Luka Magic e Dame Time, ou como a NBA é das estrelas
A NBA é uma Liga dominada por super-estrelas. A maioria das equipas lendárias tinham uma destas estrelas e se sempre foi raro vencer um título sem uma destas estrelas, hoje diria que é impossível. As equipas favoritas destes playoffs que já se jogam têm todas pelo menos um destes jogadores. Os Lakers têm LeBron James, os Nets têm Kevin Durant (por exemplo), os Bucks têm Giannis, os 76ers Embiid.
Mas na verdade até os não favoritos têm super-estrelas. O título deste artigo indica as duas que serão também estrelas deste artigo: Luka e Dame. 2 point guards na conferência oeste e fora de uma equipa com argumentos para ganhar o troféu.
Luka Doncic – a definição de MVP
Vamos por partes e começamos pelo esloveno dos Dallas Mavericks. Luka Doncic entrou na Liga com muita desconfiança por parte de jornalistas e adeptos. Um craque na Euroleague que parecia não ter o físico para aguentar a NBA. Quem pensava isso não podia estar mais enganado. Desde que chegou aos EUA, Luka mostrou uma qualidade imensa e um controlo exímio do jogo.
Depois de na época passada ter caído aos pés dos LA Clippers, este ano trouxe novo confronto entre as duas equipas. Muita gente esperava um passeio para a equipa de LA que precisa urgentemente de vencer um título. Luka não fazia parte dessa “muita gente” e começou a carregar uma equipa às costas.
Em 4 dos 5 jogos já realizados nesta série, Luka leva uma média de 39 pontos (deixo o jogo 4 “de fora” já que Doncic se encontrava com problemas físicos). Está a ser, de longe, o melhor jogador da série e a criar problemas inacabáveis aos Clippers. E é fácil perceber porquê.
Luka é talvez o base mais completo da NBA. Pode lançar de qualquer lado, de qualquer maneira e em qualquer altura (ver vídeo abaixo). Com ou sem marcação, não importa. Assiste os colegas para lançamentos abertos de forma natural e fluída. Ataca bem o cesto e reage bem a qualquer double team.
Aqui entramos no ponto fulcral de Luka e que faz dele possivelmente a principal figura da NBA nos próximos anos: o esloveno decide sempre bem! É inacreditável como o consegue fazer, mas o QI basquetebolístico que, aos 22 anos, apresenta. Passa quando tem de passar, lança quando tem de lançar, controlo perfeito do relógio. Inacreditável.
Há incontáveis estatísticas desta série de playoffs de Doncic que poderia destacar para mostrar a sua qualidade, mas nenhuma melhor do que a levou que escrevesse este artigo. No jogo 5 que colocou os Mavs a vencer a série por 3-2, a equipa de Dallas concretizou 37 lançamentos. Luka marcou ou assistiu 31 desses 37. Quase 84% dos lançamentos da equipa tiveram a sua interferência direta. Esta é a percentagem mais alta da história dos playoffs e é, para mim, a definição de MVP. Luka é o jogador mais valioso para uma equipa da NBA, sem ele a equipa não mexe. Esta dependência pode ser prejudicial à equipa e só não o é porque Luka decide sempre bem.
in what might be one of the more absurd statistical individual playoff performances in a while, Luka Doncic just scored or assisted 31 of Dallas’ 37 total field goals made in a 105-100 win.
here they are, in order from start-to-finish: pic.twitter.com/7Y9kmhi2fM
— Rob Perez (@WorldWideWob) June 3, 2021
Dame Lillard e o desespero de perder
Os Portland Trail Blazers têm aquele que é o jogador mais clutch da NBA. Ou seja, o melhor jogador para ter em momentos decisivos do jogo. Damian Lillard quando é preciso marcar para ganhar ou jogo ou, pelo menos, não o perder, arranja sempre forma de o fazer. O problema é mesmo a falta de ajuda para, pelo menos, chegar a esse lançamento final com possibilidade de vencer a partida.
Esta tem sido a história da série nos playoffs contra os Denver Nuggets, ainda mais espelhada no jogo 5. Este jogo foi de loucos: 2 prolongamentos, Lillard com 55 pontos, 10 assistências, 7 ressaltos e vitória para os Denver Nuggets. Sim, uma das partidas da carreira de Dame terminou com a equipa de Denver a fazer o 3-2 na série.
E esses 55 foram numa eficácia impressionante, mais de 70% de acerto nos lançamentos, 12 em 17 de triplo, Lillard acertava praticamente tudo. Para perceberem o quão dominador e absurdo o jogo do base foi, vejam abaixo a reação de Austin Rivers dos Nuggests quando Dame falha um triplo no segundo prolongamento.
Ao contrário do que parece estar a acontecer com Doncic, o peso da equipa parece ser demasiado pesado para Lillard. Enquanto Dallas vence a série por 3-2, Portland vai perdendo também por 3-2. Enquanto um jogo 5 perfeito deu a Doncic a vitória, Lillard perdeu o seu jogo 5 numa exibição não menos perfeita.
Menções honrosas que perdem e que ganham
Para além de Luka e Lillard, há outras duas estrelas que não podemos deixar de mencionar. Uma delas perdeu a sua série e a outra venceu a sua. Começemos pelo vencedor.
Trae Young dos Atlanta Hawks. O base dos Atlanta entrou na Liga com rótulo de craque e não tem desiludido. Está a levar a equipa dos Hawks a altos voos (sim, foi propositado) que passam já por vencer os Knicks por 4-1 e seguir em frente nos playoffs. Mais de 30 pontos em 3 dos 5 jogos, uma influência e conforto crescentes na série e um domínio convincente de todo o jogo. Era um teste que faltava a Young, ver como reagia à pressão dos playoffs e a resposta está à vista, venham os próximos.
Do outro lado temos Jayson Tatum dos Boston Celtics. O desafio dos Celtics era complicado, lesões em alguns jogadores e enfrente uma equipa com 3 estrelas da NBA. Tatum nunca atirou a toalha ao chão e, quase sozinho, conseguiu mesmo vencer um jogo a estes Nets fazendo 50 pontos. Não foi suficiente para seguir em frente ou dar mais luta e os Celtics começaram já a fazer mudanças na sua estrutura. Uma coisa parece ser (ou pelo menos devia ser) certa: Tatum é a estrela da equipa e é com ele que os Celtics podem voltar a sonhar com títulos.