História das mudanças de cidade das franquias norte americanas
Aqueles que vivem em uma cidade ou Estado que tem um time jogando irão apoiar aquela equipe, ao menos na esmagadora maioria dos casos. Claro que não existe uma lei proibindo que alguém de Nova Iorque possa torcer para o Boston Red Sox, por exemplo, mas é um fato isolado e raro. Então, quando o dono de uma franquia ameaça levá-la para outra cidade, isso afeta não somente os negócios da liga, como também toda uma torcida que pode ficar órfã de time tão rápido como da noite para o dia, literalmente.
Esse é o maior choque para aquele que começa a acompanhar os esportes americanos, pois entender que aquela equipe que hoje é o Seattle Supersonics e amanhã passar a ser o Oklahoma City Thunder é algo que não entra tão fácil assim na cabeça de quem não está acostumado com esse modelo de negócios dentro do esporte. Não faz parte da cultura esportiva do futebol, apesar de haver casos de mudança, geralmente são raros e entre equipes de pouca expressão. Você não vai ver um Real Madrid, FC Porto ou Flamengo mudando de cidades. Então é válido compreender como funcionam as polêmicas mudanças das franquias.
Motivação
A grande motivação é uma só: estádios (ou quadras no caso da NBA e NHL). Esse é – e em 99% dos casos o único – motivo que leva um dono de uma franquia a fazer de tudo o que está a seu alcance para desesperadamente tirá-la de uma cidade e iniciar uma nova história em outra. Isso porque os estádios são a grande fonte de receita para os donos, já que tudo o que é arrecadado nele ou através dele vai diretamente para os cofres das franquias.
Por isso, a cada ano é comum no final de temporada lemos tantas notícias falando a respeito das ameaças de mudança caso não saia um estádio novo (ou reforma do atual). Na NBA, os Kings quase saíram de Sacramento em 2015 não fosse a construção de um novo ginásio na cidade, os Warriors, apesar de não mudarem o nome, agora jogam numa novíssima arena em São Francisco e não mais em Golden State. Essa é a grande carta na manga dos donos quando querem um novo estádio para aumentar sua receita e fazer seu negócio ser ainda mais lucrativo.
Como fica a Cidade “abandonada”
Logo de cara a cidade fica com um enorme elefante branco – um estádio gigantesco que custou milhões aos cofres públicos sem qualquer uso ou sendo utilizado esporadicamente, de maneira que só dá prejuízo. Quando a cidade que perde um time é uma cidade tradicional, esta consegue criar ou atrair outras franquias. Por exemplo, quando, na NFL, os Colts saíram de Baltimore e foram para Indianapólis, a cidade de Baltimore tirou os Browns de Cleveland. Esse caso dos Cleveland Browns é bem interessante, pois o Baltimore não pode levar o nome Browns para a franquia na sua cidade, pois o nome é considerado patrimônio da cidade de Cleveland. Assim surgiu o Baltimore Ravens e um novo Cleveland Browns em Ohio.
Além disso, centenas de pessoas que trabalhavam em função dos jogos ficam desempregados.
Mas acredito mesmo que quem sofra mais é o torcedor “órfão”. Sem querer exagerar, mas o torcedor apaixonado sofre tanto quanto àqueles que perdem o emprego com a mudança da franquia que deixa a cidade. Tente imaginar a seguinte situação: O Benfica passa a ser de um empresário e este recebe uma proposta para ser o dono do Stade de France, digamos que hoje mais moderno que o Estádio da Luz, abandona a cidade de Lisboa, passa a ter sede em Paris e a mandar seus jogos na capital francesa. É apenas um exemplo impossível na nossa realidade, mas imagine isso acontecendo com seu time de futebol, especialmente se ele tem sede na cidade em que você mora. Assustador, certo?
Conclusão
Os times das ligas norte americanas têm donos (exceção do Green Bay Packers, que é de propriedade pública, mas isso é assunto pra um outro artigo) e eles visam ao lucro. Até aí tudo bem. Porém mudar de cidade é matar uma torcida inteira, é transformar seus estádios lotados e cheios de energia em saudade, é deixar um ponto de interrogação na história e trazer um vazio para o peito de cada um que um dia amou aquele time. Assim, donos de franquias, pensem duas vezes antes de pegar a estrada.
Principais mudanças de cidade:
San Diego Chargers para Los Angeles
Em San Diego desde 1961, o San Diego Chargers decidiu se mudar para Los Angeles a partir da temporada 2017/18 da NFL. Horas depois do anúncio, torcedores atearam fogo a uma montanha de camisas do clube em frente à sede da franquia.
Baltimore Colts vai para Indianapólis
Depois de várias negociações para que a cidade de Baltimore construísse um novo estádio, o dono dos Colts conseguiu fechar negócio com as autoridades de Indianapólis. Detalhe que o dono dos Colts com receio que as autoridades de Baltimore barrassem a mudança, contratou caminhões de mudança e durante a madrugada levou a franquia da cidade, pegando os torcedores e a todos de surpresa.
Atlanta Flames e Atlanta Thrashers vão para o Canadá
Criado em 1972, o Atlanta Flames se realocou em 1980, começando o Calgary Flames, no Canadá. Atlanta recebeu uma nova franquia apenas em 1999, chama Atlanta Thrashers. Esta franquia também partiu para o lado canadense, em 2011, inaugurando a segunda versão do Winnipeg Jets. Isto porque os Jets já tinham atuado entre 1979 a 1996, antes de se transformarem no Phoenix Coyotes, hoje Arizona Coyotes.
New York Giants e Brooklyn Dodgers vão para Califónia
Após anos de rivalidade, o New York Giants e o Brooklyn Dodgers se mudaram juntos para a Califórnia, dando origem ao Los Angeles Dodgers e ao San Francisco Giants. O Motivo da mudança foi a não construção de um novo estádio. Como ficaria sozinho na Califórnia os diretores do Brooklyn convenceram os donos dos Giants a transferirem a rivalidade para a costa oeste.
Charlotte Hornets vai para Nova Orleans
Com a saída dos Hornets para New Orleans, a cidade de Charlotte ganhou uma nova franquia, chamada Bobcats. No entanto, o New Orleans Hornets decidiu trocar o nome para New Orleans Pelicans. Sendo assim, Charlotte aposentou o Bobcats e voltou a ser Hornets.
Seattle Supersonics vai para Oklahoma
Uma das equipes mais queridas da NBA foi adquirida por um grupo de investidores que tinham ligações com a cidade de Oklahoma. Bennett, líder dos investidores, queria relocar o time para o Oklahoma, e foi processado pela prefeitura de Seattle por ter comprado o time sem querer mantê-lo lá. Então Bennett deu um ultimato, que mantinha o time caso uma nova arena fosse construída na região. Após tentativas de financiamento falharem, a franquia se mudou para Oklahoma, em 2008, e rebatizado de Oklahoma City Thunder. De acordo com os novos proprietários, o nome, logo e cores do SuperSonics estão disponíveis para serem utilizados por um possível time da NBA em Seattle.