Entrevista a Pedro “Pecas” Monteiro e a evolução do surf português
Fica a conhecer um nome conhecido do surf nacional que tem estado na vanguarda de desenvolver novos projectos e protagonistas das ondas nacionais… Pedro Monteiro, ou “Pecas”, em exclusivo no Fair Play.
Nome e tempo de surf?
Pedro Monteiro “Pecas” e 32 anos.
Tipo de onda preferido?
Paredes lisas e tubulares. No geral todo o tipo de onda desde que não haja muito vento.
Como vês a evolução do surf actualmente em Portugal, em termos competitivos?
Penso que continua a evoluir. Cada geração que aparece há mais potencial, maior compromisso, e melhores condições de formação. Com isto não quer dizer que não haja gerações com surfistas especiais que ainda não existem em gerações mais novas, mas de uma forma geral está a evoluir. Se pensarmos que hoje existem mais treinadores formados e maior número de praticantes estamos a falar de melhores probabilidades de sucesso. Contudo e devido à pandemia o número de competições está muito baixo e é preciso haver mais campeonatos para haver estímulo.
E em termos de free surf?
O free surf está a crescer muito, há cada vez mais surfistas dentro de água e cada vez mais cedo. Não quer dizer que melhorou a qualidade dentro de água. Diria que em termos quantitativos evoluiu, em termos qualitativos é baixo, mas é normal porque há muitos novos surfistas no lineup.
Como é agora abraçar a questão de treinar novos surfistas para os principais circuitos?
Tem sido uma grande experiência, estou a gostar muito. Tive a oportunidade de treinar um grupo de surfistas que admiro muito. Gosto muito das personalidades deles, que me identifico muito. Vejo um grande potencial em cada um deles e sabemos que com esforço, trabalho, foco, humildade e determinação qualquer um consegue atingir objetivos, e estamos muito em sintonia com isso, tanto com eles como com a equipa de treinadores com quem partilho esses grupos.
Que objectivo procuras enquanto Treinador?
Como treinador procuro dedicar mais tempo para aprender mais sobre a “poda”. Sei que já trago uma boa bagagem de trás, sei que os resultados do último ano de trabalho têm se mostrado positivos, mas preciso dedicar tempo à minha formação como treinador e focar-me ainda mais. Procuro partilhar o meu conhecimento e aprender com outros treinadores, como faço dentro do nosso grupo de trabalho e mesmo fora dele. Acho que todos têm alguma coisa a aprender e a ensinar, e procuro estar sempre aberto a isso.
Como vês a massificação do surf actualmente?
Como surfista sinto uma invasão. Como profissional na área sinto alguma responsabilidade, sabendo que esse é o outro lado da moeda quando promovemos a modalidade à procura de desenvolvimento. Acho que essa massificação tem muito de cultura de hábito saudável que se desenvolveu da prática de surf por parte da nossa sociedade, temos em Portugal as condições perfeitas para que o surf faça parte do nosso dia a dia, apenas nós descobrimos isso mais cedo, tivemos essa sorte. Mas há lugar para todos desde que haja respeito entre todos e que se conheça as regras que já existem na nossa comunidade, no nosso “modus operandi”.
Qual foi a tua melhor sessão até hoje, ou algumas surfadas que te deixaram na memória como sendo “aqueles dias”?
Tantas! Mas tantas! A mais recente e mais memorável foi uma surfada este ano, na nossa jóia do Atlântico (Ilha da Madeira), onde que fui com uns franceses que foram cinco estrelas comigo surfar uma onda “desconhecida” durante a entrada de um swell. Estavam lá também dois portugueses. O swell estava enorme, mas perfeito, eu fiz duas ondas numa prancha 9 pés que me emprestaram, e foi uma sensação de superação incrível. Vai ficar na memoria para sempre!
O que achas que ainda nos falta para sermos ainda melhores lá fora?
Precisamos de trabalhar a nossa mentalidade. Precisamos de ter bons profissionais nas diferentes áreas. Precisamos de apoio financeiro. Precisamos de continuar a trabalhar como se tem trabalhado e estarmos abertos a aprende e a melhorar a cada dia, a cada ciclo. Precisamos de saber conciliar a cultura do surf e do conhecimento do mar, com o conhecimento académico e científico. Precisamos que as entidades que nos regem que tenham a visão, a estratégia e o apoio para nos estimularem a ser mais profissionais. Mas também precisamos de ser iguais a nós próprios!