NFL Europe: Vida e morte de um sonho americano
A 29 de junho de 2007 chegou um anúncio que mudou o panorama do Futebol Americano na Europa. Depois de se ter mantido em atividade durante 16 anos, a ambiciosa NFL Europe (NFLE) morria pelas mãos de Roger Goodell, o comissário da NFL.
A NFL Europe surgiu como uma oportunidade de expandir o desporto no velho continente e desenvolver jogadores que ainda não estavam na liga principal. Plano este que a liga norte-americana e os seus donos decidiram terminar por falta de lucros, mas vamos tentar contextualizar um pouco mais a história deste projeto “falhado”.
Em 1991, a NFL decide criar a sua própria liga secundária, a World League of American Football. Para a sua primeira temporada a liga escolheu ter 7 equipas norte-americanas (6 nos EUA e 1 no Canadá) e 3 europeias (na Alemanha, Inglaterra e Espanha). O interesse pelas equipas norte-americanas era escasso, por outro lado, as franquias europeias estavam a ter sucesso na bilheteira.
Após 2 temporadas a WLAF é cancelada, voltando em 1995 e mantendo o mesmo nome, mas sem quaisquer equipas americanas. Os Frankfurt Galaxy, os London Monarchs e os Barcelona Dragons voltaram à liga acompanhados de 3 novas equipas: os Amsterdam Admirals (Holanda), os Scottish Claymores (Escócia) e os Rhein Fire (Alemanha). O retorno da liga não trouxe tantos adeptos aos estádios como no passado, mas com o tempo o interesse aumentou imenso em algumas regiões.
Em 1998 é tomada a decisão de mudar o nome da liga para NFL Europe, mantendo ainda assim o nome do troféu World Bowl. Anos mais tarde, torna-se cada vez mais óbvio para o comissário da liga que o interesse pela NFL Europe não é sentido por toda a Europa. Se verificarmos os números de adeptos nos estádios antes de a liga ter seguido uma abordagem mais direcionada à região germânica, vemos exatamente isso. A equipa com maior assistência em 2003 foi a dos Rhein Fire, com uma média de 34.218 adeptos por jogo. Por outro lado, a pior era os Barcelona Dragons com 6.868 adeptos em média. As equipas fora da Alemanha provavam constantemente não conseguir manter números respeitáveis, baixando a média geral da liga e, consequentemente, o valor da mesma.
Em 2006, a NFL Europe chega à sua forma final: 5 equipas alemãs (Frankfurt Galaxy, Rhein Fire, Berlin Thunder, Hamburg Sea Devils e Cologne Centurions) e 1 holandesa (Amsterdam Admirals). Pela primeira vez na história da liga, todas as equipas tinham uma média acima de 10.000 adeptos por jogo. Assim a liga manteve-se estável com números respeitáveis, culminando na sua última temporada. A NFL Europe teve a melhor temporada da sua história com 20.024 adeptos por jogo em média.
A nova estratégia provou ser a mais acertada para garantir um futuro próspero para a liga, mas infelizmente nem todos pensavam da mesma forma. Meses após a World Bowl XV, a NFL Europe decide fechar as portas. Devo realçar o facto de esta ter sido a final com a maior assistência desde a de 2002, com um total de 48.125 adeptos no estádio. A NFL justifica o cancelamento da liga dizendo que estavam a perder dinheiro e que iria seguir uma nova tática para promover o desporto na Europa.
Apesar das justificações, muitos acreditam que a competição estava a poucas épocas de se estabelecer nas novas comunidades e tornar-se um maior sucesso. Sucesso esse manifesto na forma como a NFL Europe afetou positivamente as carreiras de inúmeros jogadores. Atletas que nunca seriam vistos tiveram hipótese de provar o seu valor, como é exemplo o quarterback Kurt Warner, que jogou na liga com os Amsterdam Admirals. Warner utilizou a liga como uma catapulta para ser recrutado para a NFL e criar uma carreira e legado fenomenal. A antiga super-estrela dos Rams é uma das provas vivas dos objetivos da liga: criar oportunidades para jogadores que antes seriam apenas postos de parte.
Outros vêm a NFL Europe como um sucesso pelo seu impacto nos países onde esteve, principalmente na Alemanha. A competição não só expôs o futebol americano a mais olhos, como abriu portas a jogadores e treinadores europeus. Muitos destes, após a morte da liga, usaram os seus talentos e conhecimentos para desenvolver a modalidade nas suas nações.Não consigo valorizar o suficiente esta força que a NFL Europe deu ao desporto no velho continente. Sem a NFL Europe não teríamos tanto talento como temos hoje. Talento este que finalmente está a voltar a ter oportunidade de se mostrar num nível profissional.
A liga canadiana Canadian Football League (CFL) decidiu, como sua nova grande iniciativa, recrutar atletas europeus para a sua liga. Esta estratégia tem sido favorável para a CFL, tendo havido um maior interesse na liga por fãs internacionais que anteriormente nem pensariam duas vezes na competição.Infelizmente, a estratégia atual da NFL é um pouco o contrário da anterior, estando voltada somente para a promoção no mercado britânico. Digo infelizmente, pois a NFL está não só a perder a oportunidade de desenvolver e recrutar novos atletas, mas também de organizar jogos em mais países.
Sem dúvida que a NFL têm tido sucesso no novo mercado anglófono, mas este é o único país para o qual a liga voltou depois de fechar a NFL Europe. Ninguém pode negar que os três jogos por ano organizados em Londres são eventos fantásticos, mas na minha opinião era bom ver países com uma massa adepta muito mais desenvolvida do que a britânica, como a Alemanha e a França, a terem oportunidade de servir como anfitriões da NFL.Algo que a NFL e o seu comissário Roger Goodell discutem constantemente é uma possível expansão europeia. Esta expansão envolveria a adição de uma nova equipa em Londres, sendo esta a única equipa estrangeira da liga. Isto, obviamente, teria custos enormes (muito mais do que o dinheiro perdido na NFLE) e seria uma tarefa extremamente complicada.
A possibilidade de uma divisão europeia também foi discutida para facilitar a criação de calendários mais equilibrados e menores custos em viagens.Destes sonhos da NFL aparecem várias perguntas: Porquê Londres? Será este projeto viável? Esta nova equipa estará em desvantagem comparada com as outras? Porque não uma liga europeia separada? E destas questões nascem muitas outras: Ainda teríamos a NFL Europe se esta tivesse sido criada nos últimos anos? E iriam as novas possibilidades da Internet ajudar a desenvolver a liga? Será voltaremos a ver futebol americano profissional na Europa? O futuro da NFL na Europa ainda é muito incerto, mas pelo menos ainda podemos relembrar o passado da NFL Europe.