As ondas no feminino com Kathleen “Kat” Barrigão
Nos últimos anos, apareceu em força em praticamente todos os eventos de longboard, quer em Portugal quer em Espanha, tem vindo a mostrar bons resultados, e sempre muito competitiva, chega da Linha de Cascais, e é conhecida na praia por KAT. Costuma ter sempre a companhia de seu pai (José Barrigão). Dentro de água tem sempre o seu pai por perto, para tirar fotografias e dar uma força e ajudas nos eventos onde compete.
Quem é a Kathleen Barrigão?
KB. O meu nome é Kathleen mas toda a gente me trata por Kat, tenho 18 anos, sou da linha de Cascais e costumo passar o meu tempo a surfar na praia de S. Pedro do Estoril.
Estou neste momento a tirar uma licenciatura em Relações Públicas enquanto faço os campeonatos Europeus e os nacionais.
Já faço surf há cerca de 5 anos e longboard há 4.
Anteriormente fazias apenas surf de pranchinha, depois alteraste a abordagem, através de longboard e retros, o que aconteceu para ter acontecido essa mudança de lifestyle?
KB. Eu sempre fiz surf com pranchas diferentes pois em dias em que não dava para surfar de pranchinha ou simplesmente não tinha prancha pegava numa qualquer só para poder surfar. Agora estou mais virada para um surf com pranchas mais retro e single fins porque ao longo do tempo fui me apercebendo que o surf mais correto não é o surf de pranchinha simplesmente porque é o mais comum. surf mais correto é aquele com qual nós nos identificamos mais. Eu acho que não há nada de errado preferir surfar com um Longboard single fim nuns dias e mudar para uma pranchinha thruster nos outros, pessoalmente sempre achei que até fizesse bem aos surfistas experimentarem pranchas diferentes para também terem respeito pelos outros surfistas.
Quem é a tua atleta preferida (Longboard e surf)?
KB. Desde que comecei a surfar uma da minha atleta favorita sempre foi a Stephanie Gilmore, e por várias razões, uma delas é que acho que ela tem um dos melhores estilos de surf no WCT das mulheres. Ela sem dúvida sabe mostrar garra e técnica sem tornar o surf demasiado agressivo e complicado, ela tem uma elegância a surfar que torna as performances dela tão apelativas a uma pessoa qualquer.
No Longboard uma das minhas referências era e sempre vai ser a Chloé Calmon do Brasil, sempre admirei a Chloé pela atitude dela perante o Longboard como estilo de vida. Ela é uma das atletas mais focadas, determinadas e humildes mostrando que dá para ser das melhores do mundo e viajar para os melhores picos enquanto tira um curso na faculdade tudo ao mesmo tempo.
Tens competido em muitos eventos, nacionais, e internacionais, como tem corrido essas aventuras?
KB. O mundo da competição está cheio de altos e baixos. Já tive momentos nos nacionais em que mostrar o meu surf e obter óptimos resultados como também já tive momentos em que fiquei em último na primeira bateria do campeonato. Sem dúvida que os Europeus de certa forma até agora têm corrido melhor do que os nacionais, este ano no LQS (Longboard qualifying series) da Caparica obtive o 3º lugar no feminino que me deu imensa motivação para lutar pela qualificação para o Mundial para o ano. Para além dos resultados tenho tido a oportunidade de conhecer e surfar com os/as melhores atletas do mundo o que efectivamente ajudou a melhorar o meu surf e também de como lidar com a pressão dos campeonatos.
Em termos de treinador, andas sempre com o teu pai, que métodos usam, e como é a vossa relação em termos desportivos?
KB. Desde pequena que o meu pai sempre foi o meu treinador e o meu maior apoio em termos do desporto. Era e ainda é ele que me acorda as 6 da manhã para me ir levar ao treino e sempre foi assim, na ginástica, no atletismo e agora no surf. Claro que agora que tenho 18 anos sou mais independente e neste momento estou a treinar no Surfing Clube de Portugal com o João Ferreira e o Vasco Rodrigues nos treinos físicos. Os métodos que eu usava com meu pai nos campeonatos eram um pouco baseados na mentalidade de ou dá-se tudo ou nem vale a pena entrar amanha. Ainda hoje em dia antes de entrar numa bateria o meu pai diz me sempre “no mercy” que significa sem misericórdia perante os outros atletas. Claro que quando temos um pai que nos acompanha em todos os treinos e campeonatos eles vivem connosco os melhores e piores momentos de uma vida de atleta. Ás vezes pode ser um pouco estressante e podem haver uns conflitos, mas é simplesmente porque o meu pai quer que eu faça o meu melhor.
