Uma retrospectiva do Mundial de Rugby 2025
O Mundial de Rugby 2025 feminino, nesta sua décima edição, atingiu um nível competitivo, de cobertura mediática e de presença nos estádios, verdadeiramente inédita. Com a primeira edição em 1991, ganha pelos Estados Unidos, o troféu tem andado, desde essa altura, entre duas nações, a Nova-Zelândia (com 6 vitórias em final) e a Inglaterra (com vitórias em 1994, 2014 e 2025).
Se dúvidas houvesse (e recordo a dominância de tendência patriarcal e até chauvinista -machista nas modalidades desportivas em geral e de maior dominância física em particular), quanto à qualidade técnica, física e tática dos elementos das equipas femininas de rugby, este evento pulverizou (idealmente) esse bloqueio mental de algumas pessoas.
As palavras não chegam para exaltar a qualidade destas jogadoras e por isso, recomendo a quem não viu, que pelo menos veja alguns highlights. Deixo aqui alguns números, só para abrir o apetite:
Mais pontos marcados: Braxton Sorensen-McGee 69
Mais ensaios: a mesma jogadora com 11
Mais placagens: Sadia Kabeya com 112
Mais offloads: Sophie De Goede com 12.
A Nova-Zelândia quedou-se com um terceiro lugar, depois de um resultado de 42-26 frente à França e a Inglaterra sagrou-se campeã, frente ao Canadá, no dia 27 de setembro, no Allianz em Londres, perante 81, 885 pessoas em estádio e cerca de 5 milhões atrás da televisão. O jogo foi arbitrado pela Escocesa Hollie Davidson e terminou com um 33-13 para as Red Roses.
Unstoppable ⚡️
18 year old Braxton Sorensen-McGee made the most metres at the #RWC2025 👏 pic.twitter.com/m1XuxmTvCP
— Rugby World Cup (@rugbyworldcup) October 3, 2025
A abertura do torneio foi com um Inglaterra-USA, um jogo que trazia ao embate a equipa dominante a nível Europeu contra uma equipa muito organizada e com a embaixadora do desporto feminino Ilona Maher (e o tanto que ela tem feito pela oval feminina!). O resultado foi naturalmente desequilibrado (69-7) mas os Estados Unidos entraram fortes e causaram algum sururu nas hostes Inglesas.
O percurso Canadiano passou por jogos frente a Gales, Fiji e Escócia, tendo ainda pulverizado a Austrália nos quartos de final (46-5) e com mais dificuldade, ultrapassado as campeãs da edição prévia, as Black Ferns, por 19-34.
A Inglaterra teve os Estados Unidos, Samoa e Austrália na fase de grupos e eliminou a Escócia nos quartos de final por 40-8 e a mais difícil França, nas meias, por 17-35.
A equipa Canadiana, liderada por Kévin Rouet desde 2022 e com a primeiro centro Alex Tessier a capitã, tem nas suas hostes jogadoras extremamente proficientes como a colossal Sophie de Goede (2ª linha), que ganhando a jogadora do ano como o fez, depois de uma rutura total dos cruzamentos anteriores do joelho, voltando, como se nada se tivesse passado, enfatizou precisamente essa superioridade física e mental desta jogadora, extensível a toda a equipa.
Emilly Tuttosi, é uma talonadora de excelência; Karen Paquin é um nome a não esquecer na terceira linha; Asia Hogan-Rochester é uma pequena máquina na ponta esquerda, disruptora de defesas; Alex Tessier, é uma das grandes playmakers, e ficamos só com uma amostra!
Esta equipa fez uma recolha de fundos, um peditório, para despesas de treinos, viagens, alimentação. É uma equipa amadora que se ultrapassou a si mesma e a muitas outras equipas pela superior determinação e força de vontade.
Já a Inglaterra, tem ao leme, desde 2023, Alex Mitchell (que substituiu Simon Middleton), um Neo-Zelandês de 61 anos, que além de ter sido jogador, tem treinado mais equipas do que é saudável eu enunciar aqui; mas fiquemos apenas com esta indicação: esteve à frente da Nova-Zelândia, dos Estados Unidos, da defesa da Inglaterra e da defesa do Japão.
Este treinador veio mostrar que não é só dar treinos e analisar as estatísticas; manter jogadoras na equipa, que mesmo não jogando ou jogando pouco, estão a treinar com a equipa ou a fazer os batidos proteicos ou a garantir um momento de conversa, sobre como melhor ultrapassar um adversário ou executar uma jogada. Outro exemplo inovador na fase de grupos, as jogadoras já sabem se vão ser escaladas para esse jogo e o próximo, reduzindo níveis de ansiedade.
No jogo, propriamente dito, o Canada entrou com mais momento, mais trabalho e logo aos 5 minutos, Asia Hogan-Rochester a passe de Fabiola Forteza, faz o primeiro toque de meta. Dois minutos depois, na sequência de uma vantagem por placagem alta das Canadianas a Amy Cokayne, Ellie Kildunne, pega na bola mais ou menos a meio campo e num slalom de superior capacidade (como é que ela não torce aqueles tornozelos!!), faz a igualdade para as Red Roses!
Uma final que começou super intensa, com as equipas a não mostrarem medo de mostrar o seu jogo atacante. Ainda na primeira parte, a capacidade Inglesa das avançadas produziu mais dois ensaios por Amy Cokayne e Alex Matthews, indo-se para intervalo com 8-21. O início da segunda parte começou novamente com alta rotatividade, desta feita com a Inglaterra a marcar primeiro por Abbie Ward e poucos minutos depois, Asia faz o bis para o Canada. Ward bisou ainda, a dez minutos do final.
O Canada demonstrou ao longo do torneio uma fluidez de jogo muito interessante baseada em posições dominantes através de offloads mas nesta final, devido a uma assertividade da defesa Inglesa, não foi possível engatarem esse jogo. De resto em termos de eficiência nos outros departamentos do jogo, também de referir, uma melhor tarde para as hostes Inglesas: sucesso nos alinhamentos 91 vs. 79%; na mêlée, 18 vs 14; o scrum inglês foi 100% eficaz contra apenas 60% das Canadianas e o sucesso nas placagens quedou-se mais para o lado Inglês 81 vs. 73%.
A jogadora da final foi Sadia Kabeya, de 23 anos, uma flanqueadora de 1m70, que alinha pelo Loughborough Lightning. Com elevada intensidade nos alinhamentos, nos transportes de bola, conta com 28 internacionalizações, 9 ensaios, 6 assistências, 91% de sucesso a nível do passe e 94% de placagens efectivas. São números que ditam a máquina de precisão que é esta jogadora. Não posso deixar de mencionar o retorno à selecção de Natasha Hunt (que ingressa pelo Gloucester-Hartpury desde 2018) que aos 36 anos, fez um jogaço na final, na sua posição de média de formação. Aliás, todas as jogadoras da selecção inglesa: sigam-nas nas redes sociais, vejam em que clubes jogam, vejam esses jogos e deliciem-se com bom rugby!
Há muito boas vibrações a emanarem deste Mundial e espero que possamos continuar a crescer em números, porque em qualidade já estamos lá!
Foto de Destaque da World Rugby / Alex Davidson
A tournament full of power plays ⚡️#RWC2025 | #ParallelPotential | @ME_Europe pic.twitter.com/JShUc0RRCF
— Rugby World Cup (@rugbyworldcup) October 1, 2025