André Lemos. “O CR São Miguel significa muito para mim”
André, centurion pelos seniores do CR São Miguel… tens recordações de quando foi o teu primeiro jogo?
Tenho uma vaga ideia. Foi no final da minha segunda época de sub-16, o São Miguel tinha acabado de reaparecer (ainda só faziam jogos amigáveis) e o meu pai, que era o treinador na altura, convidou-me para participar num jogo contra uma equipa de Tomar, era uma mistura de sub18, seniores e veteranos. Do jogo em si não me recordo, mas sei que essa foi a primeira vez que vesti a camisola azul e preta.
Foi dificil dar o salto para os séniores com apenas 16 anos e teres logo a responsabilidade de conduzir uma equipa? Que conselhos darias a alguém que estivesse na mesma situação?
Não considero que tenha sido difícil. Eu naquela altura já tinha 3 anos de rugby e grande parte da equipa estava a começar, portanto o que os outros tinham de físico eu compensava com algum conhecimento de rugby. O único conselho que posso dar é que se divirtam a jogar e que dêem sempre o melhor dentro e fora de campo.
És um bulldog a 100%… o que há de tão especial com o clube lisboeta? É possível defini-lo em três palavras?
Para mim este clube significa muito, é o meu clube de coração. Desde novo que me habituei a ouvir histórias do meu pai quando jogava no São Miguel, de jogos que fez, de vitórias que alcançaram e até das brincadeiras típicas de digressões. Sempre me transmitiu a verdadeira família que o São Miguel é, e desde o reaparecimento que vim fazer parte desta família e comprovar que todo esse espírito se mantém.
Compromisso, espírito de sacrifício e família.
Foi um percurso com vários obstáculos? Houve algum período em que reflectiste se querias ou não parar de jogar?
Sim com alguns. No início do São Miguel, ainda na última divisão, chegámos a treinar com 7/8 jogadores, muitas das vezes sem condições, o que por vezes não é fácil ter vontade de ir aos treinos. Mais tarde já nesta divisão tivemos 2 anos a lutar pela não descida, onde todos os fins de semana perdíamos, o que é péssimo para a moral da equipa. Mas como dizes, vejo isto apenas como obstáculos que constroem um percurso, que não tenho dúvidas que nos irá levar ao sucesso.
Nunca me passou pela cabeça deixar de jogar, antes pelo contrário, quando não posso jogar sinto falta dos treinos e dos jogos.
Sentes que o CR São Miguel está pronto para outros voos? O clube tem condições para ser um projecto-líder no rugby nacional?
SIM sinto, embora ainda tenhamos muito para crescer, acredito seriamente neste projecto e juntamente com as condições de excelência que temos, não tenho dúvidas que mais tarde ou mais cedo o São Miguel vai chegar ao topo do rugby nacional.
És um dos ¾’s mais polivalentes do Campeonato Nacional 1, tendo já passado por todas as posições nas linhas atrasadas… como é passar de uma posição para outra? E qual a tua favorita?
Às vezes essa polivalência não é fácil, essencialmente na colocação em campo, nas linhas de corrida e timings de entrada na linha, mas o que realmente importa é jogar e poder estar dentro de campo e ajudar a equipa a alcançar a vitória.
Gosto especialmente de duas posições, Centro e Defesa.
Tens na época actual quase 150 pontos marcados… o objectivo é chegar aos 200? Como caracterizas a forma de jogar do CR São Miguel actualmente?
Não vejo isso como um objectivo. Acho que esses números podem vir a aparecer, mas será uma consequência do trabalho feito por toda a equipa.
Sinceramente nunca me identifiquei tanto com um modelo de jogo e mentalidade de uma equipa. Muito se deve à nossa equipa técnica, que tem continuado o excelente trabalho feito o ano passado pelo professor Rui Carvoeira. O nosso treinador, Nuno Damasceno, desde que assumiu a liderança deste grupo tentou mudar a mentalidade, incutindo uma mentalidade positiva com a ideia de #retribuir seja para com o clube, para com os companheiros de equipa, seja para com a sociedade. Essa positividade é trazida para dentro de campo o que leva a um rugby mais atractivo e dinâmico.
Que treinadores foram essenciais na tua formação como jogador? Houve algum conselho que ficou na tua cabeça até aos dias de hoje?
Charlie Lemos: Não só por ser o meu pai, mas por todos os conselhos e ensinamentos que me transmitiu no início da minha carreira no São Miguel. E especialmente pelas vezes que me dá na cabeça depois dos jogos.
Rui Carvoeira: Das pessoas que mais sabe de rugby em Portugal, ajudou-me a crescer física e mentalmente.
Nuno Damasceno: Pela forma positiva de ver o rugby e pela atenção que tem a todos os pormenores que ajudam a equipa a crescer.
Não é bem um conselho, mas lembro-me de uma frase que um treinador (Silva e Cunha) me estava sempre a dizer nos treinos de 3/4s em tom de brincadeira, mas com um fundo de verdade. “Não confundas rapidez com precipitação”.
Achas que o rugby português vai crescer? O que gostavas de ver a acontecer mais na modalidade?
Não tenho grande opinião sobre isto, mas acho difícil a modalidade crescer muito mais num país como o nosso, onde a cultura desportiva se baseia apenas num desporto. Enquanto o rugby for uma modalidade amadora e os clubes não se unirem para o crescimento do rugby, não sinto que possa haver grande evolução (espero estar errado).
Gostava de ver essencialmente mais organização e clareza nos elementos que gerem o rugby nacional. No campo gostava de ver mais equipas a praticar um rugby atractivo, o que por consequência vai trazer mais público às bancadas.
A Selecção Nacional é um sonho, ideal ou objectivo? Tens as competências para chegar lá?
Estaria a mentir se dissesse que não é um objectivo, acho que qualquer jogador gostaria de representar a selecção do seu país. Não sei se tenho as competências ou não, mas sei que me esforço dia após dia para ser melhor.
Umas perguntas mais em modo sprint… melhor jogador que viste a jogar em Portugal e no Mundo? E que jogou contigo?
Pedro Leal
Dan Carter
Jefe ahahah
Mais fácil organizar o jogo como defesa ou comandar a equipa como formação?
Claramente como defesa
Equipa internacional que gostarias de ter jogado por?
É difícil escolher uma. Gostaria de qualquer uma no Super Rugby, mas talvez Crusaders ou Reds.
Melhor ensaio que marcaste? E o jogo que repetirias de novo?
Não tenho grande memória dos ensaios que marquei, mas lembro-me de um em Arcos de Valdevez há dois anos. Foi uma boa combinação das nossas linhas atrasadas que termina com um cruzamento à ponta com o João Baguecho e de seguida um passe para dentro nas costas da defesa.
A final contra o CRAV há dois anos pela disputa do CN1.
All Blacks ou Springboks? Inglaterra ou País de Gales?
All Blacks e País de Gales
Três pessoas que foram essenciais para ti na tua vida no rugby?
Todas as pessoas que passaram pelo meu percurso desportivo tem a sua importância, mas só há uma pessoa que sobreponho a todas as outras, o meu pai.
Qual o cenário que menos desgostavas: ficar num 1 para 1 com o Ricardo Rosa e placá-lo ou ter de fintar o Miguel Martins?
1 para 1 com o Ricardo Rosa.
Uma mensagem especial para os restantes bulldogs, amigos e adeptos da oval portuguesa?
Sejam humildes e trabalhem para serem melhores, mas acima de tudo divirtam-se a jogar e sintam o emblema que levam ao peito.
One comment
Paulo Santos Filipe
Abril 8, 2020 at 11:20 am
Á LEÃO!