Entrevista a José L. Vareta, o “pai” da Escola de Rugby do Porto
A Escola de Rugby do Porto (ERP) surgiu em 2004, fruto da visão e determinação de um homem muito conhecido no mundo da oval: José Luís Vareta. Jogador, treinador e árbitro, Zé Luís (como é conhecido no rugby nacional) além de ser conhecido por todos, é estimado por todos e onde quer que ele esteja, há sempre um sorriso por perto. Pai de três , Francisco, Afonso e José Maria, seguiram a paixão do pai, e são eles hoje também, conhecidos no meio pelas suas capacidades técnicas, físicas e tácticas, com envolvimento em vários clubes mas com marcas mais vincadas, junto do CDUP e do Grupo Desportivo de Direito.
Sobre os filhos: “Nunca os fiz optar pelo rugby em detrimento de outras actividades. No entanto, ao fim de 52 anos ligados à modalidade é difícil esconder o orgulho em ver os meus filhos darem continuidade à minha paixão.”
O Mundo da Oval em Portugal ainda está muito imbuído de um espírito arcaico e sem dúvida que encontrar pessoas dignas e apaixonadas, que não têm tabus quanto ao escrutínio que jornalistas, adeptos, meros aficionados fazem, e que com eles conversam e discutem , sem escatologias e “capelinhas”, é significativo e merece registo. Nesse sentido, Zé Luís é um arauto da mente aberta e muito se deve estimar esta atitude e consonante comportamento.
Pedimos ao Zé Luís para nos responder a algumas questões, começando pela génese, evolução e objectivos da ERP:
“A base da nossa estrutura são atletas, ex- atletas e um conjunto de pais dedicados, que se apoiam num rigoroso plano de formação ética e desportiva que são a génese da ERP. Através dela, traçamos princípios orientadores transversais a todos os escalões, baseados num código de conduta a par dos valores fundamentais da própria modalidade. A missão da ERP, enquanto Escola / Clube É FORMAR PESSOAS capazes de enfrentar, não apenas o enorme desafio que se apresenta dentro de um campo de rugby, mas transpor essa capacidade de superação para os desafios da vida. Acreditamos nos valores do rugby como chave para o futuro dos nossos atletas: integridade, paixão, solidariedade, disciplina e respeito.”.
E continua,
Assumimos também como missão promover a modalidade, procurando que seja entendido em toda a sua plenitude como uma cultura de grupo, com a defesa de objectivos colectivos, em detrimento de feitos ou glórias individuais. Procuramos cultivar uma forte identidade de clube onde TODOS têm o mesmo objectivo e trabalham diariamente em prol do mesmo, com os nossos atletas a apresentarem desde cedo, dentro e fora do campo, comportamentos adequados, nomeadamente no que respeita às regras de boa educação e civismo. A nossa evolução é visível desde 2004, sendo neste momento possível encontrar atletas que se iniciaram nos Sub-8 e que neste momento representam os nossos seniores. Por último, como objectivos a curto prazo, temos a necessidade de aumentar a nossa capacidade de captação de novos atletas. Nesse sentido trabalhamos diariamente com cinco escolas da freguesia de Ramalde (Porto). Queremos que o rugby seja para todos, porque a ERP ESTÁ PARA ALÉM DO RUGBY!”
Quanto à ligação ao Sport e ao Douro, Zé Luís Vareta, menciona que, “
Na presente época a ERP tem uma parceria com o Sport Rugby no escalão S-19. Com esta parceria procuramos criar as melhores condições possíveis para os nossos atletas competirem e serem competitivos. O Douro Rugby está no seu primeiro ano de actividade. Certamente teremos tempo para os conhecer melhor ao longo da presente época.”
A Associação Prazer de Jogar Rugby constitui-se como clube satélite onde os jogadores seniores puderam continuar a praticar, com um interregno entre 2011 e 2015. Chegaram a ver-se equipas mistas com CDUP, Sport, Famalicão, Braga e Cercar-te, num espírito de grupo e de integração importantes.
Quem anda por esses relvados fora, encontra amiúde Zé Luís Vareta, a arbitrar um jogo, daí que a questão de para quando uma escola de rugby na ERP, se tenha formulado: “Parece-me uma pergunta muito pertinente e sobre a qual já lancei um desafio à Federação Portuguesa de Rugby. Julgo que um dia poderá ser possível.”
Depois daquele sucesso no Mundial, na modalidade voltou à sua velha luta por atenção, meios, financiamento, comunicação, recursos humanos… As velhas questões nunca são atacadas a fundo e novas questões surgem todos os dias.
A opinião de Zé Luís é que “Ainda nos falta muita coisa…”, nomeadamente “instalações apenas dedicadas à modalidade. A título de exemplo no Norte: Porto, Braga, Guimarães, Viseu, Gaia, Matosinhos …; mais apoios públicos e privados; difundir a modalidade e os seus valores de uma forma consistente nas escolas; formar mais e melhores treinadores de rugby”. No entanto, o espírito de missão, os objectivos e a vontade de continuar a oferecer recursos ao rugby português continua presente no dia-a-dia de José Luís Vareta, um dos actuais impulsionadores da modalidade em território nacional.