é preciso conquistar um lugar numa equipa que, na maior parte das vezes, já está rotinada e familiarizada. No meu caso, após ter estado afastado dos relvados na sequência de uma lesão, o meu objetivo imediato era recuperar rapidamente a forma para estar ao melhor nível. Ao fim de dois meses, demonstrei que já a tinha alcançado. Sou um jogador tecnicista, mas a componente física é para mim muito importante. Por isso, empenhei-me a fundo.

Como aspeto positivo saliento a boa relação com os meus colegas de equipa e a aprendizagem que tive com os jogadores mais experientes. Mais tarde, optei por me transferir para o CF Os Belenenses, pela dimensão e história do clube. Com o aparecer desta pandemia não foi possível continuar a boa forma em que todos nos encontrávamos, mas senti que finalmente tinha ganho o meu espaço na equipa e, resultado disso foi ter começado a jogar a titular.

Ainda com vínculo a o Santa Clara, pergunto-te quais são os teus planos a curto prazo?

GM: Os meus objetivos, desde que começou esta pandemia global, focaram-se em manter-me ativo e em boa forma física. Foi isso que fiz e que continuo a fazer. Com o retomar das competições, espero, a curto prazo, poder demonstrar o meu valor dentro de campo e ter oportunidades para tal.

Sendo que tiveste de mudar para os Açores, sentiste que essa adaptação se torna mais difícil por estares “isolado” numa ilha?

GM: É diferente viver em insularidade. Para os que nunca viveram numa ilha ou estejam longe de casa, admito que possa não ser fácil, mas para mim, que sempre contei com o apoio da minha família, a adaptação foi relativamente fácil. Acresce que, com é sabido, tenho uma relação afetiva e familiar muito forte aos Açores, mais propriamente a S. Miguel. Estou, portanto, preparado para lá voltar.

Jogar na Liga NOS está para breve ou temos que esperar mais uns anos para te ver na principal competição do futebol português?

GM: Acredito que nem tudo depende do valor intrínseco de cada jogador, e eu não fujo à regra. Estou confiante, tenho pensamento positivo e acima de tudo, acredito nas minhas capacidades e que, se um dia tiver uma oportunidade, irei agarrá-la com tudo, seja em que patamar for.

Só tiveste experiências em terras lusitanas. Estás aberto a aventuras no estrangeiro?

GM: Enquanto jogador profissional, sim, mas durante as épocas que disputei ao serviço do Benfica tive muitas experiências internacionais. Ao ter optado por seguir o caminho do futebol, que é um fenómeno global, a possibilidade de vir a jogar no estrangeiro é uma realidade, e temos que a encarar com naturalidade.  Mais tarde ou mais cedo, essa via será uma opção. Acredito que, por saber falar três línguas para além do português, não terei uma adaptação com especial dificuldade.

Olhando para trás na tua carreira, fizeste a formação no SLB quais é que foram os teus pontos altos e baixos na tua formação? Sentes que é cada vez mais difícil chegar ao futebol profissional?

GM: Não posso dizer que tive pontos fracos na minha formação. Sinto que tudo fez parte de uma aprendizagem positiva, e penso que tirei o máximo proveito por todas as equipas por onde passei, mas é certo que, dadas as exigências aplicadas ao futebol de formação, muitas vezes não há muito espaço para que o aspeto técnico e criativo de cada jogador sobressaia, pela preponderância do aspeto tático, que é uma tendência dominante no futebol de formação em Portugal, com posições mais rígidas, ao contrário, por exemplo, do futebol de formação holandês. Relativamente à transição para sénior, no que toca aos campeonatos Sub-23, criado de propósito para valorizar o jovem jogador português, e CPP, senti que foi uma oportunidade perdida. Ao invés de permitirem a valorização e afirmação do jovem jogador português, esses campeonatos têm servido de barrigas de aluguer para colocação de jogadores estrangeiros, em detrimento dos jovens portugueses, que supostamente seria o objetivo da competição. Existe muita qualidade nos jovens jogadores portugueses. Como tal, o foco deveria de ser o de potenciar a formação nacional.

O sonho de jogar na equipa sénior do SL Benfica ainda se mantém?

GM: Não há nenhum jogador que não gostasse de trabalhar com as condições atuais que o Benfica ou outro grande em Portugal oferecem, e de poder jogar em grandes palcos nacionais e internacionais, e lutar pela conquista de títulos. Falando por mim, trabalho diariamente para um dia estar dentro dessa realidade.

Quais foram os jogadores com maior talento com quem cresceste? Sentes que a competitividade vivida desde de que tens 13/14 por jogares num “grande” é benéfica

GM: Foram muitos os colegas de equipa com quem cresci, e posso mencionar alguns, como o Jota, o Renato Sanches, o Florentino, o Zé Gomes, entre muitos mais. É certo que ter jogado num clube como o Benfica, treinando todos os dias com as melhores condições, reconheço que evoluí como jogador. Também ajudou estar rodeado de ótimos jogadores. Reconheço também o contributo positivo de todos os clubes por onde passei na minha formação, bem como de todos os treinadores que me orientaram. Sempre lidei bem com a pressão e sempre exigi muito de mim próprio, razão pela qual consegui conciliar a minha formação universitária e tirar um curso superior em Gestão de Empresas, treinando todos os dias, sempre com a mesma entrega e compromisso.

 Há cerca de um ano tiveste uma rotura de ligamentos, foi o momento mais duro da tua carreira até hoje? Concordas que a parte psicológica tem um grande peso?

GM: Sem dúvida que foi o período mais difícil da minha carreira. Ainda para mais, aconteceu quando estava no meu pico de forma. Mas, com trabalho árduo, disciplina e pensamento positivo. consegui fazer a minha recuperação e hoje estou completamente apto. O que faz os grandes jogadores, assim como os grandes homens, é a capacidade de ultrapassarem as dificuldades. A parte psicológica é, sem dúvida, um fator crucial para ultrapassar qualquer obstáculo, e uma lesão exige sempre muito, física e psicologicamente, dos atletas.

Tu que conseguiste tirar um curso superior sendo que és dos poucos jogadores profissionais com curso superior, como foi conciliar estes dois “mundos”?

GM: Sim, tenho, como disse, uma licenciatura em Gestão de Empresas, e estou em vias de terminar a minha segunda licenciatura, em Economia. A par do futebol, que é a minha paixão e a via que quero seguir, é possível, e até desejável, continuarmo-nos a valorizar noutras áreas. Penso que tudo se consegue conciliar com trabalho, dedicação e disciplina. Assumi desde sempre com os meus pais o compromisso de que, para poder entregar-me à minha paixão, que é o futebol, teria que concluir a minha licenciatura. Esta é uma recomendação que faço a todos os jovens jogadores: nunca deixem de estudar, porque a profissão de jogador de futebol é de curta duração e, depois dela, há que ter uma carreira.

A longo prazo vamos te ver de chuteiras calçadas ou de fato vestido?

GM: Se tudo correr bem, as duas. Neste momento estou completamente focado na minha carreira de futebolista e irei trabalhar para alcançar as minhas ambições. Mas não encaro a vida a preto e branco. Por isso, irei continuar a valorizar-me na outra área profissional, neste caso a gestão de empresas e tudo fazer para continuar a minha especialização, seja em Portugal, seja no estrangeiro.

Foto: CD Santa Clara

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