Como fazer um rebuild em 17 escolhas

Rui MesquitaDezembro 22, 20205min0

Como fazer um rebuild em 17 escolhas

Rui MesquitaDezembro 22, 20205min0
Os OKC Thunder fizeram um rebuild interessante que Rui Mesquita analisa e explica os pontos fortes desta reconstrução do Oeste da NBA!

Os OKC Thunder estão oficialmente em modo rebuild. O termo é autoexplicativo: uma equipa (neste caso da NBA) desiste de tentar chegar ao título e começa a reconstruir o seu plantel com os olhos postos para o futuro. Isto é possível porque na NBA não há descidas e até há “incentivos” para quem fica em último, mas já lá iremos a esse tema do ficar no fundo das tabelas.

Há algumas formas de fazer um rebuild: trocar tudo o que se tem (jogadores e escolhas no draft) por uma estrela e construir à volta dela; contratar uma (ou mais) estrelas como free agent; escolher futuras estrelas no draft e desenvolvê-las. Os Thunder não tinham grandes peças para trocar por uma estrela por isso não podiam fazer a primeira. OKC é um mercado pequeno que não atrai grandes jogadores por isso não podiam fazer a segunda. Sobra a terceira e os Thunder apostaram forte nessa opção. Mas primeiro, porquê o rebuild?

As razões e o adiamento

Os Thunder vêm de uma era dourada, apesar da ausência títulos. Conseguiram (pelo draft) ter na equipa 3 futuros MVPs ao mesmo tempo (Kevin Durant, Russell Westbrook e James Harden). Os Thunder foram durante a última década uma das equipas mais ganhadoras (em termos de percentagem) em todos os desportos, capazes de manter uma qualidade inacreditável a nível de exibições ao longo dos anos, mas nunca chegando ao tão desejado título.

Conseguirão os Thunder construir algo parecido com isto? (Foto: Bleacher Report)

A possibilidade de um título começava a desvanecer com o início do declínio de Westbrook e a experiência falhada com Paul George (duas saídas precoces nos playoffs). Aí surgiu uma oportunidade de ouro para o GM dos Thunder, Sam Presti. Os Clippers queriam Kawhi Leonard na free agency, mas Leonard queria ter Paul George ao seu lado. Assim, a equipa de Los Angeles tentou tudo por tudo para trocar por George. Presti fez uso dessa vantagem e conseguiu as primeiras (e muitas) escolhas juntamente com Shai Gilgeous-Alexander (SGA) e Danilo Galinari.

Aqui parecia começar o rebuild dos Thunder, já com algumas e boas escolhas. Presti voltou a mexer-se e trocou a sua estrela Westbrook por Chris Paul e escolhas num futuro draft. Neste momento parecia mesmo o início da caminhada para o fim da tabela, mas os Thunder ainda tinham uma equipa too good to tank (TGTT) – Tank é a palavra usada para descrever uma equipa que quer (e se esforça para) ficar nos últimos lugares. Esta vontade contraditória ao desporto em geral de acabar em último lugar acontece porque as primeiras escolhas do draft vão para os últimos classificados (ou quem tem as suas escolhas) numa forma de equilibrar a Liga.

Os Thunder eram demasiado bons e acabaram por chegar aos playoffs e só iriam perder, por incrível que pareça, no jogo 7 da primeira ronda contra os… Rockets de Westbrook e Harden, 2 ex-jogadores dos Thunder. A época deixou boas indicações: Shai vai ser uma estrela e Chris Paul, Adams, Galinari e Schroder aumentaram o seu valor de mercado.

Nova época e Presti entra em ação

O fim da época foi o fim do adiamento do rebuild, chegava a hora. A época passada foi, a meu ver, melhor para os Thunder do que começar o rebuild e também considero que foi uma das melhores épocas de sempre dos Thunder. A equipa jogava bem, Shai evoluiu ao lado de um dos melhores point guards de sempre e Presti ficou com tudo para revolucionar o plantel.

Ao começar o mercado (de trocas e free agency) havia apenas uma certeza em OKC: Shai não é para trocar. De resto, Presti ouviu e fez propostas por toda a gente. O GM dos Thunder procurava 3 coisas: escolhas do draft, escolhas do draft e… jogadores que conseguisse depois trocar por escolhas do draft. Com isto em mente, os Thunder tornaram-se recordistas com mais trocas feitas numa pré-época. Quantas? 11. Muitos jogadores, muitas escolhas do draft. Jogadores que chegaram e foram logo trocados, jogadores que ficaram, poucos jogadores que não saíram.

Sam Presti é o obreiro deste rebuild (Foto: NewsOK)

No meio desta revolução, Presti até trocou de treinador. Um rebuild à séria que se traduziu em… 17 escolhas de primeira ronda do draft entre 2020 e 2026. Sim, o título já denunciava a conclusão, mas não a torna menos surpreendente. Cada equipa tem uma escolha de primeira ronda por ano, em 6 anos os Thunder não terão 6, mas sim 17.

Nunca uma equipa teve tantas escolhas e Presti parece estar a mudar a mentalidade que tinha no draft. Os Thunder vão parar de escolher jogadores atléticos que não lançam bem e adaptar-se a esta NBA moderna de triplos e estrelas.

As escolhas num rebuild e o futuro

Mas afinal, as escolhas resolvem tudo? Não, é preciso escolher os jogadores certos, e para isso nem é preciso ter as escolhas mais altas. Giannis Antetokounmpo e Kawhi Leonard foram escolhidos na 15ª posição e Nikola Jokic na 41ª.

A grande vantagem dos Thunder é que têm muitas oportunidades para acertar em cheio. Se conseguirem escolher uma ou duas futuras estrelas, terá valido a pena. Juntar isso a um point guard completo como será SGA, é tudo o que os Thunder procuram. Depois é voltar ao modo “win now” e lutar por títulos, mas primeiro é preciso acertar no draft.

O futuro próximo é complicado para os fãs dos Thunder, Shai tem de crescer e tudo o resto são, para já, peças para trabalharam e serem trocadas por… mais escolhas. Jogadores com Al Horford e Mike Muscala serão trocados se jogarem a bom nível, por exemplo. A equipa será fraca e terá boas escolhas no draft. Os Thunder são o novo “Process” da NBA, um verdadeiro rebuild com tudo para dar certo, agora só falta… dar mesmo certo.


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