A natação em Portugal no GPS do Fair Play
Como se distribui geograficamente a natação no território nacional? O Fair Play volta a este tema tentando dar pistas sobre eixos de actuação de forma a que a modalidade seja cada vez mais disseminada, resultando na maior competitividade da mesma
* artigo elaborado com a colaboração de Carlos Freitas, treinador de natação
Os Torneios Zonais de Juvenis, que decorreram entre 15 e 17 de Dezembro de 2017, serviram de mote para traçar o perfil etnográfico da natação portuguesa. Apesar de apenas focarmos a análise num só escalão (Juvenis), o Zonal de Juvenis é uma competição que permite tirar conclusões consistentes pelo número de nadadores que nela participa (543 na soma do Zonal Norte e Zonal Sul) e porque é uma competição com mínimos mais exigentes que uma competição regional, exigindo aos participantes um nível competitivo mais elevado.
Numa primeira parte do artigo identificaremos onde estão concentrados os praticantes e numa segunda parte analisaremos a evolução ao longo dos últimos anos.
Os clubes mais representados
Em primeiro lugar debruça-mo-nos na análise dos clubes mais representados nos Zonais e as respectivas distribuições geográficas.
Na tabela anterior definimos o top-20 de participação nos Zonais de Juvenis em 2017, que tivemos de alargar a 22 clubes, uma vez que 6 clubes empataram no 16º lugar.
O clube mais representado nos Zonais foi o Futebol Clube do Porto que, com 20 nadadores e como veremos mais à frente, sozinho teve uma representação superior a 5 associações territoriais. O Sport Algés e Dafundo foi o segundo clube mais representado e a Gesloures foi o 3º.
Das 13 associações territoriais, 10 estão representadas no top-22 de clubes, faltando apenas as Associações do Nordeste de Portugal, do Minho e do Interior Centro.
A Associação mais representada no top-22 é a Associação de Natação de Lisboa, com 27% dos clubes, seguida da Associação de Natação do Norte de Portugal, com 23%. Como já tínhamos visto neste artigo, continua a ser assertivo afirmar que 50% da natação nacional está concentrada em Lisboa e Porto. No terceiro lugar surgem com dois clubes cada uma, as Associações de Natação de Coimbra, Leiria e Centro Norte de Portugal.
As associações mais representadas
Tendo em conta o corolário anterior, alargaremos a análise a todos os clubes e a todos os nadadores que estiveram presentes nos Torneios Zonais de Juvenis e obtemos o mapa cromático do país.
Sem grande surpresa, e à semelhança de outras actividades, sejam elas desportivas, sociais ou económicas, assiste-se a uma acentuada litoralização da natação com a ANL a ser representada nos Zonais com 124 nadadores e 22 clubes e a ANNP com 119 nadadores e 16 clubes. No extremo oposto, a associação menos representada é a Associação Regional do Nordeste de Portugal, com 8 nadadores e 3 clubes.
Refira-se que a ARNN tem filiados em todos os escalões competitivos um total de 120 nadadores, ou seja, menos do que o total de nadadores da ANL que competiram nos Zonais de Juvenis!
Apesar da evidente concentração de nadadores nas associações de Lisboa e Norte de Portugal, neste parâmetro as duas maiores associações não chegam aos 50% de participação, ficando-se pelos 44,76% (22,84% para Lisboa e 21,92% para o Norte de Portugal).
A estrutura dos clubes participantes
A partir deste critério começamos a fazer uma análise comparativa à participação dos clubes nos últimos 4 anos, tentando antever a tendência futura. – se será de descentralização ou, pelo contrário, de concentração – O primeiro parâmetro avaliado é a tipificação da estrutura dos clubes participantes.
Como podemos concluir, assistimos a um aumento do número de clubes participantes nos Torneios Zonais – 97 em 2013/2014, 104 em 2014/2015, 98 em 2015/2016, 103 em 2016/2017 e 111 em 2017/2018 – mas esse aumento deve-se à participação de mais clubes com poucos nadadores. Em 2013/2014 os clubes com mais de 9 nadadores representavam 20% do total de clubes participantes e nesta época representaram 16,22%. Observa-se também que, em termos médios, os clubes não estão a aumentar a sua quota de participação nos Torneios Zonais, tendo havido uma quebra acentuada da época 2014/2015 para a época 2015/2016 no número de clubes que apuraram entre 12 a 15 nadadores para os Zonais.
A estrutura das associações participantes
Por ventura, será este o dado mais significativo sobre a tendência geográfica da natação nacional, a evolução da participação por região nos campeonatos zonais. Neste parâmetro recolhemos os seguintes dados:
Em três anos as diferenças observáveis ainda são ténues, mas nota-se uma evolução positiva das associações que surgem em representatividade logo a seguir às duas maiores.
Se considerarmos em conjunto as Associações do Centro Norte de Portugal, Coimbra, Algarve, Leiria e Santarém, notamos que passaram de uma representatividade de 32,53% (em número de nadadores) em 2013 para uma representatividade de 38% em 2017, sendo que destas 5 associações, apenas Leiria reduziu a sua expressão (em número absoluto apenas significou a redução de 1 nadador).
Destaque ainda para a ANIC que em quatro anos mais do que triplicou a sua representação em Torneios Zonais. Se em 2013 era destacadamente a associação menos representada, esta época já ultrapassou 3 associações no ranking.
Em todo o caso, urge definir estratégias para projectar a natação fora dos grandes centros urbanos de Lisboa e Porto, aumentando desta forma a competitividade inter-territorial. Se em idades mais avançadas outros factores afectam directamente este desígnio (dependente da localização dos pólos universitários do país), nos escalões mais prematuros a intervenção das organizações pode ser mais eficaz.
No périplo de entrevistas que o Fair Play vai desenvolver aos Presidentes da Associações Territoriais (começámos pelo Algarve) certamente que voltaremos a este tema, na certeza que é no desenvolvimento do interior do país que está a chave para a evolução da natação nacional. Basta tomar como exemplo que na última grande competição internacional (Europeus de Piscina Curta), Portugal esteve representado com 8 nadadores, que iniciaram as suas carreiras em 7 diferentes associações:
- Alexis Santos e João Vital na ANL;
- Diana Durães na ANNP;
- Diogo Carvalho na ANA (actual ANCNP);
- Gabriel Lopes na ANC;
- Miguel Nascimento na ANALG;
- Tamila Holub na ANM;
- Victoria Kaminskaya na ANDL.