Arquivo de Fórmula 1 - Fair Play

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Rute RibeiroMaio 30, 20258min0

Austrália, China, Japão, Bahrein, Arábia Saudita, Miami, Ímola e Mónaco. Num instante passou o primeiro terço desta temporada de F1 e no próximo fim de semana vemos o 2.º triple header da temporada a ser concluído com o GP de Espanha. Ainda temos muitas corridas pela frente, mas há certezas que parecem começar a formar-se e acontecimentos que merecem ser comentados.

Campeonato de Construtores:

Se aprecias domínios absolutos e és fã da McLaren, este é definitivamente o teu ano de sorte. A vantagem da equipa laranja para o segundo classificado já vai em 172 pontos e, tendo em conta que a dupla de pilotos papaia tem tido lugar cativo no pódio praticamente em todas as corridas, tudo aponta para que essa diferença continue a aumentar.

E vamos então à previsão óbvia: a McLaren vence o Campeonato de Construtores.

Mundial de Pilotos:

Vamos começar por dizer que já praticamente todos temos saudades de ouvir o hino dos Países Baixos de forma regular, principalmente quando até agora Max Verstappen foi o único piloto a conseguir intrometer-se no domínio da dupla da McLaren – Piastri e Norris.

Piastri já arrecadou 4 vitórias, enquanto que o seu colega Norris está empatado com Max e contam ambos com 2 vitórias (falamos apenas de corridas ao domingo).
Em termos de pontos, estes 3 são os únicos a ter já 3 dígitos na sua contagem e estão apenas separados por 25 pontos – imaginem só um DNF duplo para a McLaren em Barcelona com uma vitória de Max Verstappen e de repente está ele empatado com o atual líder – Oscar Piastri.

Vá pronto, vamos regressar à realidade. O que se diz por aí, é que a McLaren está focada em garantir o mais depressa possível o Campeonato de Construtores e que depois disso é livre trânsito para os seus pilotos lutarem pelo Mundial de Pilotos. Para mim, Piastri tem mais perfil de campeão e a ser um deles a vencer, acho que é ele o real candidato. Mas vamos ter que aguardar pelas próximas corridas e ter a noção que quer queiramos quer não, Max Verstappen ainda tem uma “palavra a dizer” neste setor. Ele até pode estar praticamente numa equipa de um piloto só e já não fazer nada na luta pelo Campeonato de Construtores, mas nesta parte, ele já nos mostrou várias vezes que tem a capacidade de se intrometer neste novo domínio da dupla da McLaren.

As movimentações de pilotos nas equipas:

Liam Lawson durou apenas duas corridas como parceiro de Verstappen. Arrecadou um total redondinho de 0 pontos e Yuki Tsunoda, mesmo a tempo da corrida em sua casa, foi promovido e trocou com o piloto da Nova Zelândia. Desde que assumiu o posto, Yuki já terminou na zona de pontos 4 vezes (3 corridas e 1 sprint), tendo 10 pontos acumulados (somatório do que fez nas duas equipas), mas mesmo assim, não é o 2.º piloto com mais pontos na família Red Bull. Isack Hadjar tem 15 pontos e está a meio da tabela de pilotos em 10.º lugar. Da maneira que andam a gerir aquelas equipas, não tarda assistimos a mais uma troca e sobe Hadjar à primeira equipa. Sabemos que o maior problema para todos estes pilotos é o carro da equipa principal estar desenhado para Max Verstappen e não ser tão fácil de pilotar como o da segunda equipa, mas isso não impede que, quem manda naquilo tudo, continue a fazer mil e uma trocas e a “estragar” pilotos pelo caminho.

Ah, e para fechar o capítulo Lawson, no caso dele, nem a ida para a segunda equipa lhe começou a trazer maior sucesso. Foi preciso chegarmos ao desfile do Mónaco, perdão, corrida, para ele finalmente pontuar.

