Amílcar Seco. “No Touch temos agora 2 objectivos: consolidar e crescer”
Amílcar Seco, o Touch Rugby português tem tido um grande crescimento nos últimos anos. A que se deve?
O crescimento deve-se, antes de mais, às características singulares deste desporto. É das poucas modalidades colectivas que permite juntar, numa mesma equipa, homens e mulheres, novos e velhos, com ou sem experiência desportiva, sem necessidade de estruturas físicas especiais (como postes ou balizas).
O jogo é muito fácil de jogar, muito dinâmico e a probabilidade de lesões é reduzida. O crescimento mais acentuado nos últimos anos, deve-se também ao facto de a “Tribo do Touch” se ter organizado, através da criação da Associação Touch Rugby Portugal. Existem actualmente seguros desportivos exclusivos para jogadores de Touch; competições regionais e nacionais; formações de de árbitros e treinador e uma estrutura espalhada, pelo País inteiro, que dá apoio à iniciação de novos núcleos.
A participação no Europeu da variante em dois escalões de Portugal, é simplesmente a ponta do sucesso do vosso trabalho?
No Europeu participámos apenas com um escalão M40. Na Taça Latina (em 2017) havíamos participado com dois escalões (M40 e M45). Esta participação estava prevista no nosso plano de actividades como o culminar da primeira época com actividade competitiva de Touch organizada em Portugal.
Como começou o Touch Rugby em Portugal? E qual foi o primeiro torneio?
O Touch começou na Austrália há precisamente 50 anos. Em Portugal foi introduzido há cerca de 10 anos, pelas mãos do António Abreu e do James Fisher-Martins, entre outros pioneiros. O António e o James, continuam activos no desenvolvimento da modalidade e fazem parte dos Órgãos Sociais da TRP. Não sei ao certo quando foi o primeiro torneio. Mas sei que em 2010 uma representação portuguesa havia já participado nos Euros de Bristol.
O CRAV e o Arcos Touch Rugby têm sido sempre um dos líderes deste processo… tem sido difícil? Quais foram e têm sido as principais dificuldades?
O ArcosTouch não é organizado pelo CRAV mas sim pelos C.R. Garranos (clube responsável pela equipa senior B do CRAV, Veteranos e Touch Rugby). Antes de falar das “dificuldades” falar das “facilidades”: Arcos de Valdevez, possui 3 estádios juntos, o que permite organizar um evento de grande dimensão, excelentes unidades hoteleiras e fáceis acessos.
A equipa directiva do Torneio, trabalha junto desde tempo do saudoso “Arcos Sevens” e tem muita experiência na organização de eventos. As principais “dificuldades” são o financiamento, pois para ter um Torneio de nível internacionais é necessário garantir árbitros estrangeiros a 100%, criar determinadas estruturas de suporte desportivas, médicas e de lazer adequadas.
Isto claro a preços atractivos para cativar equipas portuguesas e estrangeiras. Desde a primeira edição (2015) que o objectivo da Organização do evento é clara: fazer do ArcosTouch um dos maiores Torneio Europeus de Touch Rugby.
O que tem ainda de ser feito a nível das instituições competentes? Achas que ainda há alguma indiferença para com o touch rugby?
Vamos por partes. Embora, em Portugal o Touch, tenha vindo a crescer sobretudo junto dos Clubes de Rugby, o Touch Rugby é uma modalidade desportiva autónoma que reporta internacionalmente a entidades diferentes do Rugby,
A TRP é filiada na EFT (European Federation of Touch) e na FIT (Federation of International of Touch). Em Portugal concluímos que apenas faria sentido o Touch crescer junto com o Rugby e por isso somos também filiados na FPR (Federação Portuguesa de Rugby),
Com estas três entidades temos tido uma sincronia e colaboração constante. O Professor Henrique Garcia (FPR) percebeu bastante cedo da importância que o Touch pode ter para o crescimento do Rugby e trabalhamos em estreita sintonia. Internacionalmente a Secretária Geral da EFT (Linda Acker) e o Presidente da FIT (Erick Acker); colaboram activamente no desenvolvimento do Touch em Portugal. Ou seja por aqui estamos no bom caminho.
Em breve, para além do Rugby, temos que começar a envolver outros Stakeholders. Por exemplo as Universidades e Associações Recreativas e Desportiva (que não de Rugby), para a criação de novos clubes e as Empresas para o financiamento da actividade.
Voltando ao Europeu, consegues descrever a experiência? Qual era o vosso objectivo em Inglaterra?
A nossa ida a Inglaterra tinha dois objectivos fundamentais. O principal objectivo era interno: através da participação num Campeonato de Europa, dar visibilidade a modalidade no nosso País e com essa divulgação, potenciar o crescimento em Portugal em número de clubes e atletas. O Segundo objectivo era externo: queríamos aparecer internacionalmente para dar uma “prova de vida” do Touch Português na Europa.
