Continuidade é (under/over)rated
Olhando para a lista dos duos de estrelas da NBA, será fácil deduzir que os que transitaram da época passada são inferiores. O nível de talento é mais baixo e os melhores jogadores da liga estão maioritariamente nas novas superequipas. Quatro dos seis top players da NBA estão nestas novas equipas como LeBron, Durant, Kawhi e Harden… do lado da continuidade ficaram apenas Curry e Giannis.
Assim sendo, com talento inferior (no seu duo) estas 5 equipas confiam na continuidade, na ligação entre a combinação de todas as unidades em campo.
Do outro lado, a recompensa é maior já que o talento que as 4 equipas juntaram é superior, mas o risco associado sobe também de tom, pois existe a possibilidade de o duo não resultar dentro e/ou fora de campo, não conseguindo se complementar e o que pode significar um registo exibicional pior para a equipa em geral.
Nas equipas de continuidade não há essa questão. Sabemos que Curry-Klay funciona (em 2018 a eficácia de lançamento de Klay Thompson foi de 66,5% quando Curry jogou e 52,7% quando Curry não jogou), que Giannis e Middleton se complementam (Middleton passa de 0,96 assistências/turnover quando Giannis não joga, para 1,95 assistências/turnover com o grego em campo) e sabemos que Lillard e McCollum se dão bem dentro e fora do campo. Mas, por outro lado, sabemos que estes três duos (bem como os de Nuggets e 76ers) têm um limite conhecido, que não deve dar um salto este ano. Afinal, o que compensa? Teremos de ver caso a caso.
Caso a caso, quem fica por cima?
Nas equipas de Los Angeles não havia outro remédio senão fazer all-in para juntar a cada equipa um novo duo. Os Lakers não podiam desperdiçar os poucos anos de elite que restam a LeBron e os Clippers não estavam dispostos a esperar que as escolhas do draft que tinham se materializassem, evidenciando que o objetivo principal é ganhar no imediato.
Se no caso dos Lakers há alguns pontos de interrogação sobre como vão funcionar LeBron e Davis (se ambos precisam do espaço interior para brilhar, uma vez que 36% dos lançamentos de LeBron na sua carreira foram no ataque ao cesto e em 17-18 Anthony Davis fez 64% dos seus lançamentos na área do cesto), nos Clippers a história é outra. Kawhi e Paul George são muito parecidos (mais do que os vizinhos rivais), mas de uma forma positiva, pois ambos são defensores excelentes, bons pontuadores e sem grande ego que esmague os restantes colegas. Ou seja, uma junção que tem tudo para dar certo.
O caso dos Rockets é o mais paradigmático deste dilema. Tinham a possibilidade de apostar na continuidade com James Harden e Chris Paul ou trocar por Westbrook (que ficou disponível depois da troca de Paul George). A equipa de Houston escolheu a segunda, juntando um duo que será o mais arriscado da liga: Harden e Westbrook. É a receita para o sucesso e para o desastre ao mesmo tempo, cabendo a Mike D’Antoni encaixar as peças e tornar esta jogada num sucesso ou, em caso de fracasso, viver com um pesadelo difícil de solucionar (os dois jogadores aparecem duas vezes cada um nas épocas com maior taxa de uso da história da NBA, por isso será um desafio gerir quem terá mais bola).
A última equipa deste grupo são os Nets. A formação de Brooklyn é um caso complicado, já que Durant não deverá jogar esta época por isso só no próximo ano veremos o que a equipa pode ser. No papel, Durant-Irving é um duo fantástico, mas na prática pode não funcionar tão bem. São jogadores que precisam da bola na mão (nos Warriors, Curry baixou o domínio para acomodar Durant mas, Irving talvez não seja capaz de o fazer) e com feitios complexos que podem dificultar o processo de colocar a máquina a carburar no máximo. Contudo, é inegável o talento de ambos e se o mesmo for bem aplicado a Conferência Este vai sentir o nascimento de uma nova força nos courts.
Das equipas da continuidade, o caso mais interessante são os Warriors. Depois de anos de domínio, a saída de Durant abre espaço para o regresso em força dos Splash Brothers. Apesar disso, a lesão de Klay Thompson deixa questões no ar, especialmente para Steve Kerr, que espera por uma boa resposta com a inclusão de D’Angelo Russell. Apesar de ser um duo de continuidade, a equipa tem demasiadas mudanças e terá, como os casos acima descritos, de se encontrar e fazer as coisas funcionar.
Conclusão: partem todos ao mesmo nível
A conclusão pode não acrescentar grande informação, mas diz muito sobre a próxima época. Estes duos arrancam todos ao mesmo nível. Os mais talentosos têm muito que provar especialmente se conseguem jogar juntos, e os que se mantém imutáveis têm de dar o salto de uma vez para atacar o título com certezas.
A nova moda que falamos é a de juntar estrelas por contratos e/ou trocas. A liga é cada vez mais “gerida” pelas estrelas e, por isso, é normal que as equipas tentem agarrar esses astros para chegar ao sucesso.
O passado mostra que, regra geral, as equipas sem os melhores jogadores não chegam ao título e a continuidade não tem resultado. Os Warriors são a exceção a isto e, ainda assim, assinaram com Kevin Durant no meio da dinastia. E esta moda é tão forte que quem não toma esse caminho, casos dos Blazers e os Nuggets, é porque acredita piamente que a continuidade é a receita para o sucesso.
A nova época dir-nos-á qual das ideias é a melhor e quais das equipas garantiram uma boa combinação em cada caminho.
A nossa aposta é que na fase regular as equipas de continuidade irão dominar, mas nos playoffs as estrelas irão sobressair (com exceção dos Nets, pelas razões acima referidas). No Oeste, o caso é mais gritante por haver mais equipas com qualidade como os Nuggets, os Jazz e os Trail Blazers, a lutar por um domínio (claro ou parcial) na fase regular. Já nos playoffs aparecerão como dominadores os Lakers e os Clippers, contando que não existam restrições nas estrelas, seja pela questão física, seja por questões de entrosamento.
A moda é nova e antiga ao mesmo tempo. Juntar os melhores jogadores na mesma equipa sempre foi uma estratégia que deu frutos. Kobe e Shaq nos Lakers, LeBron, Wade e Bosh em Miami, Durant nos Warriors, etc. são exemplos disso. Agora, quatro equipas fizeram all-in e apenas uma delas pode ser campeã por ano, isto sem falar nas que mantêm o core do ano passado. Quem ganha é o espetador, que poder ver seis ou sete equipas a lutar pelo título com batalhas épicas quando chegarem os playoffs.
Eles que venham e que ganhe o melhor, com ou sem continuidade.