outra movimentação que tivemos foi na equipa da Alpine. Jack Doohan assumiu o lugar, na minha opinião, já com a cabeça a prémio. Ainda antes da época começar, já ouvíamos rumores de que ele nem sequer iria correr e Franco Colapinto iria assumir o lugar dele. O maior erro veio logo do lado da Alpine que em vez de desmentir esses rumores assim que começaram, parecia nem estar sequer preocupada com o impacto negativo que isso poderia trazer ao piloto novato. Da minha parte, e deixei isso bem assumido no primeiro episódio da 2.ª temporada do podcast de F1 – Away We Go – queria ver o argentino de volta à grelha, mas achava feio que isso envolvesse aquele tratamento que a equipa estava a dar a Jack Doohan. O piloto australiano infelizmente retirou-se logo na corrida de casa, nunca pontuou e a sua última corrida teve o mesmo desfecho da primeira. Depois, Oliver Oakes que era o Team Principal abandonou o cargo, houve um Flavio Briatore à mistura, e o que já se esperava aconteceu – Franco Colapinto voltou à grelha. O problema nesta situação toda é que regressou mas também com um prazo imposto, e enquanto vai decorrendo a época, vamos assistindo à Alpine a brincar às equipas e com aqueles que querem como segundo piloto.

As tristezas e desilusões:

Fernando Alonso não está definitivamente a viver uma época de sonho. A caminho do 9.º GP do ano, o experiente espanhol e bicampeão de F1, continua a tentar chegar à tão ansiada 33.ª vitória, mas a vida não lhe sorri. Claramente que naquele carro, em comparação com os que andam lá por cima na tabela, chegar a essa vitória este ano é algo visto como impossível, mas a verdade é que nem o sonho mais alcançável – pontuar em alguma corrida – está fácil de acontecer. Em 8 corridas, acumula 3 desistências, e o melhor que conseguiu foi acabar a 1 lugar de distância dos 10 lugares que dão direito a pontos. Pior ainda, é ver o seu colega Lance Stroll que costuma ser tão desprezado pelos adeptos da modalidade a estar a meio da tabela com 14 pontos arrecadados. Alonso é assim 1 dos 3 pilotos atualmente presentes na grelha a não ter ainda conseguido pontuar este ano e, só a esperança de que Adrian Newey lhe traga algo incrível no próximo ano o irá manter motivado enquanto passa por esta fase que ele só quer esquecer.

A desilusão vai ter que ser a minha equipa. Vá que agora são os “reis” da Pit Stop e ninguém tem sido mais rápido que eles nesse setor, mas assim como finalmente acertaram nessa parte, parece que no resto não está tão fácil de isso acontecer. Sim, é verdade que a concorrência direta desenvolveu muito bem os seus carros, mas a equipa de Maranello também está com problemas em desenvolver o seu para fazer frente à evolução dos adversários. Os resultados têm ficado muito aquém do que se deveria esperar e em 8 corridas já acumulámos desde os momentos mais deprimentes aos mais caricatos com direito a criação de memes pela internet fora.

O ponto mais baixo foi definitivamente a dupla desqualificação na corrida da China. O momento mais deprimente para todos os tifosi logo no dia a seguir a vermos Lewis Hamilton a vencer a sua primeira corrida de sprint e também a primeira da Scuderia Ferrari. Tirando essa vitória de Hamilton, a única vez que voltou ao pódio foi na outra corrida de sprint em Miami. Idas ao pódio em corridas de domingo só Charles Leclerc é que já conseguiu – um 3.º lugar na Arábia Saudita e um agridoce 2.º lugar no Mónaco. Mas do lado dele, para além da tal desqualificação, também assistimos à batida em Miami que o impediu de participar na corrida de sprint. Não têm sido tempos felizes em pista (não esquecer a corrida em Ímola em que ambos falharam o acesso à Q3), e nas comunicações pelo rádio as coisas também não andam melhores. Lewis Hamilton já teve direito a viver o famoso “We are checking…” e na última corrida parecia que o engenheiro dele não queria nada com ele, ao ponto do britânico questionar se estava chateado com ele. Do lado do monegasco temos o momento que deu meme com Charles Leclerc a ouvir um “must be the water” e talvez o mais deprimente, quando ao falhar o acesso à Q3 em Itália ouvimos da sua parte uma série de “My god”, em que se sentia toda a frustração e desapontamento do piloto. Não se avizinham tempos melhores, e parece que o máximo de felicidade que vai ser possível aos tifosi viver este ano, serão as pequenas aparições de algum dos pilotos no pódio, mas não no degrau mais alto dele.

E pronto, é isso. Acho que já divaguei bastante sobre este primeiro terço de época e obviamente haveria muito mais para dizer, mas acho que este apanhado já representa bem o que se viveu nestas primeiras 8 corridas. Se leram até aqui e são adeptos da McLaren, os meus parabéns pela época que estão a ter. Se por acaso são tifosi como eu, olhem, estamos juntos e deprimimos todos em conjunto.

