Sporting na ilusão de querer travar Messi & Cia

José DuarteSetembro 26, 20175min0

Sporting na ilusão de querer travar Messi & Cia

José DuarteSetembro 26, 20175min0
O Sporting enfrenta na 2ª jornada da Liga dos Campeões o Barcelona, num jogo de alta intensidade. Como travar Messi e Cia sem comprometer o ataque?

A ideia de ganhar ao todo-o-poderoso Barça certamente que não sai da cabeça dos adeptos, até dos mais pessimistas embora, nas horas de maior realismo ela pareça ilusória. Mas, embora as apostas não favoreçam o Sporting, é obrigatório pelo menos ter essa ambição e dessa forma preparar esse jogo. Porque nada nasce da descrença e da ausência de vontade. Há apenas duas coisas de todo indesejáveis: resultados humilhantes, pelo seu efeito negativo sobre o ânimo dos atletas e dos adeptos, e no prestígio do clube e as lesões.

Ao contrário do que se chegou a pensar, o Barcelona não ficou viúvo com a saída de Neymar. E nem mesmo o turbilhão de decisões incompreensíveis e disparatadas que marcaram a preparação da temporada fez ajoelhar a equipa. Ao contrário: esta é melhor trajectória de sempre nas primeiras seis jornadas. 18 pontos, 18 golos de diferença (20m-2s), o que lhe confere não apenas a liderança da tabela, mas também de melhor ataque e defesa em simultâneo. Algo que parecia inalcançável visto do jogo da Supertaça com o Real Madrid.

Para tal contou certamente com a maturidade e segurança de Ernesto Valverde. A sua talvez surpreendente opção por um surpreendente regresso às origens no que diz respeito ao posicionamento de Messi, com Suarez a fazer de Villa ou Thiery Henry e o azarado Dembelé destinado ao papel de Pedro tem pago dividendos.  O regresso de Messi a 9,5, (zonas mais centrais, portanto), fez dele o goleador e melhor rematador de La Liga. Na brincadeira já se vai apontando que afinal, e ao contrário do que se dizia, era ele que precisava de sair da sombra de… Neymar.

Do ponto vista de defesa do último terço de terreno, e apesar dos números avassaladores na La Liga, há aqui uma janela de oportunidade para o Sporting. Apesar de já ter voltado aos golos na estreia de um novo dérbi catalão (Girona 0 – Barcelona 1) Suarez está ainda a pedir tempo para se adaptar ao que de novo se lhe pede, ele que até é a personificação de um “9”. Dembelé vai ver o jogo da enfermaria e em Girona o lugar foi entregue a Aleix Vidal, que parece ter renascido com Valverde.

Mas o dilema é permanente e requer muita concentração: se atacas Messi o risco de quebrar a linha defensiva ao centro é enorme, por poder abrir espaços para Suarez, que se movimenta letalmente de fora para dentro. Se deixas Messi ali onde ele é exímio a decidir o risco não é menor.

Uma das grandes virtudes deste Barça está na recuperação do equilíbrio defensivo. Certamente que preferiríamos aquela equipa tantas vezes apanhada em contra-pé e inferioridade numérica, muito por causa do espaço que se formava amiúde entre a última linha defensiva e o meio-campo, com este a ser apanhado atrás da linha da bola. Isso ainda foi visível no jogo com o Real Madrid, cuja lição foi depressa aprendida por Valverde. Para tal chamou Rakitic atrás, para perto de Busquets e adiantou Iniesta, beneficiando assim do maior poder atlético e defensivo do centro-campista croata. A entrada de Semedo, capaz de recuperações notáveis, ajudou a consolidar a equipa defensivamente.

É pacificamente aceite que o Sporting terá que passar grande parte do tempo em missões defensivas. E que terá que ser muito criterioso nas saídas para o ataque de forma a não perder a bola em transição, algo que adversário aproveita como poucos o sabem fazer tão bem. Com esta nova versão do Barcelona a exploração do espaço entre linhas, que anteriormente era possível, imprimindo grande verticalidade às acções atacantes, não deverá ser agora possível.

Ainda assim, não seria de todo surpreendente que Jesus recuasse Bruno Fernandes e desse a Podence a missão de infernizar o juízo aos defensores catalães. Mas a hipótese mais provável e confiável parece-me ser também a mais conservadora, optando pelo que está testado e com bons resultados: Battaglia, William, Bruno Fernandes, Gelson, Acuña.

A grande dúvida no ataque do Sporting poderá muito bem ser resolvida em função da escolha de Valverde. Não é provável que o técnico estremenho opte por Piqué e Mascherano, ao que certamente Jesus responderia com a velocidade de Doumbia na titularidade. Embora Dost seja confiável nos espaços frontais à baliza e possa ser importante nos duelos aéreos, assemelha-se mais favorável à estratégia leonina um avançado com mobilidade elevada, pelo menos na fase inicial do encontro. Como refere Jorge Jesus na antevisão para este encontro:

“Temos muita responsabilidade. Agora o Sporting tem de ganhar pontos. Estamos convencidos de que podemos conseguir algum frente ao Barça.”

Ah, e claro, é preciso sorte. Mas esta, ao que se diz, protege os audazes. Aí, e apesar de tantas vezes traído pelo ego, o Sporting tem um treinador que já deve jogado este jogo vezes sem conta e sempre para ganhar.

Foto: Getty Images

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