Os objectivos foram amplamente alcançados. O número de visualizações das publicações do “Diario do Europeu” no nosso facebook atingiram números incríveis. As mensagens e palavras de incentivo, dentro e fora do País, mostram que foi uma aposta ganha.
Foste um dos jogadores participantes, mas quem mais foi contigo? Quem é o seleccionador?
O Seleccionador é o Pedro Honório, pessoa com grande formação no Rugby e com enorme capacidade de Liderança.
É actualmente também Treinador do Técnico Touch. Os Directores de Equipa foram o Frederico Basto (que não pode acompanhar a Equipa) e o Miguel Palmeirinha. A eles uma palavra de gratidão, pois a coordenação, de uma actividade deste tipo, é bastante trabalhosa e todos nós somos amadores. Do Técnico veio ainda o António Filipe (Tofi) e André Miranda (na minha opinião um dos melhores jogadores de Touch em Portugal, que tem a particularidade de nunca ter tocado na Oval antes do Touch); do Belenenses o Tiago Ferreira e Ricardo Couto; do CDUL, para além do Palmeirinha o João Maia Figueiredo. Do Benfica o Luis Baptista. Do São Miguel o grande (em todos os sentidos) Carlos Lemos (Charlie) e dos Campeões Nacionais, a Agraria de Coimbra, o Diogo Crespo, o Francisco Maleitas e o nosso grande Capitão, o Eduardo Seabra.
No “ultimo minuto” o Zé Maria (Técnico), não pôde acompanhar a equipa, motivo de grande tristeza para todos, pois para além de excelente jogador o Zé Maria é um dos grandes dinamizadores do Touch em Portugal e se alguém merecia estar presente, era ele…
Participámos em duas categorias, sempre acima do M40… o que temos de fazer para abrir espaço para o nível M30 ?
Inicialmente tínhamos ponderado já a participação de uma equipa mista (jovem) nos Europeus. Temos, em Portugal, jogadores em número e qualidade para isso.
No entanto, esta participação é financeiramente exigente para os Atletas, pois ainda não é possível conseguir apoios financeiros que consigam garantir uma participação isenta de custos aos atletas. Com o crescimento contínuo da modalidade e com uma preparação mais atempada do próximo europeu (2020) de certeza que vamos levar Selecções mais jovens.
Olhando para trás, como começou a tua “vida” com o rugby?
Temos que olhar para trás exactamente 35 anos. O meu primeiro treino foi com 12 anos em Arcos de Valdevez. O CRAV tinha começado há um par de anos e eu e um grupo de amigos fomos levados a experimentar este desporto com uma bola estranha…
Treinávamos em pelados e jogávamos com as camisolas dos seniores que nos davam pelos joelhos… Acho que directa ou indirectamente todos estamos ainda ligados ao Rugby. Esta é a grandeza deste desporto…
Hoje em dias és uma das figuras de proa do CRAV, mas jogaste sempre lá?
Não querendo parecer de “falsa modéstia”, não sou nenhuma figura de proa do CRAV. Os líderes do Rugby em Arcos de Valdevez são o Fernando Manso (Presidente do CRAV) e o Paulo Gameiro (Presidente do CR Garranos) com as suas excelentes equipas directivas. Eu sou um orgulhoso Arcuense, Sócio do CRAV e jogador das equipas de Veteranos e Touch. Em termos directivos apenas ajudo na organização do ArcosTouch.
Para além do CRAV joguei no REI. Durante o Ensino Superior, no Porto, criámos uma equipa entre o ISEP e FEP: o REI (Rugby Economia ISEP). Esta equipa ainda “alimentou” com bastantes jogadores as equipas mais fortes da região (CDUP e CRAV). Tempos memoráveis.
Como vês o rugby português actualmente, sentes alguma evolução na nossa cultura desportiva?
Actualmente temos uma Comissão de Gestão a liderar a FPR. Assim como qualquer amante da modalidade. Assim, como qualquer outro amante da modalidade, encontro-me na expectativa de saber quem serão pessoas que vão liderar a Federação e quais as suas ideias.
A questão essencial é o financiamento, debilitado nos últimos anos pela ausência das Selecções Nacionais no Torneio Europeu das Nações e no circuito Mundial de Sevens e pela conjuntura adversa para patrocínios, resultante da crise económica mundial.
Sinceramente acho que o Rugby Português tem enorme potencial para dar um segundo salto depois do que foi feito no início do milénio, que culminou com a participação no mundial de 2007 e consequente aumento do número de atletas e clubes.
Por um lado, temos nas selecções jovens atletas de enorme potencial que podem a curto prazo, voltar a colocar Portugal no Torneio Europeu das Nações. “Aliás os nossos Sub 20 conquistaram um brilhante 3 lugar em Agosto no World Rugby U20 Trophy em linhas com óptimas prestações anteriores!
