O Mercado Atual do Surf em Portugal e no Mundo: Entre a Competição e a Era do Conteúdo

Palex FerreiraOutubro 5, 20253min0

O Mercado Atual do Surf em Portugal e no Mundo: Entre a Competição e a Era do Conteúdo

Palex FerreiraOutubro 5, 20253min0
Palex Ferreira fala de um tema pouco discutido em Portugal, com o mercado do surf da actualidade a ter um peso na modalidade

O surf vive um momento de transformação profunda, tanto em Portugal como no resto do mundo. De desporto de nicho a estilo de vida global, a indústria do surf já não se resume apenas a pranchas, campeonatos e marcas icónicas. Hoje, o mercado enfrenta um abrandamento nas vendas tradicionais, mas abre caminho a novas oportunidades que refletem uma mudança cultural e tecnológica.

Nos anos 90 e 2000, marcas como Quiksilver, Billabong ou Rip Curl eram símbolos de status e autenticidade. A ligação ao surf competitivo, às grandes figuras do circuito mundial e à estética própria do surfista profissional era o motor da indústria. Contudo, nas últimas duas décadas este modelo entrou em declínio. O surfwear foi absorvido pelo mainstream da moda urbana, a concorrência de marcas de fast fashion reduziu margens e a ligação dos jovens às “marcas clássicas” enfraqueceu.

Em Portugal, o contexto é paradoxal: nunca o país recebeu tanta atenção internacional ligada ao surf, com a Ericeira reconhecida como World Surfing Reserve, a Nazaré como palco das maiores ondas do planeta e Peniche como destino fixo do circuito mundial. O turismo de surf está em alta, com escolas, surf camps e pacotes de “surf & yoga” a atrair viajantes de todo o mundo. No entanto, o perfil do surfista-consumidor evoluiu. Hoje, o mercado não é movido apenas pelo atleta competitivo, mas pelo surfista lifestyle que procura experiências, autenticidade e uma ligação mais emocional ao mar.

Esta transição reflete-se na estratégia das próprias marcas. Muitas deixaram de apostar apenas em surfistas de topo e começaram a valorizar criadores de conteúdo, que geram proximidade com o público através de redes sociais. Um atleta que vence campeonatos pode já não ter o mesmo impacto de um surfista com milhares de seguidores no Instagram ou no TikTok, que partilha a rotina, as viagens e até os erros, e que transmite uma imagem mais “real” e identificável para o consumidor comum. O surf entrou assim no território do marketing de influenciadores, onde autenticidade e storytelling valem tanto ou mais do que medalhas.

Este novo paradigma traz desafios e oportunidades. Para os atletas profissionais, exige a capacidade de se reinventarem como marcas pessoais, combinando performance com presença digital. Para as empresas, abre espaço a uma diversificação do mercado: produtos e serviços ligados ao lifestyle, ao bem-estar, à moda e até à tecnologia podem ser explorados num ecossistema em que o surf é muito mais do que desporto. Em Portugal, este movimento pode ser particularmente interessante, dado o crescimento do turismo de surf e o potencial do país como hub europeu de inovação nesta área.

No fundo, o surf global atravessa uma mudança de foco. Menos centrado apenas na competição, mais ligado à experiência e à criatividade, o mercado segue na direção de um consumidor que valoriza autenticidade e identificação. As marcas que perceberem esta viragem e apostarem numa relação genuína com a comunidade terão melhores condições para resistir às dificuldades atuais e crescer num mercado em transformação.

Fotografia de destaque de Nuno Fontinha.


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