Seis Nações 2018 Ronda 5: O Grand Slam Irlandês que gelou Twickenham
A 5ª POSIÇÃO NA TABELA… COMO?!
A terceira derrota consecutiva da Inglaterra neste final das seis nações 2018, vai deixar moça a vários níveis. As primeiras ilações são desmotivadoras para a seleção da rosa, que ainda que seja a seleção com o maior número de troféus na competição, nunca tinha atingido uma posição tão inglória como este ano, ainda que os modelos de pontuação tenham sido alterados.
Outro apontamento de relevo, Inglaterra não perdia em Twicknham desde o dia 3 de Outubro de 2015, num jogo frente à Australia onde o resultado se fixou em 13-33. Estamos a falar em 2 anos civis sem sentir o sabor da derrota.
Por fim, o selecionador Eddie Jones no comando desde Novembro de 2015 nunca soube o que era perder 2 jogos seguidos quanto mais três derrotas sucessivas. É caso para dizer que a Inglaterra entrou em plena crise? Relembrando que estamos a pouco mais de um ano para o Campeonato do Mundo no Japão.
O rugby como todos os desportos, vive da espetacularidade, da incerteza do resultado, da emoção exposta em campo. Mas é certo e sabido que quando uma equipa tem boas bases, apresenta um modelo de jogo seguro e fluido e os seus jogadores estão nitidamente comprometidos com a equipa, tudo está mais perto da vitória. Foi assim, que vimos uma forte Irlanda no torneio das seis nações deste ano.
A solidez vem dos dois principais clubes a nível nacional (Munster e Leinster) que estão num grande momento e predominam a convocatória da seleção irlandesa, 18 do Leinster e 11 do Munster, num total de 29 jogadores. Este facto, traz uma dinâmica de jogo mais compacta e um entrosamento dentro da equipa.
A MELHOR EQUIPA GANHOU… E NÃO HÁ ARGUMENTOS CONTRA
O primeiro balde de água fria em Londres, surgiu logo aos 5 minutos de jogo com o 1º ensaio irlandês por intermédio dos ¾ centro Ringrose. Para muitos não passou de uma jogada normal, nós considerámos fulcral para o desenrolar do jogo.
Só um jogador com a experiência de Jonathan Sexton, percebe a importância daquele pontapé alto dentro da área de 22 metros inglesa no inicio de jogo, o jogo está frio, o vento a seu favor e a pressão faz-se sentir nos ombros de Watson que acabou por fracassar no seu posicionamento e abordagem ao lance. Para além dos 7 pontos conquistados, a Irlanda entra a ganhar em Twicknham e crescem os níveis anímicos.
Passados cerca de 20 minutos, e com o resultado em 0-7, vem a jogada do encontro, combinação perfeita da Irlanda a partir de alinhamento com bola rápida em Sexton e triangulação de grande nota entre o médio de abertura, Furlong e Bundee Aki que faz a perfuração da defesa inglesa e dá dentro no apoio a CJ Stander que já só vê a linha de ensaio. Este momento foi a confirmação de que a Irlanda vinha com o Grand Slam em mente.
Destaque para o posicionamento do pilar Tadhg Furlong neste momento de jogo. Alguém acharia possível que um pilar com 1.85m e 126kg estaria naquela posição do campo para fazer um cruzamento com Aki como se de um jogador de ¾ se tratasse? Estratégia de Joe Schmidt a dar cartas.
– Irlanda mais objetiva e definida dentro de campo, Inglaterra a correr sempre atrás do resultado com muita ansiedade, não soube aproveitar com discernimento as oportunidades que teve em mão. Recordamos por volta do minuto 28, a Inglaterra teve três alinhamentos a seu favor nos 22m da Irlanda sempre em progressão territorial e não conseguiu traduzir em pontos até mesmo com a Irlanda a jogar com menos um jogador após a expulsão temporária do flanqueador Peter O´Mahony.
– Visão soberba de Owen Farrell no 1º ensaio de Inglaterra com um pontapé raso para o ponta Elliot Daly.
– Placagem em colher do Keith Earls a tirar o 2º ensaio de Elliot Daly aos 44min que poderia virar o resultado do jogo.
– O polémico aumento da área de validação por indicação da federação inglesa, parece só ter prejudicado a seleção da casa, o ensaio do Stockdale é exemplo disso que ao mesmo tempo fez dele o grande recordista de ensaios num torneio das 6 Nações, 7 finalizações na competição.