Por outro lado a marca “Rugby” é muito bem vista na sociedade portuguesa. A nível de desenvolvimento, penso que temos muito potencial para crescer (também) fora de Lisboa.
A conjuntura económica é agora favorável, temos jovens jogadores de excelente qualidade, os clubes estão trabalhar muito bem e o “Rugby” continua a ser uma marca poderosa. O essencial agora é ter uma Direcção da FPR forte para dar o impulso necessário rumo a uma nova vaga de crescimento.
Aonde se encaixa o Touch Rugby num desenvolvimento superior da marca do Rugby em Portugal?
Nas nossas linhas orientadoras para o Touch Rugby, temos dois objectivos fundamentais. Consolidar e fazer crescer a modalidade Touch em Portugal e através do Touch fazer o Rugby crescer.
Como podemos ajudar o Rugby a crescer? De variadíssimas formas: É sabido que as pessoas procuram, cada vez mais, manter ao longo dos anos, um estilo de vida saudável através da prática desportiva. O Rugby é um desporto extraordinário, mas o contacto físico inerente, limita a sua prática a grupos de pessoas com características físicas específicas.
O Touch é a forma de juntar, familiares de jovens jogadores e ex-atletas de Rugby a praticar desporto no seu Clube de Rugby. O Touch é considerado um desporto Social. Muitos clubes já se aperceberam disso e nas suas festas de aniversário e fim de época, optam por torneios de Touch, nos quais toda a gente se diverte, sem risco de lesões.
Por outro lado, todos os jogadores de Touch, que participem em competições oficiais, tem de estar federados na FPR (no ano de estreia federamos cerca de 300 jogadores). Com o crescimento do Touch o número de atletas oficiais da modalidade de Rugby cresce também. Como sabemos o número de atletas de qualquer modalidade é um critério fundamental para a obtenção de apoios públicos e privados…
Mas podemos colaborar de muitas outras formas. Por exemplo, sendo a sinistralidade no Touch muito reduzida, o Rugby pode beneficiar na hora de negociar seguros. Podemos também, através do Touch, fazer a introdução do desporto em Escolas (mais uma vez a ausência de contacto físico, torna o desporto mais abrangente). Existe diversas áreas nas quais o Touch pode contribuir para o crescimento do Rugby.
Como farias um convite para o Touch Rugby a alguém que nunca tenha jogado a modalidade? E um ex-atleta internacional?
O Convite é exactamente o mesmo para uma pessoa que nunca tenha praticado a modalidade e para um ex-atleta internacional.
O Touch Rugby é uma forma de se manterem saudáveis, através de uma prática desportiva, exigente, mas quase isenta de lesões. O Touch não é mais do que fitness com bola. Comungamos com o Rugby não apenas o formato da bola, mas também os valores e sobretudo a 3ª parte. Existem espalhados de norte a sul, incluindo a Ilha Madeira, Núcleos de Touch Rugby aos quais qualquer pessoa se pode juntar. Existem torneios organizadas para lazer (Touch Social) e para competição (Campeonatos Regionais e Nacionais e Selecções Nacionais). O Touch é um desporto para todos, em qualquer lugar.
O que se segue para a variante em 2019?
Antes de mais vamos continuar a apostar na formação de árbitros e treinadores. Ter pessoas correctamente formadas é essencial para o desenvolvimento cert . Vamos consolidar as competições Regionais e Nacionais nos mesmos moldes de 2018: Um Torneio por mês de Fevereiro a Junho. Na sequência do que foi dito anteriormente, vamos tentar alargar a nossa “base de recrutamento” e temos em perspectiva organizar uma competição universitária.
Quanto às Selecções, vamos por as nossas Selecções mais jovens a competir. Quando não é ano de Europeu, normalmente existe um Torneio para Selecções na “Mainland”, se se confirmar iremos participar. Temos ainda em perspectiva organizar uma competição internacional para Selecções em Portugal. Mas sobretudo, tentaremos sempre estar presentes para ajudar novos núcleos em início de actividade. Vai ser um ano intenso.
Queres deixar uma mensagem para os nossos leitores, os restantes touch rugbiers e comunidade portuguesa da modalidade?
À “Tribo do Touch” e aos Clubes agradecer todo o trabalho feito, sobretudo no ano anterior (o primeiro com competições oficiais de Touch em Portugal). O mais difícil já está feito, o Touch já conquistou o seu espaço e já não é indiferente a ninguém. Vamos continuar a crescer e em consequência aumentar o nível competitivo, mas não podemos com isso por em causa a essência do nosso desporto: “Touch é o Desporto Social”.
Mais importante do que ganhar ou perder, o fundamental é mantermo-nos saudáveis e partilhar dos princípios da amizade, solidariedade e diversão entre todos os intervenientes. Para os que ainda não jogam, já não desculpa! Qualquer pessoa, independentemente do sexo, idade e condição física, com ou sem experiência desportiva pode jogar Touch. Se procuram clube contactem-nos através da página oficia do Touch Portugal: