O desabrochar de uma academia: CRAV, um caso de sucesso

Helena AmorimOutubro 25, 20246min0

O desabrochar de uma academia: CRAV, um caso de sucesso

Helena AmorimOutubro 25, 20246min0
Helena Amorim esteve à conversa com os principais envolvidos da academia de rugby do CRAV, um marco significativo no rugby do Norte

O Clube de Rugby de Arcos de Valdevez (CRAV) existe desde 1981, tendo no seu vasto palmarés, e falando apenas em termos de séniores masculinos, um campeonato da 3ª divisão, um campeonato nacional da 2ª divisão e dois campeonatos nacionais da 1ª divisão (2009/2010 e 2017/2018).

A realidade de um clube “periférico” passa, neste caso, por ter escassos atletas a treinar em base regular, senão vejamos: Arcos de Valdevez é uma Vila com uma grande franja dos seus habitantes com condições sócio-económicas desfavorecidas, o que nem sempre dá azo à prática de uma modalidade desportiva; o Concelho tem uma rede de transportes relativamente parca e ineficiente;  a mentalidade ainda é fechada à modalidade por via de mitos e tradições; existe uma componente geográfica complexa a ser considerada – estamos a falar de um vasto concelho que possui uma área de cerca de 448 km2, com 21 mil habitantes, num sistema semi-montanhoso e em que as distâncias a percorrer de uma freguesia  mais raiana até ao centro da Vila pode facilmente comportar uma hora.

Com esta enunciação, o clube estaria votado ao fracasso! Mas não é de todo, o que se tem passado ao longo dos anos, fruto de alguma “inebriante carolice”.

O CRAV vive do apoio da câmara Municipal e dos seus mecenas e sócios; compreende-se que gerir deslocações, na maior parte dos casos, para sul e sempre no mínimo de 200km, seja um exercício orçamental delicado e gerido a pinças mas isso não tem demovido as variadas direcções de continuar e persistir.

No pós-COVID, e segundo as palavras do 8º presidente do Clube, Miguel Correia, “as questões demográficas agudizaram-se e tem sido um foco desta direcção, trabalhar no sentido de recuperar os jovens que se perderam nessa altura”. O CRAV pretende “estabilizar treinadores; mais pais a assistirem aos jogos; melhorar a situação financeira, gerindo melhor os patrocínios, melhorando a loja do clube e reforçando a angariação de sócios”.

O clube tem neste momento representação dos sub-8, sub-10 e sub-12 (Academia de Rugby), sub-14, sub-16, sub-18, séniores (masculino; feminino em parceria com Sport Rugby), veteranos e touch (Clube de Rugby os Garranos que completou 10 anos no dia 24 de Outubro).

Para conseguir ter atletas nestes escalões, há todo um trabalho da estrutura do clube mas também de muitas pessoas que mesmo não tendo um vínculo com o clube, consignam o seu tempo e energia para ajudar a concretizar ideias. E sem dúvida, que uma das ideias que tem persistido ao longo do tempo, é a de criação de uma academia e de um foco na formação.

A Academia de Rugby de Arcos de Valdevez surgiu em 2022 pela mão de Eduardo Pimenta, um dos vice-presidentes do Clube, como espaço de convívio, transmissão de valores desportivos e sociais e como espaço de preparação física. Foi desenvolvido trabalho junto da Escola Básica António Melo Machado, nomeadamente nos tempos de recreio, possibilitando o contacto com a bola oval, com idas regulares de treinadores à escola. Para os miúdos mais curiosos, o CRAV facultou a possibilidade de fazerem uma prática regular.

No início de setembro deste ano, a academia ganhou outro fulgor como um staff dedicado (treinadores e colaboradores) aos escalões do sub-6 ao sub-12 e com uma agenda própria, exclusivamente dedicada e focada na captação dos mais novos mas também na desmistificação da modalidade junto de pais e familiares.

Foi conseguida uma melhor articulação entre CRAV e Academia de Rugby, de modo a criar as sinergias necessárias para melhorar o foco nos mais novos, o que no fundo é a base de qualquer clube de râguebi: garantir que há jogadores para a prática sustentada da modalidade que representam.

Além dos treinos duas vezes por semana, há atividades de sensibilização à modalidade junto da Escola Básica Professor António de Melo Machado, sessões de formação e esclarecimento, nomeadamente na área da nutrição e prevenção de lesões, participação em convívios e torneios assim como nos jogos do calendário da ARN e uma página no Instagram dedicada a veicular informação dedicada.

A coordenação técnica recai sobre Alberto Magallanes, Argentino de Salto (província de Buenos Aires), de 49 anos, que veio para Portugal há dois anos com a família. Ainda na Argentina, jogou a asa no râguebi, praticou basquetebol e atletismo, tendo sido campeão argentino nos 800m, por duas vezes.

Alberto frequentou medicina e direito mas a necessidade financeira obrigou a que se tornasse vendedor de tudo (televisões, carros, eletrodomésticos, imóveis e até ilusões!). Quando a situação social e económica na Argentina, apertou significativamente, Alberto decidiu rumar à Europa e a sua pesquisa foi: onde há clubes de râguebi em Portugal? Encontrou o CRAV e escreveu uma carta à direção; já sabemos o desfecho!

O râguebi e um treinador em especial, foram os elementos decisivos para que se apaixonasse e a certa altura começasse a treinar jovens. A sua filosofia passa por garantir que os miúdos se tornem atletas, divertindo-se no processo; exige concentração e foco mas sempre com um sorriso e uma brincadeira. Como ele próprio diz: “os pais, estão a entregar-me o seu bem mais precioso e nesse sentido, eu tenho de corresponder da melhor maneira, ajudando a criar valores e respeito”. Alberto é alguém que vive com muita paixão o râguebi: “o râguebi ensina a magia da pertença”.

No passado dia 20 de Outubro, realizou-se o torneio inter-regional da Associação de Rugby do Norte (ARN) com organização logística do CRAV, o já conhecido “Celtinha”.

No Estádio Municipal (sintético), decorreu o convívio inter-regional de sub-6 a sub-12, com a participação de cerca de 350 atletas das seguintes equipas: Braga, Cercar-te, Trofa, Guimarães, CDUP, Colégio Júlio Dinis, Lousã, Agrária, Bairrada, Escola de Rugby do Porto (ERP), Sport Rugby Porto e Famalicão, além do CRAV e respectiva Academia.

No Estádio de Rugby (relvado) decorreu uma jornada inter-regional dos sub-14 Rugby de XIII, com a participação de cerca de 150 atletas.

Foi um evento diferente: notou-se uma boa articulação e acima de tudo, uma adesão de atletas e público que no seu total, terá rondado 1 milhar de pessoas, o que, numa Vila onde a principal modalidade é o futebol e com uma população de cerca de 21 mil pessoas, é de facto, um feito assinalável.

Apesar da persistente chuva, houve uma disposição muito alegre e vislumbrou-se já, um bom nível competitivo dos atletas presentes.

Há futuro! Que o saibam acarinhar!


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