“Acho que qualquer atleta que tenha o pai como treinador percebe, mas ao final do dia é óptimo viver os melhores momentos ao lado do nosso pai.”
Como te vês daqui a dez anos?
KB. Esta pergunta é muito difícil de responder amanha, se eu não consigo me imaginar daqui a um ano então dez já é muito. Não gosto de planear as coisas, confio o suficiente no universo e que ele me irá guiar até onde eu precisar de estar daqui a 10 anos, seja cá em Portugal ou no Havai, no fim tudo dá certo.
Qual a melhor surfada até hoje? (free surf e competição)
KB. Acho que escolher só uma é difícil porque não sei ao certo o que define ser a melhor surfada. Um dos melhores momentos que já tive dentro de água foi sem dúvida na Expression Session que ocorreu na Corunha no LQS o ano passado, pararam a prova porque supostamente não havia condições. Entretanto o Ben Skinner foi falar com os organizadores da prova e sugeriu fazermos uma Expression Session para aproveitar mais a excelente tarde de verão que estava, e então assim foi. Todos os atletas ficaram em pares para competirem em “casais” e eu tive a sorte de ficar com o Augusto Olinto, um dos surfistas mais estilosos de sempre. Foi uma das melhores surfadas também porque além de ser uma oportunidade para os atletas estarem todos descontraídos juntos dentro de água, mas também havia uma multidão de gente na praia a aplaudir os surfistas.
Como vês o futuro do surf em Portugal? e na parte feminina?
KB. Felizmente o surf feminino tem crescido bastante desde que eu comecei a surfar, eu lembro me que quando ia aos campeonatos do Esperanças (nacionais e regionais) na altura era sempre o mesmo grupo de raparigas. Hoje em dia vejo miúdas novas todos os dias a ganhar campeonatos e a evoluir cada vez mais rápido.
Eu acho que no Longboard é a mesma coisa, quando eu comecei a entrar no Nacional de Longboard nem havia categoria de sub-18, muito menos feminino. Agora há cada vez mais raparigas a fazer Longboard e a dar uma boa imagem ao surf feminino em Portugal.
O maior susto dentro de água?
KB. A minha única surf trip fora da Europa foi a Marrocos em 2014 com a equipa com quem eu estava a treinar na altura. Tínhamos visto as previsões e sabíamos que na terça-feira seguinte, o mar ia estar grande, mas mesmo assim arrancamos às 6 da manhã para sermos os primeiros na água. A remar para fora, nesse dia, éramos os únicos, estava uma corrente forte e o período estava alto. Tentámos aproveitar a pausa para remar para fora. Estávamos super longe da praia quando o set entrou, eu nem queria acreditar no que estava a ver, na altura parecia um tsunami a aproximar-se e estava bem lá fora. Resumindo, eu não cheguei a tempo e fui completamente varrida pelo set, fiquei tanto tempo debaixo de água que até me passou pela cabeça que ia morrer ahaha, mas na altura também não sabia manter-me calma nessas situações. Quando cheguei á areia a Camilla Kemp veio ter comigo, quanto mais eu chorava por causa do susto mais ela se ria. Acho que foi a melhor maneira de me acalmarem, assim sempre tornou a experiência um pouco engraçada.
Quem para ti são as lendas no surf?
KB. Como eu acho todos os aspectos do surf importantes, do free surf aos campeonatos, das pranchinhas aos logs, há imensa gente que eu considero lendas do surf. Para mim é preciso pessoas com ideias e estilos e mentalidades diferentes para contribuírem para a comunidade do surf. Todos os dias e em todas as viagens eu conheço pessoas diferentes que me inspiram e que para além do facto de serem dos melhores do mundo estão sempre dispostos a ajudar quem precisa e isso para mim é mais considerado uma lenda do surf do que precisamente aqueles nomes mais icónicos.
O que farias se te dessem um cargo como presidente da FPS?
KB. Bem há muita coisa que eu gostava de mudar e alterar para levar o Longboard, por exemplo, mais longe e divulgar mais a modalidade. Gostava de dar mais importância ao longboard feminino por acho que é uma área em que podíamos investir mais pois temos muito talento e potencial em Portugal. Gostava também de poder mostrar às gerações mais novas que o longboard pode ser tão “fixe” como o surf de pranchinha, que o longboard não é só para velhos e que se pode fazer as duas coisas. Há muitas coisas que eu gostava de fazer se tivesse um cargo desses, mas acho que estas coisa que eu expliquei são o que considero a minha prioridade.
“Acho que mesmo sem esse cargo, o meu objectivo é mudar a mentalidade das pessoas em Portugal sobre o longboard, e podem ter a certeza que vou lutar para que a modalidade seja mais divulgada.”
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