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Diogo SoaresMarço 31, 20254min0

A mais recente crise de resultados de Liam Lawson, que provocou a troca entre o neozelândes e Tsunoda há cerca de uma semana, voltou a expor a grande crise no seio de Milton Keynes e que até há pouco menos de um ano estava camuflada pelos resultados de Max Verstappen – e até pelos belos projetos entre 2021-2023 e pelo início de 2024.

Os problemas não são de hoje, é preciso recuar uns bons anos até à origem das decisões polémicas que levaram ao fim da carreira na F1 para alguns pilotos. Desde o longínquo ano de 2007, quando o norte-americano Scott Speed foi “despachado” ao fim de qautro corridas, até aos dias de hoje, as equipas lideradas por Christian Horner – sim, Horner é mais dono da equipa B do que Franz Tost alguma vez foi ou que Laurent Mekies é -, e o projeto de desenvolvimento liderado por Helmut Marko deu-nos dois dos melhores pilotos de sempre, mas trouxe imensos problemas a outros.

Pierre Gasly foi o primeiro da vaga mais recente de humilhações, no ano de 2019. Na altura, a Red Bull não tenha o melhor carro e apenas era pedido ao francês para que andasse ao ritmo de Verstappen. Eis que o impulso ainda “verde” do então piloto de 22 anos nos treinos de Barcelona levou o carro até às barreiras da curva 9 do circuito catalão. O resultado? Carro completamente destruído e um caminho traçado até à porta de saída, que se confirmara em agosto desse ano. Depois dele seguiram-se Alex Albon, Checo Pérez e Lawson. Pérez trouxe estabilidade durante dois anos, mas o ciclo de maus resultados ainda em 2023, e que piorou em 2024, apenas deu uma saída ao mexicano, um ano sabático.

Mas não só há instabilidade na ‘A’, a mesma reflete-se na equipa B há anos, desde os tempos da Toro Rosso, até recentemente. Brandon Hartley em 2018, Kvyat até 2020 – aliás, como sabemos, Kvyat nem devia ter entrado na F1, pelo menos, quando Félix da Costa tinha o contrato já assinado – De Vries em 2023 e Ricciardo de seguida, num retorno dos mortos, mas que não saiu de morto-vivo.

Todo este rol de más decisões, falta de apoios aos pilotos, esperando que de uma forma natural sejam Verstappen, tende a piorar e os verdadeiros culpados da situação passam entre os pingos da chuva como se nada fosse. Aliados à má liderança de Horner e à existência de Marko na equipa, que já estão em rotura há imenso tempo, dão-se as saídas Adrian Newey, Rob Marshall e Jonathan Wheatley nos últimos dois anos e que poderão se agravar caso a genial Hannah Schmitz decida fazer o mesmo – não há rumores, mas atualmente tudo é possível.

O divórcio entra a equipa e a Honda fica consumado em 2025, entrando a Ford em cena, o que deixa a equipa numa incerteza sobre se a unidade motriz de Detroit trará competitividade no imediato ou se entrará num novo processo até atingir a vitória. O que é certo é que se não houver competitividade em 2026, a continuação de Verstappen estará em perigo e, se o tetracampeão decidir abandonar, pode levar à ruína completa do projeto austríaco. Ou seja, a Red Bull precisa de entrar já em reestruturação se quiser preservar a sua competitividade a médio prazo. Helmut Marko deveria ser o primeiro a sair, uma vez que estas trapalhadas que juntamente com as declarações infelizes e de caráter discriminatório, já deveriam ter ditado o fim do vínculo do ex-piloto com a estrutura.

Os tempos que se avizinham não se adivinham como fáceis para a equipa e Verstappen parece ser o único pilar que sustenta toda uma fábrica. Recupero uma ideia que disse no podcast ‘Contracurva’ há uns episódios: Max e Red Bull estão como Marc Márquez e Honda no MotoGP. Ignorar os problemas porque os pilotos fazem maravilhas só me dizem uma coisa: quando esses pilotos não lá estiverem, a queda vai ser estrondosa.