– Irlanda não deu um centímetro a defender, no total fez mais 50 placagens do que a Inglaterra, e teve o mesmo número de placagens falhadas, 20 no total para ambas as partes.
– Os 10 minutos finais de jogo da Inglaterra são de grande nível, na construção de várias fases de jogo, demonstram a grande equipa que é mesmo sabendo que já não ganharia o jogo.
ERROS À LÁ ITÁLIA SAEM CARO E MAIS CAROS SAEM COM LAIDLAW
Os adeptos italianos esperavam um desfecho diferente na última jornada da competição e a verdade é que a seleção da casa apresentou um rugby convincente e a todo gás no Olímpico de Roma. Mas afinal o que fez a diferença?
Tratava-se de um jogo de honra, pois a colher de pau (último lugar) já não fugia aos azzurri que jogavam apenas o seu segundo jogo em casa. Nos primeiros 20 minutos de jogo só deu Itália, muito bem a jogar com o seu forte pack avançado em mini-unidades superiormente orquestradas pelo número 10 italiano, Tomasso Allan que viria a ser o Man of the Match.
Ao intervalo a Itália ganhava por 12 pontos, a Escócia parecia não estar inspirada e os italianos estavam em altas…mas afinal o que fez a diferença no resultado final?
No nosso entender existem dois pontos fundamentais para este desaire:
– A Itália não consegue ter um plantel que vá para além do seu 15 inicial, a partir do momento em que começa a rotatividade na equipa, o nível exibicional desce a pico, esta falta de qualidade no banco de suplentes é determinante quando o jogo está na balança para a vitória ou para a derrota.
– Muitas vezes criticámos…mas desta vez temos de tirar o chapéu ao selecionador escocês, Gregor Townsend, que na lesão de Finn Russell, prefirou meter na sua posição Laidlaw ao invés de Stuart Hogg que já desempenhou a função de médio de abertura nos British and Irish Lions.
Com esta decisão matou dois coelhos numa só cajadada, meteu o médio formação suplente Ali Price para dar a velocidade e ritmo ao jogo escocês e passou Laidlaw para 10. Townsend sabia perfeitamente que o jogo se iria decidir por detalhes e assim foi…9 pontos em pontapés de Laidlaw, fizeram a diferença no resultado final de jogo.
TRINH-DUC SIGNIFCOU DESASTRE E 2º LUGAR PARA GALES
O jogo que encerrava a edição das 6 nações 2018 entre o País de Gales e França, era decisivo para a definição do pódio por isso o interesse era grande no encontro entre estes dois países. A vitória galesa veio confirmar a segunda classificação de uma seleção que se apresentou inicialmente no torneio com muitas ausências de peso e nunca conseguiu ter a equipa na máxima força. Mérito para Gatland que mostrou a tudo e todos o grande treinador e estratega que é no rugby mundial.
Sobre o jogo, foi de disputa total entre as duas equipas, diríamos que uma 1ª parte da Gales e uma 2ª parte da França. Como fizemos em anteriores análises vamos por pontos.
– A prestação do abertura francês, François Trinh-Duc, condicionou o jogo da seleção gaulesa. A única decisão acertada que teve foi o drop inicial que meteu a França em vantagem, mas serviu de muito pouco.
Ora veremos as suas ações negativas que foram preponderantes, má abordagem ao ressalto da bola no 1º ensaio de Liam Williams, aos 52min penalidade para a França desperdiçada com um pontapé pela linha de fundo depois de uma importante conquista na mellé, passe de avant para Benjamin Fall numa situação de contra-ataque, e por fim um pontapé de penalidade falhado aos postes que metia a França em vantagem por 14-16 a 12 minutos do fim de jogo.
– Gales muito bem a pressionar na 1ª parte com bolas nas costas da defesa francesa.
– Excelente aposta de Brunel em Gael Fickou para ponta e confirmação do bom momento de Remy Grosso e Bastareud.
– Grande jogo de Alun Wyn Jones, Faletau e Navidi.
– Incompreensível decisão de Brunel em tirar Marchenaud, quando o resultado está equilibrado até ao fim e os pontapés aos postes são determinantes. Estamos a falar do jogador com maior número de pontos da prova este ano, com 50 pontos. O inverso daquilo que fez Townsend com Laidlaw e ganhou o jogo.
Chegamos ao fim da competição de rugby mais importante no hemisfério norte, foi uma grande edição das seis nações, aguardemos ansiosamente por 2019 em ano de Mundial!