Clube de Rugby de Évora, um estranho caso de sucesso

João OliveiraFevereiro 25, 20185min3
O Clube de Rugby de Évora cumpriu no passado ano 25 Anos de existência, um artigo de opinião onde ficamos a conhecer melhor a realidade da modalidade em Évora.

No passado ano civil, o Clube de Rugby de Évora, cumpriu as suas bodas de prata ao completar 25 anos de existência. Sou obviamente suspeito para falar e escrever sobre este clube, onde nos 25 anos percorridos estive presente em 12 como jogador, mas ao mesmo tempo sinto que esta visão vista de dentro para fora, poderá explicar o porquê de o CRÉ ser efetivamente um clube especial e um estranho caso de sucesso no rugby nacional.

Nesta altura, muitos dos nossos leitores questionam a associação de duas palavras, CRÉ e sucesso? Sim, este é o motivo principal deste artigo, porque para ser bem-sucedido não está apenas em causa as vitórias e palmarés, mas a marca que um clube deixa nos seus jogadores, tornando-os especiais.

Winston Churchill um dia disse, “o sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”, e penso que não existe melhor frase para definir a história gloriosa deste clube alentejano, porque naquele clube não existem fracassados, mas jogadores, equipas técnicas e dirigentes que vivem entusiasmadas e apaixonadas pelo rugby e pelo CRÉ. Prova disso é o entusiasmo não ter caído por terra, quando o clube esteve desde a sua fundação até Julho de 2016 sem um campo próprio para que se pudesse praticar de forma independente o desporto que amava. Foram 24 anos sem um complexo desportivo em 25 de existência.

A questão curiosa que lanço para o ar é simples, como vive um clube tanto tempo sem um campo? Onde o treino e jogo são cruciais para a sua existência. A resposta é simples mas a fórmula não, viveu porque os seus jogadores e dirigentes foram para além dos valores intrínsecos desta modalidade, viveu porque se levou muito a sério a amizade, a resiliência, a dedicação, a garra e o amor ao clube.

Recordo-me com tenra idade, quando ia com a minha equipa para os torneios da ARS, de ficar maravilhado com a organização das equipas de Lisboa, os seus autocarros, os equipamentos personalizados, todo um staff preparado para que nada lhes faltasse. Na altura ficava com inveja daquelas condições, mas uns anos mais tarde, comecei a perceber que esse era o motivo para os nossos jogos começarem desde cedo com uma vitória sem sequer ainda termos entrado em campo. Porque sair de Évora para ir aos torneios ou jogos, implicava acordar primeiro que todas as outras equipas, implicava ir numa carrinha velha em cima uns dos outros, implicava cada um ter o seu equipamento mesmo que os calções de uns fossem brancos e os de outros azuis, implicava sermos verdadeiros amigos uns dos outros, porque não existia solução ao percorrer milhares de km´s juntos. No fundo, onde os outros viam uma adversidade nós víamos uma oportunidade, porque aprendemos desde cedo neste clube que o básico é o essencial.

Com isto, não estou a defender que um clube não precisa de condições, é óbvio que precisa, ainda para mais num mundo cada vez mais materializado e competitivo, estou sim a dizer que um clube tem a obrigação de passar aos seus atletas a sua identidade e os seus valores, é por isso que olho hoje para o Clube de Rugby de Évora com gratidão, não pelas condições que faltaram mas pela forma como colmataram essas mesmas lacunas, dando-me honestidade, integridade, espírito de sacrifício, muitas amizades, e para isso não existe preço. O clube é hoje um caso de sucesso por tudo o que já disse, mas também pelos muitos títulos conquistados (campeões nacionais em juvenis, campeões nacionais e ibéricos em juniores, campeões nacionais do segunda divisão em seniores, entre muitos outros), mas também pelos vários jogadores internacionais e principalmente por ser uma referência nas camadas jovens.

Não vamos tapar o sol com a peneira, o Rugby em Portugal continuará amador, pelo menos nos próximos tempos, por isso o melhor caminho a incutir nas equipas é o da realidade, do trabalho árduo sem mordomias, da sobreposição do conjunto em detrimento do individual, da essência dos valores e do compromisso. Que se faça um estudo aprofundado sobre a geração de 2007 que foi ao mundial e se retirem as principais ilações, porque eles eram amadores e fizeram história que muito possivelmente nenhuma outra equipa no mundo conseguirá repetir com as condições de que disponham.

No fundo, eu como tantos outros no Clube de Rugby de Évora já sentimos saudades de treinar no pelado, de chegarmos a casa enlameados depois de um dia chuvoso e de frio no inverno, de sentir o frio na barriga antes de entrar em campo que não era o nosso, de muitas vezes não ter um número suficiente de jogadores para uma convocatória, enfim tantas e tantas situações que nos afetaram, mas que ao mesmo tempo nos deram a maturidade e o crescimento possível para jogar.

Porque nem sempre o caminho mais fácil é o melhor, sinto-me um privilegiado por ter passado por todos estes momentos num rugby de interior muitas vezes esquecido, porque em Évora existe potencial, diria mesmo um grande potencial. Por isso, se é para crescer que a Federação Portuguesa de Rugby como entidade principal, não se esqueça dos eborenses porque o tempo encarregou-se de mostrar que em Évora o rugby já fez história e continuará certamente a fazer.

 

fonte: Mão de Mestre

3 comments

  • Freire

    Agosto 3, 2020 at 11:23 am

    Impeccable Mr Soares de Oliveira!!!

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  • Paulo Soares de Oliveira

    Agosto 1, 2018 at 4:57 pm

    Muito bom !! Puro e Duro, mas Verdadeiro. Há, com certeza, outros que, na dificuldade se basearam, ou tentaram basear nestes valores. Esperemos que os preservem e transmitam, a bem do Rugby nacional…

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  • José Manuel Cardoso inacio

    Fevereiro 25, 2018 at 7:49 pm

    Grande clube, da gosto ver as várias equipas a mostrar come se trabalha no CRÊ, PARABÉNS À TODOS

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