Os All Blacks na janela de Outono
Depois de um Mundial ligeiramente dececionante, os All Blacks, sob a batuta de Scott Robertson e depois de anos infindáveis de domínio avassalador, têm agora pela frente uma nova época e nova disposição no jogo, ainda com muita coisa a provar.
Como está afinal esta selecção icónica a comportar-se nesta janela de Outono?
Não haja dúvidas, os All Blacks continuam a produzir jogadores de excelência, técnica e taticamente superiores mas também não façamos confusão, esta equipa tem uma maneira de jogar muito diferente relativamente aos anos Graham Henry (2004-2011) e principalmente aos anos Steve Hansen (2012-2019).
A 26 de Outubro, os All Blacks viajaram até ao Nissan Stadium em Yokohama, tendo defrontado o Japão e ganho por 64-19. Apresentaram um jogo relativamente lento para o que lhes é reconhecido e muito focado nos pontapés para as caixas.
No dia 2 de Novembro, o jogo foi frente à Inglaterra, em Twickenham, no Allianz Stadium. Foi um jogo renhido com a defesa Inglesa a obrigar à concentração do jogo no centro, quando a vantagem neozelandesa provém quase sempre de fazer chegar a bola aos canais mais exteriores e no one-on-one e com trabalho de pés, conseguir ganhar vantagem.
Foi um jogo onde se notou que a alta velocidade com que os All Blacks tiram a bola da mêlée ou mesmo do alinhamento, permite que haja mais facilmente erros de handling, dando vantagem à defesa, que é durante as primeiras duas fases que consegue capitalizar um roubo de bola. Neste sentido, uma ligeiríssima lentificação do processo, tornando-o à prova de erro, seria interessante.
Mark Tele’a fez dois ensaios, completou todas as placagens que fez e contestou com sucesso, três bolas no ar. Wallace Sititi foi para mim, “o” jogador, com um jogo virtualmente intocável. Foi através de um fabuloso offload que criou a oportunidade para o primeiro ensaio de Tele’a (num total de 4 offloads), fez ainda três quebras de linha (do total de oito feito pela equipa) e nove placagens efectivas. O resultado quedou-se num 22-23, com George Ford a ter tido nos pés a oportunidade de ouro para inverter o resultado.
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No embate frente à Irlanda, a 8 de Novembro, Asafo Aumua substituiu Codie Taylor e Damian McKenzie entrou para o lugar de Beauden Barrett, com o restante da equipa inalterada (Tamaiti, Tyrel, Scott, Vaa’i, Sititi, Cane, Savea, Ratima, Clarke, Jordie, Ione, Tele’a e Will Jordan).
Os All Blacks (que jogaram de camisola branca), arrancaram a primeira vitória em solo Irlandês desde 2016, fruto de seis penalidades de Damian MacKenzie (18 pontos) e um ensaio ao cair do pano (69 minutos) de Will Jordan.
Não foi um jogo muito bonito, recheado de rucks lentos e toques para a frente (avants ou knock-ons), com alguns turnovers a serem conseguidos por negligência no manuseamento correto da bola. Como se esperava houve alguns pontapés para a caixa, com Gibson Park a criar dificuldades mas a defesa adversária esteve sempre muito competente, com placagens efectivas interessantes mas com uma geral falta de controlo e precisão, que costumam caracterizar o lado Irlandês. Faltou-lhes muita determinação no momento de ataque à bola.
A falta de consistência que tem agraciado as exibições dos All Blacks, não teve um fim neste jogo mas sem dúvida que foi marcada uma posição importante, tendo melhorado aspectos de trabalho na mêlée, nos alinhamentos e a nível de passe e corrida, viu-se mais eficiência, com apenas 5 penalidades concedidas em detrimento das 11 frente aos Ingleses.
Damian MacKenzie, dos Chiefs, que tem tido dificuldade em expressar as suas capacidades de gestão de jogo, esteve nos píncaros exibicionais frente à Irlanda e Will Jordan continua a fazer estragos sempre que tem a bola na mão.
Começa também a criar-se um banco com mais profundidade e opções, essencial numa equipa com esta dimensão.
Depois deste buildup, sem dúvida que a expectativa para o embate frente à França no Stade de France, era alta, ainda com a derrota por 27-13 do Mundial, a pairar nas cabeças Neo-Zelandesas. Codie Taylor e Beauden Barrett a regressarem às suas posições, com Sevu Reece a substituir Tele’a, Cam Roigard no lugar de Cortez Ratima, Samipeni Finau a 6, Savea a 7 e Sititi a transitar de 6 para 8.
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Neste embate, ambas as equipas sabiam muito bem por onde explorar a defesa adversária e os Franceses libertaram os seus pontapés longos, a cruzar o campo e com os All Blacks sempre mais confortáveis com a bola na mão, com basculação do ponto de ataque. Finau saiu de jogo lesionado muito cedo e Peter Lakai entrou para o seu lugar, fazendo uma excelente exibição com um ensaio, placagens dominantes e carries de monta.
Os All Balcks conseguiram criar um momentum de jogo, tendo inclusivamente estado a ganhar por 14-3 à meia hora de jogo, mas novamente, os erros de manuseamento de bola e as penalidades concedidas, além da pressão intensa que os Franceses aplicaram no segundo tempo, fizeram claudicar a equipa do Hemisfério Sul.
O resultado quedou-se em 30-29, com os Franceses a saírem novamente vitoriosos e a conseguirem repetir o feito de há trinta anos atrás, quando derrotaram três vezes consecutivas os All Blacks.
Fiquemos com alguns números para refletir, relacionando os três embates, frente à Inglaterra, Irlanda e França: a velocidade dos rucks da Nova Zelândia passou de 40% dos 0 aos 3 s, para 43% e finalmente para 58% frente à França; as quebras de linha, foram de 8, 9 e 8; as penalidades concedidas passaram de 11 para 5 e 9; a performance nos alinhamentos evoluiu de 80% para 91% passando por 89% frente aos Irlandeses.
Nota-se a evolução nas fases estáticas do jogo, uma estabilidade nas quebras de linha e ainda muita indisciplina a acontecer, com dois amarelos nos dois primeiros jogos. Mas os All Blacks de “Razor” Robertson, estão a começar a mostrar dois aspetos muito importantes: a vontade de continuar a corrigir erros e a produzirem um pouco mais de consistência nas suas exibições.