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Luís MouraMarço 19, 20254min0

Dificilmente, a Fórmula 1 2025, poderia ter começado de uma melhor forma. Uma corrida com chuva, batidas e luta pela vitória até à última volta. Só o fuso-horário australiano beliscou o início da última era destes regulamentos. Lando Norris venceu, tendo feito a pole position numa prova dominada pelos papaia. As nove décimas de segundo que separaram o britânico de Max Verstappen não resumem a história das 58 voltas ao circuito de Albert Park. Desde logo, porque Norris foi capaz de romper com uma fragilidade do passado: os arranques.

Fechou com imponência a porta a Verstappen na curva um, e, daí em diante, acelerou juntamente com Piastri na fuga aos demais. Chegou a ter 16 segundos de vantagem, sob o Red Bull número um, antes do Grande Prémio tomar proporções de plena loucura. Batidas fortes- como a do Alonso, Bortoleto e Lawson- e a alteração brusca das condições climatéricas que forçaram os pilotos a trocar os sets de pneus para os de chuva. Mas nem aí a Mclaren fraquejou. Viu Norris e Piastri a sair de pista, não exitou e chamou o britânico para as boxes. Voltou para os pneus de chuva e, a partir daí, controlou a corrida. Piastri encontrou o azar de todos os australianos que correram no mundial de Fórmula 1, tendo com eles nunca conseguido terminar a corrida caseira no pódio. Verstappen seguiu os McLaren durante toda a corrida, mais perto ou mais longe, dependendo dos momentos, mas conseguiu levar um segundo lugar para casa. Mais do que o esperado após os testes de pré-temporada, certamente não o desejado tendo em conta o arranque da época passada.

 

Seguiram-se Russell e Antonelli, a confirmação da competitividade da Mercedes. Não ao nível dos campeões de construtores (a quem fornecem unidades motrizes), mas melhor que no passado recente. Russell assumiu-se como líder da equipa. Foi capaz de imprimir um ritmo forte e suficiente para estar em terra de ninguém. Acabou em terceiro à frente da sensação da corrida: Andrea Kimi Antonelli. A expectativa era elevada, no entanto, em qualificação ficou muito aquém do esperado. Na corrida com a ajuda de uma ótima estratégia ascendeu ao quarto lugar, tendo consolidado a posição após uma audaz ultrapassagem a Alex Albon. Celebrou como se de uma vitória se tratasse e é caso para isso. Salvou a pele de um falhanço inicial e, ao contrário de todos os outros rokies, não teve uma única batida ao longo do fim de semana (apenas rodou durante a corrida, mas um erro de não alterou o desfecho).

Já o mesmo não se pode dizer de Lawson. Não foi além do primeiro momento de qualificação (lembrando Checo Pérez). Durante o tempo em que participou na corrida andou ao ritmo dos Haas e dos Kick Sauber. Bateu quando as condições de pista pioraram. A par de Doohan é o piloto que chegará à China mais pressionado. Com Franco Colapinto posicionado para sucede-lo o australiano terá pouco tempo para provar as suas valias.

Já Bearmen (também com um final de semana pouco conseguido) e Ocon confirmaram a pouca competitividade da Haas. A má prestação durante os testes confirmou-se na primeira prova de uma temporada que será longa para os americanos.

Helmut Marko, ironizou, dizendo que Verstappen acabaria a temporada na Racing Bulls, pelo facto da equipa B da Red Bull ser mais competitiva que a principal. Ora, não sendo totalmente verdade, Tsunoda brilhou numa qualificação em que terminou em quinto. Na corrida o ritmo foi diferente e o japonês não terminou em lugares pontuáveis. Ainda assim é um indicador positivo. Hadjar cometeu um erro característico de um rokie. Não foi a melhor maneira de se estrear no campeonato, mas terá tempo para apresentar melhores resultados.

No entanto, a grande deceção foi a Ferrari. Qualificou-se mal e não consegui progredir na corrida, pelo contrário perdeu posições. Leclerc terminou em oitavo e Hamilton em décimo. Somaram apenas cinco pontos, menos um que a Kick Sauber com Hulkenberg. Um arranque difícil para os italianos, mas que não hipoteca a temporada. A competitividade é tão elevada que na próxima corrida, com exceção da McLaren, a ordem das quatro melhores equipas pode ser alterada.

A menos de uma semana do Grande Prémio da China, há um ensinamento que se pode retirar: a McLaren é a equipa mais competitiva. Este facto não marca o que será o resto da temporada, porque recorde-se da época passada: de um momento para o outro tudo pode mudar.


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