Desenvolvimento das Competências de Base do Jovem Patinador
Já por aqui opinei sobre a estruturação do processo formativo dos jovens patinadores, tecendo algumas considerações sobre o trabalho a efetuar em termos genéricos e balizando as várias etapas de desenvolvimento dos futuros “craques”. Hoje gostaria de falar um pouco sobre situações mais específicas, nomeadamente sobre as competências técnicas que podemos explorar / desenvolver nos nossos patinadores de mais tenra idade.
Em Portugal seguiu-se, durante largos anos, a perspetiva italiana de escolas de patinagem, com um modelo técnico baseado em circuitos de agilidade pré-definidos e, mais tarde, com percursos alternativos que desmontavam o tradicional circuito oval das provas e procuravam proporcionar vivências diversas em termos de trajetórias de prova, relação com a trajetória dos adversários mais próximos e exploração das suas potencialidades.
No entanto, e por diversos motivos que passarei a expor mais à frente, a abordagem destes circuitos e percursos foi-se resumindo apenas ao treino do circuito ou percurso e não das competências que estão subjacentes na execução dos mesmos. O resultado foram competências por adquirir, com efeitos no desenvolvimento técnico e tático do patinador, sendo que o foco era a vitória na prova, independentemente da correta ou incorreta execução dos elementos constantes no circuito. Porque é que isto aconteceu e acontece?
Um dos motivos que levam frequentemente os patinadores e seus treinadores a investirem apenas e só na conclusão rápida da tarefa sem ênfase na execução técnica, passa pela tónica competitiva que estas atividades vão tendo. Concordo que a competição seja importante para motivar os patinadores e proporcionar a entrada na vertente mais “a sério” da modalidade, mas devemos criar mecanismos de regulação para que o instrumento (circuitos ou percursos) cumpram efetivamente a função para o qual foram concebidos. Caso contrário, bastava os patinadores continuarem a patinar em circuito oval.
Outros dos motivos será a pouca adaptação dos circuitos às idades dos praticantes. Um patinador de seis anos necessitará de espaços de intervenção diferentes de um patinador de dez anos, tendo em conta até a questão morfológica de ambos. Em termos práticos, uma gincana para um escolar não deverá ter a mesma distância entre cones do que uma gincana de iniciados, por exemplo. Estas situações terão que ser alvo de análise por parte dos diversos agentes técnicos, que deverão produzir relatórios sobre estas matérias e direcionando o processo em função das lacunas detetadas.
Por vezes a falha está no facto de os treinadores não terem a perceção do que se pede em cada um dos elementos colocados nos percursos e dos objetivos inerentes à sua realização, ou talvez também na falha de comunicação entre os agentes no sentido de expor estas situações de forma mais clara.
Aproveitando o arranque da época com a 1ª Fase de Apuramento da Taça Nacional Neves de Carvalho – Projeto Speedy, gostaria de sensibilizar os agentes da modalidade para esta questão, incentivando ao debate sobre este assunto e à apresentação de ideias, para que possamos todos fazer evoluir o nosso modelo de formação dos jovens patinadores.