(Pré-)Mundial de Rugby feminino 2025 – As águas estão a mexer
Um evento como o Mundial de rugby feminino, a ser jogado a pouco menos de um mês de distância, em Inglaterra, é algo que mobiliza cada vez mais a opinião pública.
Na ante-véspera desse evento que tem ganho presença nos estádios e nas televisões e streaming, decorreu um encontro multi-lateral no âmbito do 2025 United Nations High Level Political Forum, entre a World rugby, o UN Women and ChildFund Rugby, catalisado também pelos governos do Mónaco e Singapura. O objectivo foi perceber e partilhar a maneira como as parcerias com o desporto guiadas pelos superiores valores do mesmo podem impactar socialmente e em termos de equidade de género a vida de milhares de pessoas.
O desporto unido à política e ao desenvolvimento criam a mudança baseada na evidência e permitem a inclusão e a intervenção social.
A embaixadora do UN Women and ChildFund Rugby e medalhista Olímpica Ilona Maher mencionou “falamos sempre do poder do desporto mas está na altura de explicar o que é que isso realmente significa. O desporto pode mudar a maneira como as raparigas olham para si mesmas assim como as respetivas comunidades olham para elas. Quando o desporto está associado a boas parcerias e bom investimento torna-se num “abre-portas” para muitas raparigas afetando necessariamente as suas vidas. Este evento tem esse desígnio: mostrar o impacto que a prática deste desporto pode ter na igualdade de género.”
Na véspera do que se espera vir a ser o mais concorrido Mundial feminino e no 10º aniversário do projecto Pass it Back, este evento quis enfatizar a mais-valia que a presença do desporto nas vidas das pessoas pode ter. O Projecto Pass it Back envolveu 82 mil jovens de 36 países em que 50% são participantes femininos. Funciona com comunidades vulneráveis, onde o rugby é uma plataforma para a criação de valores de comunidade. Por exemplo, aquando do terramoto na Turquia em 2023, o rugby funcionou como plataforma para gerar espaços seguros e inclusivos para crianças afectadas pela catástrofe. Ainda, cerca de 70% dos participantes deste projecto declararam ganhos sociais e emocionais.
Sally Horrox, a representante máxima do rugby feminino no World Rugby afirmou “o desporto pode ser um poderoso motor de mudança social.”
Nos painéis de discussão ficou estabelecido que o rugby é uma ferramenta de mudança social e de igualdade de género; há necessidade de aumentar as parcerias estratégicas; aumentar o apoio político e o apoio financeiro; incluir o desporto nas agendas políticas.
É palpável o crescimento do rugby feminino, até em Portugal mas eu tenho uma observação a fazer: é preciso os clubes acarinharem as academias e terem muita atenção em quem colocam à frente de uma academia de rugby, porque os mesmos modelos de sempre não vão funcionar aqui. É preciso um diretor que esteja no terreno e ouça as pessoas e um treinador que não trate todos os seus atletas por “rapazes”.
Tenho exemplos concretos mas mencioná-los não ajuda em nada à luta. Falar no local certo e em tempo oportuno é o melhor que podemos fazer. Dizer “não serei tratada assim” é o derradeiro ato valorizador da Humanidade.
Vejo, ao calcorrear os vários locais onde se joga rugby em Portugal, que ainda há questões de género a serem tidas como um elemento diferenciador. Claro que me choca, ao ver estas questões numa modalidade que é superior em vários níveis, a muitas outras, mas também tenho noção do País onde vivo e do peso qua uma sociedade patriarcal tem nos dias de hoje. Houve progressos, estão a haver progressos mas o trabalho nunca está concluído. A batalha é diária. A batalha é contínua.