O que vale o tempo final da regata no Remo?

Estevão PapeOutubro 24, 20184min0

O que vale o tempo final da regata no Remo?

Estevão PapeOutubro 24, 20184min0
No remo, nas regatas na água, não existem os chamados recordes do mundo, como em desportos como o atletismo. Mas existem os "melhores tempos do mundo" e, como noutros desportos, são tempos de referência para os atletas e equipas

No remo, nas regatas na água, não existem os chamados recordes do mundo, como em desportos como o atletismo. Mas existem os “melhores tempos do mundo” e, como noutros desportos, são tempos de referência para os atletas e equipas. A razão de não serem apelidados de recordes do mundo é porque no remo não se limitam as condições de vento e outros factores para se considerarem estes tempos, enquanto outros desportos o fazem para homologar recordes do mundo.

Se considerarmos quando são batidos e realizados estes melhores tempos, veremos que são em condições de vento favorável ou o chamado “vento a favor”. Mas há outros factores que também podem influenciar, como a profundidade da pista ou até mesmo alguma corrente, dependendo da pista, embora muito raro.

Trago este tema por analise à prestação da nossa equipa de Double Ligeiro, de Pedro Fraga e Afonso Costa, no Campeonato do Mundo deste ano. Após muitos anos a acompanharmos o sucesso de Pedro Fraga e Nuno Mendes, este ano vimos uma nova dupla a representar-nos em provas internacionais. A herança da dupla Fraga e Mendes é enorme e o 5º lugar nos Jogos Olímpicos poderá ser considerado o melhor resultado do remo nacional de sempre, tal é a importância de uns Jogos Olímpicos, a difícil qualificação e preparação para uma prova que só se realiza a cada 4 anos.

A expectativa era grande para a nova dupla e o primeiro sinal positivo foi uma medalha de bronze no Memorial Paolo d’Aloja em Piediluco. Os sinais que a equipa tinha potencial foram demonstrados nos treinos e era legitimo o objectivo de alcançar as semi-finais e um Top 12.

Quem acompanhou o Campeonato do Mundo pode ver as condições em que se realizaram os quartos de final e as diferentes condições que se sentiram entre as pistas, com apenas a Irlanda (Campeã do Mundo) e Bélgica (3º lugar) a passarem às semi-finais competindo nas pistas 2 e 3. Todas as outras equipas que se qualificaram competiram nas pistas 4 a 6. A própria FISA admitiu a injustiça das condições, adiou as regatas seguintes mas decidiu não repetir as provas anteriores. Uma decisão polémica que levou ao protesto de muitas federações, incluindo a portuguesa.

A partir desse momento ficou logo levantada a dúvida de se a nossa equipa teria conseguido chegar às semi-finais. As indicações eram boas, tendo até conseguido a qualificação directa para os quartos de final. Será algo que nunca saberemos.

Voltando ao tema dos tempos finais das provas, os melhores tempos do mundo vão evoluindo e cada vez são mais rápidos, fruto da evolução do treino e do material utilizado. Muitas equipas, senão todas, usam estes tempos como referência para os seus treinos e critérios de selecção. Muitos treinadores colocam mínimos percentuais sobre estes tempos para levar equipas a provas mundiais e muitos prevêem os resultados das suas equipas com base nos mesmos.

Este tema surgiu por referência do treinador da equipa nacional, José Velhinho, após o Campeonato do Mundo, em que referiu que o tempo de 6:14.56 conseguido na final C seria o melhor tempo de sempre de uma equipa nacional de double-scull.

Fomos analisar os tempos da dupla Fraga e Mendes, a mais bem sucedida de sempre com várias medalhas em provas mundiais e europeias, além da presença em Jogos Olímpicos. Os melhores tempos conseguidos foram:

  • 2010, Montemor-o-Velho, Campeonato da Europa – Vice-Campeões – 6:22.50
  • 2012, Varese, Campeonato da Europa – Vice-Campeões – 6:22.27

Já este ano, a dupla de Afonso Costa e Pedro Fraga tinham conseguido o tempo de 6:21.26 na primeira Taça do Mundo em Belgrado, na final B. Nesta prova, o vencedor fez o tempo de 6:13.04. Também na eliminatória do próprio Campeonato do Mundo realizaram o tempo de 6:21.550.

Comparando com os melhores tempos do Campeonato do Mundo, a Irlanda ganhou a prova com o tempo de 6:06.81, prova realizada cerca de 3 horas antes da final C. A França, que também não se apurou para as semi-finais e venceu a final C (disputada também por Portugal), realizou um tempo de 6:08.84.

Os tempos e a sua comparação, em regatas e alturas diferentes, são sempre relativos. Pois o que conta é a classificação final e o resultado obtido. Mas se os melhores tempos do mundo evoluem e são batidos ano após ano, é também de esperar que as nossas equipas evoluam. Não podemos por isso dizer que a uma equipa que bate o melhor tempo nacional é melhor que a anterior, mas podemos sem dúvida ver que há uma evolução. O modo mais correcto seria comparar os tempos com os melhores tempos anuais.

Fizemos esta analise, curta, procurando ver sinais positivos de uma participação no Campeonato do Mundo em que ficaremos sempre na dúvida qual seria a real posição final da nossa equipa, após os acontecimentos dos quartos de final.


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